Opinião

Até quando nos conseguem calar?

Toronto foi presenteado com uma exposição fotográfica que expôs a atual conjuntura política e social de Hong Kong. Até 10 de novembro, Stand With Hong Kong mostrou-nos a realidade que não é transmitida nos meios de comunicação.

O desejo por uma democracia transparente não é de hoje. Contudo, a proteção do processo democrático tem representado um custo elevado para a população de Hong Kong. Há dois meses atrás, três estudantes líderes do Umbrella Movement foram sentenciados por assembleia ilegal. Aquela que pretendia ser uma mensagem aos restantes ativistas conduziu ao despoletar de mais protestos.

Em 2014, os 72 dias de ocupação foram denominados de Umbrella Movement e foram motivados pela decisão do Standing Comitee of the National People’s Congress que exigia a aprovação por Beijing de todos os candidatos a governo. Um País, dois Sistemas. O que para Hong Kong significava a independência política da China, para a China significava o acordo de um período de adaptação de Hong Kong ao seu sistema político.

A possibilidade de uma lei que permitisse que Hong Kong viesse a extraditar criminosos para a China intensificou a onda de protestos, já que são considerados criminosos todos aqueles que se opõem ao regime autoritário. Em abril saíram para a rua 130,000 pessoas e em julho mobilizaram-se mais de dois milhões. Uma luta que junta diferentes classes sociais e económicas, diferentes gerações e até diferentes nacionalidades. A luta faz-se nas ruas, contra o silêncio e contra o conformismo. Seja o gás lacrimogéneo, as balas de borracha, as detenções nas ruas ou nos hospitais, o uso excessivo de força por parte da polícia ou os julgamentos tendenciosos…onde a democracia não existe, nenhum lugar é seguro.

Engane-se quem acha que a população de Hong Kong está a salvo. A influência de Beijing vai muito além do que aquilo que o Ocidente vê. A maioria dos membros do conselho legislativo são apoiantes do estado autoritário da República Popular da China. Ao longo dos anos, o governo chinês recusou repetidamente o direito a Hong Kong ao sufrágio universal, o que se refletiu em protestos. Contudo, por cada protesto falhado aumenta a frustração e a nova geração ninguém a cala. Enquanto há esperança, há solução. Com os recentes protestos conseguiram que a lei de extradição fosse posta em pausa, mas ainda não a conseguiram eliminar. E a vontade pela democracia cresce ao ver que o departamento eleitoral impede a participação de vários candidatos devido ao seu ponto de vista pró-independência.

Esta onda de contestação cria um enorme desafio a um sistema político que se vê cada vez mais isolado. E porque é que a China ainda não agiu? Existem vários (possíveis) motivos, desde a condenação que iriam receber do Ocidente às questões económicas. Segundo a constituição, a China tem o direito de ativar as suas tropas a pedido de Hong Kong, o que não seria difícil de conseguir tendo em conta que a maioria dos membros do governo são pró-China. No entanto, não há necessidade de intervir porque têm um poder de coação e repressão eficaz.

O Governo de Xi Jinping considera ainda que este é mais um problema socioeconómico do que político. Hong Kong já não tem a força económica de antigamente – em 1997 representava 18% do PIB do continente, em 2018 representava apenas 2.7%. O descontentamento político foi motivado pelo aumento do custo de vida. O preço das casas triplicou na última década, mais de 250,000 pessoas esperam por residências públicas e o preço médio de uma casa é 20 vezes superior ao rendimento médio. O Governo autoritário espera conseguir resolver estas questões ou que a repressão e as constantes prisões e sentenças sirvam de exemplo, na esperança de que o movimento morra.

O governo comunista da China tem vindo a recusar todos os indícios de democracia, desde o limite temporal do governo à divisão de funções entre Partido e Governo. No entanto, Xi Jinping representa a última geração de líderes capazes de atribuir a si a legitimidade do comunismo. Ao próximo, vai faltar a capacidade de controlo para garantir a estabilidade do país. O caminho da democracia é longo e atribulado, mas o governo despótico não pode durar para sempre. E as gerações mais novas, ninguém as consegue calar.

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