Opinião

Era uma vez em Portugal!…

Era uma vez… numa rara noite escura de junho de 2017, que sete desenvergonhados meliantes da noite, equipados com um alicate corta-arame, um saca-rolhas (comprado numa feira de nuestros hermanos) e dois carrinhos de mão, decidiram assaltar o “cofre-forte” (paiol) onde estava depositado o armamento do “reino”.

A coisa era fácil e permitia ganhar uns “cobres”, destinados a pagar umas dívidas antigas e ganhar ainda mais umas “coroas”, com a venda das sobras a uns vizinhos “etarras”!

O dito paiol, cercado de capim, com as lâmpadas fundidas, câmaras de vigilância cegas e arame esburacado, era apenas vigiado, de vez em quando (ou de quando em vez), por umas rondas de militares do “reino” de Tanços (perdão…Tancos) que, nessa noite do crime, apenas viram duas cabras a pastar!

Obra feita e “limpinha”, transportaram a mercadoria para um lugar seguro que, neste caso, era a antiga morada da avó de um deles, o que, face à idade da senhora, não levantaria suspeitas a ninguém. No entanto, um dos meliantes, já com algumas medalhas de mau comportamento na lapela criminosa, decidiu “abrir-se” à Polícia Judiciária Militar (PJM), com a condição de lhe ser perdoada a sua colaboração naquela “brincadeira”!

Foi então que a garbosa PJM viu o “furo” que lhe permitia “limpar-se” do facto de nunca ter recuperado as armas e os autores de dois assaltos a quartéis do exército do “reino”, verificados nos últimos anos.

Vai daí, iniciaram a sua investigação ao assalto de Tancos, acompanhados por uns “amigos” da GNR de Loulé e, com um plano digno de um Houdini, recuperaram quase todo o material “roubado”, apressando-se a comunicar o feito a todos os “papagaios do reino”, para “honra e glória” da instituição a que pertenciam.

No entanto, e apesar da satisfação geral, outras “cortes do reino”, já condecoradas com medalhas de bom comportamento por terem metido um primeiro-ministro na prisão, não quiseram hipotecar os seus créditos e apresentaram as suas queixas contra a PJM, argumentando que a investigação não pertencia à PJM, porque não tinha sido autorizada para isso, mas sim à Polícia Judiciária (PJ) civil. Em consequência e pela investigação desta última, veio a revelar-se que a descoberta das armas encontradas nos arrabaldes de Tancos tinha sido encenada pela PJM, que se ocupou inclusive do seu transporte para o local e de toda a teatral argumentação.

No meio da confusão gerada (e porque já toda a gente sabe do desenrolar dos acontecimentos e das “picadas” entre estas duas polícias, ditas judiciárias), sobressaem agora as acusações do Ministério Público (MP) contra algumas das chefias militares que, supostamente, sabiam do “roubo das armas achadas”, inculpando o próprio antigo ministro da Defesa do “reino” que, na altura do acontecimento, chegou apalermadamente a declarar que “talvez” as armas não tivessem sido roubadas e tudo se devesse a um erro do balanço contabilístico!?… Além disso, ainda incluíram no rol das acusações a pessoa desconhecida, um “papagaio-mor do reino”, que alguns “periquitos”, sequiosos de uma promoção a papagaios ou de acrescentarem mais alguma perversidade, quiseram identificar como sendo o Presidente da República.

Nesta guerra entre polícias e o direito ao exercício das suas funções, recontada aqui de forma brejeira, ressaltam-me algumas conclusões prévias e interrogações.

– O material de guerra roubado foi recuperado, ponto!

– Os autores do crime de roubo foram identificados, ponto!

– Os militares da PJM, os restantes militares envolvidos na encenação da descoberta do material e as respetivas chefias, que porventura conheciam esta astúcia da PJM, não roubaram nada, ponto!

– E, o seu presumível envolvimento e encobrimento, tem origem na tentativa de dignificar a instituição militar a que pertencem, no quadro da vontade independentista que ainda prevalece nesta corporação, reconhecendo-se que o castigo a aplicar, pela clara desobediência à lei vigente, não deve designá-los como perigosos malfeitores, ponto!

Quanto às dúvidas, elas são algumas e perigosas.

Sabe-se que os processos judiciais em Portugal são demorados, nomeadamente quando envolvem crimes financeiros complexos. Mas, neste caso, quando toda a história, factos, confissões e perícias são conhecidos há imenso tempo, poucos compreendem que agora, mais de dois anos depois e a poucos dias das eleições legislativas portuguesas, o MP tenha divulgado as acusações de compadrio com a PJM, contra um antigo ministro do atual governo e, quiçá, ocasionado dúvidas sobre o papel do próprio Presidente da República em toda esta história.

A atual campanha eleitoral transformou-se assim, para os partidos políticos mais ávidos de superarem os fracos resultados das sondagens, num ataque ao primeiro-ministro com “luvas de pelica” (porque não há provas) e sorrisos insolentes (para o desacreditarem): “Ou ele sabia do processo e está envolvido, ou não sabia e não tem mão nos seus ministros”!

Como já estamos habituados, no final desta saga e mesmo que o MP ilibe António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa de qualquer envolvimento no caso de Tancos, a dúvida lançada pelos seus autores, que reconhecem o impacto deste tipo de declarações, embora jurem (a pés juntos…) serem contra os julgamentos populares, permanecerá nalguma opinião pública e, provavelmente, nalguns efémeros votos.

O futuro o dirá… nas eleições!

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