Opinião

As palavras!…

Não, não vou falar de Jean-Paul Sartre e do seu livro “As palavras”, que o afirmou como filósofo do existencialismo, embora esta corrente filosófica possa ter alguma correspondência nos discursos de alguns políticos do nosso tempo.

Após as últimas eleições europeias, as máquinas partidárias portuguesas desdobraram-se em justificações para as suas derrotas e vitórias, tendencialmente viradas para si próprias e nas estratégias que lhes possam assegurar sucesso nas próximas eleições legislativas de outubro.

Para os que obtiveram agora resultados bastante satisfatórios, a próxima meta é superarem esses resultados. Para os que perderam votos na última eleição, o objetivo é recuperarem as suas perdas, aumentando a sua votação e, se possível, atingirem o líder destas eleições europeias, ou seja, o Partido Socialista.

Bem certo que as eleições europeias, pela sua temática e pelo seu elevado absentismo, não podem nem devem ser comparadas às eleições nacionais legislativas, que têm outro entendimento para a grande maioria dos portugueses. As europeias não passaram de um teste e, nas legislativas, até pode dar-se o caso de todos os partidos políticos portugueses saírem vencedores, se compararem as votações que porventura vierem a obter, com aquelas que obtiveram nas europeias. Mas, para que tal aconteça, as organizações políticas concorrentes terão de repensar a forma como fazem política.

Para os socialistas os dados estão lançados!… 

O partido do governo tem fraquejado em asneiras anedóticas, no desastre substancial de alguns serviços públicos e no cumprimento dos princípios éticos de alguns dos seus apoiantes, atribuindo-se-lhe uma falta de vigilância sobre as suas vastas responsabilidades governativas e sobre o séquito de responsáveis subordinados à sua autoridade. Situação que, em palavras, diz pretender corrigir com atos.

No entanto, os Socialistas, o Bloco de Esquerda e o PAN, que foram claros vencedores das eleições europeias, para além de outros pequenos partidos sem representação parlamentar, detetaram nas eleições europeias e um pouco por toda a Europa um eixo de vontades dos eleitores, centrados nas preocupações ambientais pelo que as suas agendas programáticas vão ser reforçadas com o tema, procurando captar mais eleitores.

Sobre o PCP, pouco ou nada há a salientar da reflexão que fizeram da sua derrota europeia. Continuam, como sempre, a atribuir esses resultados a causas externas ao seu partido (campanhas de desinformação, acusações desonestas, etc.), sem se darem conta das suas próprias insuficiências, que não conseguem ser superadas pelo seu “adotivo” Verdes, cuja colagem parece demais evidente e castradora para este último.

A atenção dos eleitores sobre “causas” que lhes parecem prioritárias justifica a sua adesão às organizações políticas que as defendem. No entanto, alguns partidos portugueses mais conservadores, como o PSD e o CDS que, com poucas palavras, teimam em considerar-se acima daquilo a que chamam “tendências efémeras”, optando por não reconhecer a mudança dos tempos e a necessidade de reformular os seus programas, refugiando-se na generalidade dos seus conceitos económicos e sociais.

Por toda a Europa, os eleitores votaram em consequência de duas causas principais, às quais se juntam as particularidades dos seus países, governos e respetivos dirigentes partidários.

A proteção do ambiente, nomeadamente para as novas gerações mais atentas ao fenómeno, tornou-se o Leit Motiv da sua apreciação eleitoral, provocando um aumento exponencial dos partidos ambientalistas. Resta saber (aqui e “lá fora”) se a aproximação ao poder não lhes “digere” a vontade dos atos, resumindo-os ao efeito das palavras!

Uma outra causa das vontades eleitorais expressas um pouco por toda essa Europa (e não só…), sem grandes repercussões no nosso retângulo, é a oposição à entrada de mais emigração no espaço europeu e a contestação à existência da própria UE. Considerado como um flagelo ameaçador para os residentes europeus (??), esta “onda” contestatária de alguns extremismos, apoiados no medo provocado pelo terrorismo islâmico, para além de se “esquecer” da baixa natalidade europeia e da necessidade de manter as nossas máquinas económicas em funcionamento e dos princípios universalistas que estão na base desta construção europeia, contém intenção manifesta, mas sem palavras ditas, de apoiar alguns poderes ocultos (…), para os quais uma Europa forte e unida é prejudicial às suas interferências geoestratégicas.

Que os ventos do futuro tragam palavras sábias!

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