Luís Barreira

25 de Abril – Quarenta e sete anos depois!

As comemorações do 47° aniversário do 25 de Abril de 1974, mais uma vez, não deixaram de suscitar polémicas, apesar de eu ter pensado que, à medida que se aproximava o meio século deste evento nacional, as forças políticas da nossa sociedade já estariam em condições de analisar a história de Portugal aos olhos temporais do acontecimento e não através dos “óculos” ideológicos dos dias de hoje, tal como muito bem referiu o Presidente da República no seu discurso comemorativo desta data, a propósito dos episódios da história do passado português.

25 de Abril - Quarenta e sete anos depois-portugal-mileniostadium
Créditos: DR.

Se bem que eu sempre tenha estado de acordo com esta análise histórica e tenha presumido que a nossa elite política já tivesse “crescido” o suficiente para a aceitar, o facto é que tal não aconteceu (mais uma vez…) e as comemorações acabaram por ser uma manta de retalhos das atuais “politiquices” em disputa.

Para uns, o 25 de Abril é propriedade sua, arrogando-se de serem os detentores dos seus ideais. Para outros presentes nas comemorações, esta data deve ser festejada por todos, mesmo aqueles que, como eles, pouco reivindicam dos caminhos que a revolução tomou. Outros ainda se recusaram a comemorar (embora não deixassem de exibir um cravo negro…), porque as “obrigações eleitorais” do seu extremismo populista, os impedia de aceitar publicamente que a nossa atual democracia os deixasse falar livremente.

A juntar-se a tudo isto e de cravo vermelho na lapela, as massas populares, pouco interessadas com os devaneios dos grupos políticos em questão, enchiam as avenidas, recordando, a viva voz: a miséria e a fome de antigamente; a inexistente Segurança Social, pensões e subsídios, para alívio da degradante situação em que se encontravam; a guerra colonial que nos amputava as vidas e as expectativas; os sindicatos “fantoches” que controlavam as massas trabalhadoras; o elevado analfabetismo da nossa população e as dificuldades em proporcionar o ensino às nossas crianças e jovens; a fuga para a emigração, a qualquer preço do sacrifício pessoal e familiar; a censura e o medo coletivo, perante os esbirros do Estado Novo; as cadeias, a tortura e a morte, para todos os que se atrevessem a pôr em causa o regime; o atraso económico e social do país, face aos seus congéneres, como consequência da então política do “orgulhosamente sós” e a cegueira política de querer manter um império colonial contra toda a comunidade internacional e as populações autóctones desses territórios.

Foram estes últimos que compreenderam que o significado do 25 de Abril de 1974 está para além das refregas politico-ideológicas que lhe sucederam e muito mais vivo nas estrondosas manifestações do 1° de Maio que se seguiram, arrebatando todo um povo em torno da liberdade de uma democracia que se exigia.

Toda a gente sabe, leu ou ouviu, que as democracias parlamentares ocidentais, como aquela em que vivemos, são sistemas políticos imperfeitos, mas os mais perfeitos que conhecemos! É na exposição e contraste das suas contradições entre pontos e vista diferentes, que a liberdade de expressão permite, que reside a chave para a resolução dos seus defeitos e consequente evolução.

No entanto, alguns consideram, aproveitando-se dessa mesma liberdade, que a exposição dessas contradições é um sinal da falência do regime democrático e, ao invés de ajudarem a corrigi-las (se for caso disso), pugnam pelo seu fim, impondo sistemas autoritários, despojados da liberdade de crítica e calando à força toda a oposição. 

Em pleno século XXI, com a história dos povos recheada de exemplos, bons e maus, é tempo de perceber o resultado das diferentes ações políticas que assumimos!

Há uma lista quase infindável de elementos que percorrem os desejos de todos os cidadãos na perspetiva de uma democracia perfeita. Essa lista consubstancia e esmiuça fatores de natureza social, económica e política, no contexto da diversidade cultural e territorial dos seus cidadãos e da geopolítica em que se encontra inserido.

Não é fácil (e eu diria impossível…) satisfazer todas as exigências dos cidadãos, para além de que elas se alteram em função das dinâmicas da sociedade. Razão pela qual existirão sempre quem conteste, a sós ou em grupo, as atitudes dos dirigentes da sociedade, por não verem satisfeitas as suas reivindicações.

Compete aos líderes políticos, face às condições que lhes são permitidas, avaliar a cada momento as necessidades gerais do país e do seu povo, proporcionando a resolução das situações mais prementes e abrangentes, do ponto de vista das necessidades humanas, mesmo que para isso utilize ferramentas existentes noutros setores da sociedade que, pela sua natureza e/ou desenvolvimento, possam propiciar benefícios mútuos. Tal é o caso das universidades, indústrias, cultura, justiça, comércio, etc.

Se de facto a nossa democracia em 2021 tem defeitos muito visíveis desde a primeira República (1910), isso não é consequência de alguma praga que nos rogaram, porque não acredito em bruxas! As decisões ou a falta delas, por parte dos decisores políticos nacionais, estão na origem de alguns dos problemas que nos apoquentam. No entanto, nunca como hoje tivemos uma democracia tão aberta a transformações sugeridas pelos nossos representantes parlamentares e grupos de cidadãos.

Razão pela qual e não fazendo do imediatismo, nem sempre possível, a bandeira de contestação e luta à não concretização das exigências, mas um princípio de compromisso temporal razoável, é preciso ajudar a melhorar o nosso sistema democrático, como? Criticá-lo, mas não afundá-lo! 

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