Luís Barreira

A minha aventura como emigrante (3)!

 

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Na última crónica sobre este tema, deixei no ar a possibilidade de algumas pessoas, emigrantes ou candidatos a isso, serem indiferentes a eventuais fenómenos de exclusão social no Luxemburgo, mesmo admitindo que isso possa prejudicar os nossos emigrantes no território, uma vez que é o país europeu com o maior salário mínimo mensal (cerca de 2.257,00 euros).

No entanto e para todos aqueles que se possam iludir com tal quantia, é preciso tomar nota de que o Luxemburgo possui um dos custos de vida mais elevados da Europa o que, associado à habitual poupança feita pelos nossos emigrantes, destinada a diferentes propósitos (nomeadamente nas remessas para Portugal), faz com que muitos deles vivam em condições deficientes. Arrendar um apartamento ou mesmo comprá-lo, através de empréstimo bancário, é bastante caro (o preço médio do metro quadrado de um apartamento em construção para venda é de 5.600 euros por mês) e, como é natural, depende dos rendimentos do comprador. Razão que tem conduzido muitos emigrantes homens a morar coletivamente em parcas condições de salubridade, em quartos disponibilizados por outros antigos emigrantes que, desta forma, obtêm um rendimento suplementar.
Circular no espaço da UE é fácil. No entanto, antes de tomar a decisão de emigrar para qualquer um destes países, é essencial obter toda a informação adequada!

Falarei agora de outra área em que me envolvi.

A dada altura da minha estadia e em conjunto com um pequeno grupo de amigos, tentámos testar a situação da integração da nossa comunidade na sociedade luxemburguesa, através do seu movimento associativo. Para isso concorreram imensas reuniões com uma multiplicidade de associações portuguesas que existiam naquele pequeno país (perto de uma centena), para avaliar o tipo de atividades que exerciam e a razão da sua existência.
Pela dimensão do Luxemburgo, era evidente que muitas delas se situavam perto umas das outras, com praticamente o mesmo tipo de atividades (bailes de convívio, sardinhadas, concursos associativos, jogos, ranchos folclóricos, etc). O motivo que os conduzia à organização associativa fundamentava-se, principalmente, na identidade regional portuguesa dos seus associados e a quantidade de organizações com objetivos semelhantes, tinha origem nalgum caciquismo de algumas das direções associativas que, não querendo abdicar da sua independência unindo-se a outras congéneres, concorriam entre si com os mesmos propósitos.

Porque verificámos uma quase nula preocupação da comunidade para com os seus direitos políticos e sociais (à exceção dos direitos sindicais, graças ao dinamismo de um sindicalista português no Luxemburgo), decidimos enfrentar um trabalho de sensibilização do movimento associativo português no Grão-Ducado para que, sem abdicarem das suas normais atividades, se interessassem pelo exercício de outras, nomeadamente: os problemas da escolaridade das nossas crianças; os direitos políticos face a Portugal e ao Grão-Ducado; a preservação da nossa cultura e língua e outros domínios particulares à condição dos nossos emigrantes.

Após um longo período de maturação e consciencialização da maior parte dos dirigentes associativos para estas novas realidades e perante uma larga maioria das associações reunidas em plenário, nas instalações graciosamente cedidas pelo Parlamento Europeu, criou-se a Confederação da Comunidade Portuguesa no Luxemburgo (CCPL), que passou a ser reconhecida como interlocutor das autoridades para a discussão das matérias respeitantes aos nossos emigrantes.

Este processo não foi simples, rápido, nem fácil.

Além das dificuldades encontradas no próprio terreno do nosso movimento associativo, com alguma natural suspeição sobre a meia dúzia de intelectuais que propunham este movimento, face a uma comunidade associativa formada essencialmente por pessoas de trabalho duro, foi-se conseguindo dissipar as dúvidas sobre o alcance desse projeto, com a cooperação de professores locais e outros respeitados elementos da comunidade, sensibilizando os dirigentes associativos que se mostravam mais resistentes à organização que lhes propúnhamos e que, de alguma forma, os fazia abdicar de alguma independência, associando-os numa estrutura coletiva de superiores interesses.

Tivemos ainda outros constrangimentos!

O facto de a nossa comunidade portuguesa ser largamente maioritária entre os estrangeiros, levantou inicialmente alguns obstáculos com outras comunidades estrangeiras, nomeadamente a italiana (depois de há largos anos estabelecida no país), que receava ser prejudicada nas suas relações com as instituições luxemburguesas, face à maior representatividade dos portugueses, no contexto geral da emigração no Luxemburgo.

Foram necessárias longas e amistosas conversas (com muitas pizzas e algumas garrafas de Chianti…) com os seus dirigentes associativos italianos, para justificarmos a necessidade de os portugueses terem uma estrutura associativa conveniente e um projeto de uma boa cooperação nos objetivos que, no essencial, eram comuns às duas comunidades, para dissolver os receios iniciais.

Mais tarde, essa cooperação produziu tais efeitos que os dirigentes associativos portugueses passaram igualmente a integrar estruturas coletivas com os italianos, como é o caso do CLAE Asbl (Comité de Liaison des Associations d’Etrangers) e a participação dos portugueses na direção de outras associações coletivas de âmbito nacional, como a ASTI (Association de Soutien aux Travailleurs Immigrés).

O curioso é que, o crescimento organizativo da comunidade portuguesa, as suas ações e a mediatização dos acontecimentos, poderá ter contribuído de alguma forma para que outras comunidades de emigrantes de diferentes nacionalidades, fossem igualmente progredindo associativamente demonstrando, no Festival das Migrações, da Cultura e da Cidadania no Luxemburgo, que se realiza anualmente, onde centenas de associações estrangeiras estão presentes, uma enorme vitalidade, bem presenciada por todas as instituições políticas que o visitam, entre as quais, o próprio Chefe de Estado, o Grão-Duque.

Na próxima semana voltarei com mais observações sobre o tema em título.

Luis Barreira/MS

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