Luís Barreira

A “marquise do Ronaldo”!…

Hoje, talvez porque o bom tempo convida a férias e a uma certa relaxação das conversas, vou falar de coisas simples, para o que me é habitual comentar.

Por tudo e por nada a expressão “linhas vermelhas” está na ordem do dia, sendo utilizada ao gosto do “cliente”, quer para identificar situações que, pela sua importância, estão no limite da aceitação ou para o mais vulgar apelo a assuntos que preenchem a curiosidade dos amantes da literatura de cordel.

Neste último caso está o badalado assunto da “marquise do Ronaldo”, que tem preenchido as primeiras páginas de alguns noticiaristas e merecido uma diversidade de críticas, nas quais eu agora me incluo, embora por diferentes motivos. Mas, finalmente, o que é que se passou com a “marquise do Ronaldo”?

marquise do Ronaldo-portugal-mileniostadium
Créditos: DR.

Este rapaz endinheirado decidiu comprar um apartamento luxuoso no último andar de um prédio de uma zona de referência lisboeta, pela módica quantia de mais de 7 milhões de euros e, na parte superior da casa, decidiu montar uma marquise que serve de ginásio ao atleta. Foi então que caiu o “Carmo e a Trindade”!…

Uma marquise no “meu” prédio? – Vociferava o arquiteto da construção!… Não tinha licença camarária! – Sublinhava um jornal dos escândalos!… Ele não pode fazer o que lhe apetece!… – Comentava-se nos cafés!

A Câmara Municipal de Lisboa (CML) enviou prontamente os fiscais camarários para analisar este “escândalo” e, ao que parece, o rapaz vai ter de retirar a marquise do descontentamento porque tocou numa “linha vermelha”, a ilegalidade da construção de uma pequena marquise que alterou (??) a altura do edifício.

Parece-me ridículo estar a gastar o meu e o vosso tempo com este assunto, mas ele ilustra centenas de outros assuntos semelhantes que, todos os dias, são escarrapachados nas páginas de certos jornais e revistas portuguesas e respetivas ‘assessorias” televisivas, prendendo a atenção dos leitores e espectadores para o dia a dia da nossa pretensa “nata” social, retirando-lhes a atenção dos casos que são verdadeiramente importantes para a nossa vida coletiva. Sobre a “marquise do Ronaldo”, pergunto: saberá a CML dizer-nos quantas marquises ilegais existem em Lisboa? É melhor nem sequer tentarem contar!…

Terá sido a “dor de cotovelo”, face aos milhões deste atleta, que motivou este interesse excecional por mais uma marquise em Lisboa? E os outros, têm tratamento de favor? Mas, sobre o mesmo assunto e das mesmas “fontes”, outra interrogação, desta vez importante, me é suscitada: como é que um apartamento que custou 7,2 milhões de euros é avaliado, pelas regras em vigor, em cerca de 950 mil euros para efeitos de pagamentos do imposto IMI? Será que Ronaldo foi enganado no preço exorbitante que pagou pelo seu apartamento ou a informação é falsa?

Esta saga da “marquise do Ronaldo”, da “arrogância da Cristina da TVI” (que dizem ser rica e “mandona”…) e de tantas outras criticadas socialites, esconde igualmente um generalizado sentimento perverso da inveja portuguesa sobre muitos dos nossos conterrâneos que atingiram algum sucesso económico no desempenho das suas atividades, tornando-se em figuras públicas cujo estatuto é permissivo à crítica aberta, às manobras de bastidores de toda a concorrência e à utilização de todo o seu tipo de dramas para alimentar a desinformação pública.  O que é curioso é que todas estas personalidades, alvo de críticas ferozes e todo o tipo de mexericos, se envaidecem e rejubilam das vantagens obtidas quando estão aplaudidos (alimentando os anseios de tantos outros candidatos à notoriedade), “esquecendo-se” do preço a pagar pela fama! É caso para dizer: “têm o que merecem”? Acho que não, se não houver motivos válidos para o dizer e que não interfiram na vida privada de cada um.

Basta ler alguns comentários das redes sociais, muitos dos quais em termos que ultrapassam em muito a linha vermelha de publicação, para nos apercebermos da leviandade de muitos dos comentários de gente que não gosta de gente. Pessoas que condenam outras sem argumentos justificados, que se escondem no anonimato para lançarem atoardas sobre quem querem atingir, que revelam uma enorme ignorância sobre os factos ou personalidades que querem comentar, mas fazem-no… porque sim!…

Esta “cultura” quase generalizada do dizer mal e do “diz que disse”, muito ampliada pela atual possibilidade que a internet permite, de toda a gente poder “postar” o que bem lhe apetece, acaba por nos dar uma caraterização da forma de pensar e de se exprimir, de uma parte considerável da nossa população que, a partir desse quadro, podemos imaginar o seu comportamento em relação a muitos aspetos da nossa sociedade e alimentar toda a panóplia de difusores da citada “literatura de cordel”.

Não pretendo aqui fazer a defesa moral de Ronaldo, Cristina ou quaisquer outros sobejamente criticados, até porque tenho algum pudor em falar da ostentação que parecem exibir e não me diz respeito opinar sobre o que fazem ao dinheiro que gastam embora, numa ótica socialmente crítica, possa considerar excessivo o que ganham.

Quero apenas salientar a atenção para certos vícios sociais que se reproduzem entre nós, que nos impedem de ver mais longe e que fazem apelo às origens mais perniciosas do nosso comportamento.

A “marquise do Ronaldo” só é assunto do meu comentário pela dimensão crítica que atingiu entre a população portuguesa, espero não ter de voltar a mais nenhum “não assunto’ porque, se o fizer, é sinal de que “algo vai mal no reino da Dinamarca”!

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