Luís Barreira

A minha aventura como emigrante (4)!

 

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Após ter chegado ao Luxemburgo (outubro de 1990) e depois de um período “turístico” a visitar o país e os seus limítrofes, decidi voltar ao mundo do trabalho tentando encontrar um emprego em qualquer uma das atividades que já tinha exercido.

Através de um português, ao qual me liga hoje uma grande amizade e que me pediu para não divulgar parte das minhas habilitações académicas e profissionais, apresentei-me numa empresa luxemburguesa de montagens elétricas (profissão que tinha exercido em tempos) e da qual esse meu amigo era “chefe de estaleiro” (uma categoria profissional local).

Nos escritórios da empresa, o diretor luxemburguês olhou para mim e, na experiência dos meus 40 anos, “ouvi” o que ele estava a pensar: “O que é que este velho pensa que vem para aqui fazer?…”.

O diretor olhou de forma jocosa para o meu fato e gravata (traje de quem vai pedir um emprego…) e resmungou: “Amanhã às 8 horas quero-o no estaleiro de ‘fato-macaco’. Tem meia hora para almoço e sai às 5!”
E foi assim que começou a minha primeira fase profissional no Luxemburgo, a que aqui faço referência apenas para sublinhar algumas observações que fiz e que me parecem interessantes.

No dia seguinte, bem agasalhado, porque nevava abundantemente, lá me apresentei no local de trabalho e conheci os meus colegas: robustos rapazes belgas e franceses que evitaram chamar-me “grand-père”, embora entre eles o fizessem.

Cedo compreendi que o meu físico e a minha idade (habituado a trabalho administrativo…) não era suficiente para a dureza e ritmo de trabalho exigido, mas como homem habituado a desafios, continuei a ginasticar os músculos adormecidos, tentando recuperar uma forma adequada ao trabalho que tinha de fazer. Mas, tal como eu, também o meu chefe local constatou que eu estaria mais apto a trabalhos menos físicos e mais técnicos, o que veio a acontecer mais tarde.

Rapidamente cheguei a preparador de trabalho, propondo novas formas de realizar tarefas às quais era exigida rapidez de execução com base em processos antigos e morosos (sempre vigiado pelo olhar desconfiado e crítico de alguns dos meus colegas luxemburgueses do escritório, para quem aquela atividade deveria ser exercida por um autóctone…) e acabei sendo cedido a uma grande empresa alemã para a realização de quadros elétricos inteligentes (robotizados).

Apenas refiro isto porque essa experiência, acumulada a situações que já tinha vivido na empresa que me tinha cedido, deram-me algumas indicações sobre as diferenças entre nós portugueses e os outros germanófilos, em relação à atitude perante o trabalho.

Fui instalado num grande salão com vários profissionais, em que cada um dispunha de uma bancada para realizar as ligações na estrutura metálica dos quadros e um painel, onde era instalado o esquema elétrico que cada um deveria respeitar na sua execução, em tempo previamente determinado. Um engenheiro alemão controlava o trabalho, passeando-se entre todos e vigiando a execução.

O processo produtivo até não estava mal montado e eu já tinha verificado, em diferentes ocasiões, a grande preocupação com os ritmos de trabalho no Luxemburgo e a tentativa de recuperar os tempos perdidos no trabalho, através de um apertado controlo sobre os trabalhadores. No entanto, o que me aconteceu nesse atelier alemão, acabou por me permitir extrair mais conclusões!…

Um dia, ao receber o esquema elétrico do quadro que eu deveria realizar, dei conta que uma das ligações elétricas estava errada. Rapidamente, para não perder tempo com a minha esferográfica, refiz o circuito por cima do esquema que tinha vindo do gabinete de engenharia e dispus-me a realizar o meu trabalho sem demoras. O engenheiro alemão da supervisão, ao passar por mim, reparou na emenda que eu tinha feito no esquema elétrico e deu-me uma enorme descompostura em inglês, gritando-me que quem faz os planos não era eu, enquanto executor, mas sim o gabinete de engenharia. Para meu espanto mandou-me desfazer o trabalho e estive parado durante uma semana até que o esquema fosse corrigido pelo gabinete.

Conclusão a que eu cheguei após esta e outras experiências: se pudéssemos associar a organização alemã ao desenrasco português seríamos o povo mais produtivo do planeta!

Entretanto e quando voltei aos escritórios da empresa que me contratou, tive a triste surpresa de ver as portas fechadas com um enorme cadeado e um documento autografado de um Hussier de Justice, alegando que a empresa tinha feito falência!

Sem querer mentir-vos, até choraminguei e resmunguei “então agora, com esta idade… quando tinha encontrado um trabalho compatível… acontece-me isto!!…”

Perante a minha tristeza, um dos meus colegas luxemburgueses dizia-me sorridente: “deixa lá, não te preocupes, agora recebes rapidamente a tua indemnização e arranjas logo outro emprego. Isto aqui é à americana!”.
Não sabia se era à americana, à francesa ou à chinesa, o que me preocupava era ter de voltar a começar do zero!
Mas a minha vida no Luxemburgo estava destinada a colocar-me outros desafios e a vontade de os ultrapassar não me desmoralizava.

Para além de outras atividades não lucrativas em que me fui envolvendo no Luxemburgo, colaborava regularmente com vários rádios piratas de expressão portuguesa e fazia alguns comentários em português na RTL luxemburguesa, difundidos a horas matinais para atingir a população portuguesa que se dirigia para os empregos.

Essa circunstância acabou por me fazer relacionar com este meio e, pouco tempo depois, a vida decidiu abrir-me mais uma nova página neste livro em que se transformou o meu percurso de emigrante no Luxemburgo.
No próximo episódio, perdão, na próxima crónica, voltarei ao tema com mais uma história.
Até lá, um abraço.

Luis Barreira/MS

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