Daniel Bastos

O fotógrafo dos emigrantes portugueses em Hendaia nos anos 60

Gabriel Martinez

Na história da emigração lusa para França nos anos 60, época em que a miséria rural e a ausência de liberdade, num país amordaçado pela ditadura, impeliram a saída legal ou clandestina de mais de um milhão de portugueses, a cidade de Hendaia, na fronteira franco-espanhola, ocupa um dos capítulos mais simbólicos dessa gesta.

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Emigrantes portugueses na estação de Hendaia. Crédito: Gabriel Martinez (1969)

Estima-se que cerca de um em cada dois emigrantes cruzou nesse período a fronteira a “salto”, ou como se dizia então com “passaporte de coelho”, isto é, sem passaporte, através de uma viagem clandestina, na maioria da vezes feita ao cair da noite. A arriscada jornada por montanhas, rios e veredas, feita com o apoio dos chamados “passadores”, não raras vezes marcada por episódios trágicos, foi feita por centenas de milhares de portugueses, que após atravessarem os Pirenéus alcançavam a cidade fronteiriça francesa de Hendaia, onde compravam o almejado bilhete de comboio para a Gare de Austerlitz, cais de desembarque da emigração portuguesa em Paris.

Este momento simbólico de espera no cais da estação de Hendaia, onde milhares de emigrantes portugueses extenuados aguardaram ansiosamente o embarque para a viagem que os levou rumo a uma vida melhor, foi profusamente captado no final da década de 1960 pelo fotógrafo francês Gabriel Martinez.

Apaixonado por pintura e desenho, Gabriel Martinez, que tinha assumido a loja de fotografia do pai em Saint-Jean-de-Luz, comuna francesa na região administrativa da Nova Aquitânia, no departamento dos Pirenéus Atlânticos, retratou singularmente, nas palavras do mesmo, “um drama humano, um grande drama humano, famílias inteiras com a casa às costas”.

Nas fotografias a preto e branco, captadas há mais de meio século, o artista oriundo da costa basca captou numa sala de espera e no cais da estação de Hendaia, homens, mulheres e crianças a dormirem em bancos, braços cruzados em cima de sacos, e muitas malas espalhadas pelo chão ou em cima de mesas, carregadas de sonhos e esperança.

Em 2008, com o apoio de Manuel Dias Vaz, presidente da Rede da Aquitânia para a História e Memória da Imigração, Gabriel Martinez publicou este valioso repositório ilustrado dos emigrantes portugueses em trânsito para Paris no livro “Sala de Espera”, da editora francesa Atlantica, ano em que as imagens foram também adquiridas pelo Museu da Aquitânia, que tem promovido ao longo dos últimos anos várias exposições itinerantes sobre esta etapa marcante da emigração portuguesa para França.

Daniel Bastos/MS

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