Opinião

BREXIT – A (des) ORDER !…(des) ORDER!…

Para além das imagens coloridas dos soldadinhos de chumbo britânicos que faziam as delícias da minha infância, confesso que, com o crescimento e no contexto das velhas relações entre Portugal e o Reino Unido e no que essa “Santa” Aliança nos uniu e desuniu, o carácter desse povo ilhéu sempre se me afigurou mercantilista e naturalmente despojado de compromissos para com países terceiros, que não se enquadrassem nas suas próprias vantagens.

Claro que, está ainda bem patente o esforço e o sacrifício desse povo, durante o último conflito mundial e a paz que o seu envolvimento trouxe a todos nós. No entanto, ao rever a história do seu comportamento, encontramos não raras vezes os sintomas de um povo obcecado pelo poder da sua independência, conquista e altivez face aos outros o que, não sendo necessariamente um pecado mortal, foi quase sempre o eixo da sua estratégia política de condução da rentabilidade dos seus negócios e muito menos exercido por qualquer imperativo moral.

Por isso, e sem querer ser demasiado agressivo para com os nossos friends, sou obrigado a considerar que, à luz dos seus objetivos, quase sempre atuaram com uma boa capacidade negocial, mas exibindo uma imagem de supremacia anglo-saxónica que detesto.

A pensar assim e tendo em consideração a vaga de populismos que tem atravessado a Europa e não só, não me foi difícil compreender a atitude maioritária do povo britânico quando decidiu adotar o Brexit.
Diziam (e dizem) os seus eurocéticos que pagavam muito dinheiro para a União Europeia e, ainda por cima, eram obrigados a aceitar as suas ordens!

Claro que, perante a surpresa da maioria dos políticos britânicos quanto ao resultado do referendo e a alienação dos argumentos populistas (muitas vezes associados a uma certa segregação social), poucos tiveram a coragem e a determinação de desmontar a falsa propaganda dos “custos e receitas” que seriam envolvidos com a decisão de sair da UE. O que a grande maioria dos deputados conservadores (e não só…) desejariam, respeitando a vontade expressa em referendo pelo seu povo, era que o Reino Unido se mantivesse na Europa com “um pé dentro e outro fora”. Dentro, explorando as vantagens do mercado europeu e fora, não pagando para a União Europeia, nem aceitando as suas regras!

Sendo impossível a aceitação destes propósitos pela União Europeia e pese embora a “mãozinha” prometida por Trump, no sentido de enfraquecer a União Europeia e conduzir a bom termo o seu negócio NATO (pagamento da sua defesa da Europa), o parlamento britânico tem vindo a envolver-se em sucessivas polémicas políticas, envolvendo indiscriminadamente parlamentares trabalhistas, conservadores, unionistas e outros, para além dos próprios ministros do governo de Theresa May.

Um observador externo à comunidade política britânica (e porque não os próprios britânicos…), tem dificuldade em fazer o atual ponto da situação. Sins, nãos, talvez ou já, mais tarde, quando, como? São as premissas de saída do Reino Unido do espaço da União Europeia (prevista para 29 de março próximo), que têm originado discussões acaloradas e não definitivas entre os parlamentares britânicos e que têm tido algum retorno, por parte da União Europeia, que, entretanto, introduziu algumas facilidades no domínio da regulação de fronteiras entre as duas Irlandas, mas que, mesmo assim, não têm sido aceites por parte dos parlamentares britânicos.

Nesta convulsão de discussões permanentes entre uns e outros, para além dos interesses económicos e das convicções independentistas e sobranceiras que as modelam, joga-se igualmente a sobrevivência política dos seus interventores, nem sempre condizentes com as necessidades nacionais do Reino Unido.

O Brexit foi um erro histórico para o Reino Unido e para a Europa, prejudicando o presente e o futuro de ambas as partes e suscitando a questão da legitimidade democrática dos referendos, sem que haja antecipadamente uma verdadeira discussão popular dos seus motivos e do conteúdo e forma dos seus questionários.

De qualquer forma, o mal está feito! Compete agora aos britânicos, enquanto responsáveis pela decisão, resolver o seu problema, tendo em consideração que a União Europeia não pode (não deve…) fazer letra morta das regras que implicam todos os cidadãos europeus.

Parece (parece…) que os parlamentares britânicos se inclinam para pedir à União Europeia um período mais longo para a sua saída, explorando a possibilidade de chegarem a um acordo. No entanto, ressalva-se a capacidade de a União Europeia em não aceitar esse prolongamento do prazo, sem que da parte britânica seja apresentada uma proposta de solução para o seu próprio diferendo, para além de (se o prazo solicitado for longo) terem de realizar a eleição de novos deputados europeus, o que é uma profunda contradição para quem vai sair a seguir.

Assim, a imagem “sacrossanta” das velhas instituições britânicas, consideradas pela sua história como uma das referências dos sistemas democráticos existentes, tem corrido o risco de colapsar, arrastada pelas disputas interpartidárias, na procura das solução mais vantajosas e por, num momento particularmente grave para a “saúde do Império”, manterem a célebre “fleuma britânica” (cujos efeitos são particularmente graves para quem está na iminência de um ataque cardíaco…) e que fazem o líder da Câmara dos Comuns gritar continuamente “Order!…Order!…”num parlamento devastado por tanta desordem.

Redes Sociais - Comentários

Artigos relacionados

Back to top button

 

O Facebook/Instagram bloqueou os orgão de comunicação social no Canadá.

Quer receber a edição semanal e as newsletters editoriais no seu e-mail?

 

Mais próximo. Mais dinâmico. Mais atual.
www.mileniostadium.com
O mesmo de sempre, mas melhor!

 

SUBSCREVER