Opinião

Joe Berardo. Que grande (en)comenda!

Perante o debate morno entre os candidatos às eleições europeias, mais centrados nos assuntos da política interna que lhes trazem vantagens no confronto eleitoral, do que em exporem as suas posições sobre a política europeia dos próximos anos e que a nós portugueses muito nos podem limitar, a sociedade portuguesa explodiu de indignação e entreteve-se com um novo escândalo financeiro.

Um emigrante português da África do Sul, originário da Madeira e que há uns anos se estabeleceu em Portugal com propósitos de investimentos numa diversidade de áreas financeiras, económicas e culturais, é hoje acusado de uma das maiores fraudes por todos os partidos políticos e, na sequência das suas próprias declarações públicas a uma Comissão Parlamentar, por toda a sociedade portuguesa.

De nome Joe Berardo, este “ilustre comendador” é agora sujeito a uma ação judicial colocada por três bancos (CGD, BCP e Novo Banco) de não querer pagar uma dívida de cerca de 900 milhões de euros que a banca lhe emprestou e dos quais apenas pagou 2,2 milhões entre 2012 e 2019, sendo que 300 milhões são devidos ao banco público CGD.

Para tentar recuperar o dinheiro emprestado (em condições que ainda falta apurar, mas que só confirmam a opinião de que quanto mais dinheiro deveres aos bancos mais te emprestam…), a banca tenta hipotecar as cerca de 900 peças de arte que a Fundação Berardo tem em exposição no Centro Cultural de Belém-CCB (para as quais o Estado português paga anualmente alguns milhões para ter o usufruto da exposição pública dessas obras…).

Até aqui tudo bem!…Habituados que estamos a ser vítimas das tropelias financeiras de grandes figuras públicas e a pagar os prejuízos causados por estes senhores acima de qualquer suspeita (…), desta vez havia a caução das obras de arte para compensar as suas dívidas. Mas vai ser assim?…

O irreverente Joe Berardo, interrogado pela Comissão Parlamentar sobre como pensa ou pensou pagar as dívidas de que é acusado respondeu, num jocoso sorriso digno do Joker de um qualquer Batman e em tom desafiador, “eu, pessoalmente, não tenho dívidas”!

Esta resposta bombástica e provocadora, que fez estremecer os deputados, sugeriu de imediato outra interrogação: “Então e as obras de arte do CCB não são suas?”. A resposta foi simples “Não. Pertencem à Coleção Berardo, sua proprietária e da qual sou apenas o presidente do Conselho de Administração”!

No meio desta trapalhada jurídica que se ia desenrolando e perante a observação incrédula dos nossos cidadãos, já a imaginar (por experiências anteriores…) que, “quando o mar bate na rocha…”, surge uma nova revelação. Em Abril de 2016, o Joe Berardo convoca uma Assembleia Geral da Associação Colecção Berardo, onde os bancos detinham uma posição privilegiada, mas que não compareceram (sem que ninguém saiba porquê…) e procede a uma alteração dos seus estatutos, destinada a impedir que as obras de arte sejam vendidas!

Não sei se deva rir, se chorar! Rir da nossa ingenuidade face a este tipo de “chico-espertos” e chorar de raiva pela permissividade da nossa sociedade em agraciar com comendas tal tipo de abutres!

Talvez por se sentirem incapazes de contornar o imbróglio jurídico em que se deixaram envolver, para recuperar o dinheiro em dívida do “ilustre comendador”, todos os responsáveis políticos só falam agora em retirar-lhe as comendas.

Então e quem lhe concedeu os empréstimos milionários, sem as garantias necessárias, não sofre consequências? 

Além de Armando Vara (antigo administrador da CGD e atualmente preso) não são chamados à “pedra” os outros “comendadores” do banco público que tiveram responsabilidades em empréstimos ruinosos? E os outros “ilustres comendadores” que continuam a dever milhões ao banco do Estado?

Será que os portadores de graus honoríficos estão destinados a defraudar as finanças públicas, ou isto não passa de uma infeliz coincidência (que se repete ciclicamente…)?

Perante isto, quase que me sinto envergonhado por um dia ter merecido tal distinção!

Redes Sociais - Comentários

Artigos relacionados

Back to top button

 

O Facebook/Instagram bloqueou os orgão de comunicação social no Canadá.

Quer receber a edição semanal e as newsletters editoriais no seu e-mail?

 

Mais próximo. Mais dinâmico. Mais atual.
www.mileniostadium.com
O mesmo de sempre, mas melhor!

 

SUBSCREVER