Augusto Bandeira

Será uma forma fácil de sacudir a água do capote?

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Crédito: ARTIST LUKE MARSTON

A história é horrível, mas não se pode pintar na cabeça de que se matavam as crianças a sangue-frio e que as jogavam em valas. Porque se está a responsabilizar os católicos pelas mortes? Será? Ou é a forma mais fácil de sacudir a água do capote? 

Um tema que merece muito respeito e muita calma da forma como se interpreta sem, na realidade, se saber toda a história. Eu ouvi tanto sobre este assunto e sinceramente fez-me muita confusão como é que, da noite para o dia, começam a aparecer corpos de crianças indígenas, depois de tantos anos ninguém se pronunciou sobre o assunto até que, de repente, salta da gaveta. Eu próprio fui obrigado a pesquisar um pouco sobre a história deste maravilhoso país – é um escândalo, todos sabem disso, precisa ser investigado e respondido pelo clero católico deste país, a razão é que os católicos foram cúmplices do governo num projeto educativo e colonizador desumano, que retirava a liberdade e os direitos mais básicos dos indígenas. Não podem fugir na palavra. O mal e a culpa são sempre do próximo, ninguém pode dizer que as crianças foram assassinadas, elas podem ter morrido por uma epidemia, ou por qualquer outro motivo, tipo à fome, na altura os governantes não suportavam nem ajudavam na totalidade das despesas, por isso não há necessidade de culpar ninguém por algo que não se sabe. Se os administradores da escola causaram as mortes, mesmo assim é preciso aguardar o resultado da perícia, é para isso que existem os habilitados. Será que derrubar estátuas, fazer protestos contra tudo e contra todos resolve os problemas? Não! Nem fica bem na foto o próprio país, com todo o alarmismo que se tem feito em relação a este problema. Segundo a história, inicialmente, os responsáveis pela evangelização dos indígenas eram os jesuítas, a partir do século 17 a Igreja canadiana começou a ser dominada pelos hereges jansenistas. O jansenismo era rigoroso e com muita disciplina. Se os seus seguidores defendiam que pouquíssimos católicos deveriam ser autorizados a comungar, eles exigiam um alto grau de perfeição para que o fiel se pudesse aproximar da Eucaristia. O Canadá e o clero jansenista assumiam políticas contra os jesuítas, e assim prejudicavam as suas missões junto dos indígenas. A seguir e para piorar a situação, a Igreja francesa enfrentava a crise depois da conquista, aquando da captura do Canadá pela Grã-Bretanha durante a Guerra dos Sete Anos. Isto faz parte da história deste país. Será que vamos acabar com a pouca história que o país tem?

As pessoas não se podem esquecer que os novos líderes políticos britânicos, anglicanos e protestantes, concederam liberdade religiosa aos católicos, mas ao mesmo tempo cobraram um preço alto – o Reino Unido com o poder que tinha começou a interferir na nomeação de bispos e de padres da Igreja Católica. Assim se elegeram bispos com um perfil de pouca ligação e fidelidade com Roma. Também é bom saber que não foi só por cá que tal aconteceu – na África, nos Estados Unidos, na Índia e na Austrália, lá também milhares de crianças aborígenes foram retiradas à força de suas famílias.

Era tudo ao Deus dará, sem controlo e segundo a história havia um desrespeito por parte dos políticos. Tanto que os soldados britânicos levavam índios para educação nas escolas católicas, que mal tinham contato com o Papa, bem entendido. Pode ver-se na História e percebe-se que a situação da Igreja no Canadá era muito caótica, inclusive havia disputas étnicas entre o próprio clero católico. Católicos franceses contra católicos de origem anglicana, ou seja, irlandeses. Afinal será que faz falta derrubar estátuas, fazer protestos e insultar pessoas? Não, basta ver a História e a pouco e pouco perceber que noutros tempos as coisas eram diferentes e ainda é muito cedo para tirar conclusões sobre a dimensão da responsabilidade dos católicos nas mortes. Perguntamos a nós próprios: a igreja católica tem culpa? A nossa resposta a nós próprios é, tem sim, mas onde está a parte da culpa dos governantes que vieram impor novas regras e retiraram as crianças aos seus familiares para uma educação diferente? Não vai assim há muito tempo e de certeza que ainda existe quem se lembre muito bem – depois de 1920, os índios foram obrigados, sob ameaça de prisão, a matricular os seus filhos e mais de 150 mil crianças indígenas foram tiradas das suas famílias e colocadas nessas escolas. Para muitos só hoje se veio a saber o que se passava. Onde está o pedido de desculpas por parte da rainha Isabel II, ou só serve para ser rainha de quatro países independentes – Reino Unido, Canadá, Austrália e Nova Zelândia? Onde estava ela e o que disse até hoje sobre tudo o que se tem descoberto?

Bom fim de semana. Como dizia o Fernando Pessa, “E esta, hein?…”. 

Augusto Bandeira/MS

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