Augusto Bandeira

Páscoa, que bonita tradição celebrada no Minho

Cedo se começava e ninguém se cansava, no final do dia eram muitos passos dados, para acompanhar o Compasso.

Saudades da tradição que parece um dia poder vir a acabar. Com o decorrer do tempo, a falta de jovens a frequentar a igreja para tomarem conhecimento das tradições e para darem continuidade, é um dos fatores que vai ajudar a que tudo termine. É um dos rituais mais valorizados da Páscoa em Portugal – o Compasso Pascal. Segundo consta já se realiza há mais de 500 anos. As ruas são tomadas por pequenos grupos religiosos que saem das igrejas com uma cruz e vão passando pelas casas para abençoá-las. Os fiéis que desejam receber a bênção, deixam a porta da casa aberta, preparam um tapete com pétalas de flores na entrada e quase todos preparam excelentes ofertas de petiscos. Um dos rapazes que acompanha o padre no percurso de casa em casa fica tocando um sino/campainha pelo caminho, para avisar sobre a aproximação da procissão. Conforme ele vai passando, vai parando nas portas das casas com a cruz, para que ela seja beijada pelos moradores, e faz a bênção da casa com água benta que é levada por outro rapaz que acompanha o padre.

Páscoa,  que bonita tradição-minho-mileniostadium
Créditos: DR.

No Minho além do mordomo que leva a cruz vão os ajudantes que recolhem as ofertas para o padre, que no passado eram do que se cultivava e variavam mediante as possibilidades de cada um – havia quem oferecia meio quarto de feijão ou milho, muitos ofereciam um quarto ou meia rasa, uma ou meia dúzia de ovos, um quilo de arroz ou açúcar etc. -, tudo isto era recolhido por um membro do grupo, que era nomeado pelo padre, que depois entregava às mordomas que ficavam na entrada da casa à espera com os cestos na cabeça, trajadas a rigor, com os seus trajes de domingar. Em muitas freguesias havia um grupo de Zés Pereiras a acompanhar o Compasso e, dependendo da oferta, o toque era mais ou menos forte. Depois da Páscoa o padre vendia parte porque não conseguia consumir tudo, então pedia nas mercearias para lhe venderem as coisas que tinham sido oferecidas.

Havia um despique entre casas que tinham poder económico para o fazer. Era um estoirar de foguetes, o que ajudava o resto da população a saber onde andava o Compasso. Era um domingo bonito, cheio de tudo. Era assim que as crianças sabiam e corriam para acompanhar o Compasso, porque no Domingo de Páscoa havia fartura de tudo e os petiscos eram uma forma de se poder comer algo que na maioria das casas não havia. Então os pais soltavam os miúdos para andarem atrás do Compasso. Eu recordo-me que os bolsos eram pequenos para tanta coisa que se oferecia, os tradicionais doces da Páscoa – amêndoas, rebuçados da Páscoa… como havia tanto e não se conseguia comer tudo então metia-se nos bolsos para os dias seguintes. Era uma alegria, todos se cumprimentavam com abraços, visitava-se casas de famílias e de outros. Onde havia flores a anunciar que a porta estava aberta ao Compasso entrava-se e saudavam-se os proprietários e, de seguida, ia-se à procura da mesa dos petiscos.

No Minho até havia a tradição no campo gastronómico, era guardado um cabritinho para assar no forno a lenha, assim nasceu o prato cabritinho do monte à moda do Minho. Havia “chieira”, vaidade nas decorações das mesas, o folar que os padrinhos ofereciam aos afilhados era algo de riqueza, tinham o cuidado de pintar ovos que depois iam a casa dos afilhados entregar com um “petim” cassete, os afilhados guardavam dentro da masseira e iam comendo durante dias. Que bonitas que eram as celebrações pascais, coisa que hoje não se faz e o pouco que ainda se faz, vai-se perder.

Aqui vos deixei um pouco do que era o Domingo de Páscoa no Minho, sorte que em algumas zonas ainda se mantêm algumas tradições, mas nada do que era. Já há uma parte dos novos padres que se recusam a percorrer os caminhos, como em tempos se fazia e mandam os leigos fazerem as visitas, mas os que desejam receber o Compasso em casa têm que se inscrever na igreja com antecedência, para que o pároco tenha conhecimento para onde enviar os grupos.

Espero que nunca acabem com o que nos ensinaram e que venha alguém dar continuidade, era muito mais bonito e o turismo lucrava com isso. Está provado que onde há tradições, há visitantes. As novas invenções vão levar tempo a serem bem-vindas.

Boa Páscoa a todos os leitores e mantenham as tradições que no futuro vão precisar.

milenio stadium - augusto bandeira

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