Aida Batista

Pedido a Norberto Aguiar

Créditos: DR.

Esta foi a quarta deslocação que fiz a Montreal (cidade situada na província canadiana do Quebeque), tendo sido aquela em que fiquei mais dias, já que as anteriores foram sempre em modo de “escapadinha”, quase sem tempo de poder desfrutar da alma da cidade e do convívio com amigos. A Montreal de hoje, com as suas torres de arrojada arquitetura, já pouco se parece com aquela que Eça de Queirós descreveu a Ramalho Ortigão, numa carta que lhe endereçou em julho de 1873: “uma pequena cidade que se desejaria pôr numa étagère.” Penso que essa seria ainda a cidade que exercia um certo fascínio em Onésimo Teotónio Almeida e colegas, enquanto estudantes universitários nos Estados Unidos. Aí se deslocavam para passarem fins de semana em busca de uma amostra da velha Europa, rodeados que estavam de um meio essencialmente anglófono. Como recordou, o agora professor emérito, percorriam quilómetros para lá irem tomar um expresso e visitar livrarias.

Pese embora o facto de o mundo estar cada vez mais igual, não se pode negar que a cidade de Montreal tem uma identidade própria, a que ficaram rendidos todos aqueles que dela fizeram a sua segunda casa. Foi em nome deles, dos que aí aportaram na esperança de um futuro melhor que se realizou, nos dias 29 e 30 de março, o 2º Colóquio organizado pelo jornalista Norberto Aguiar, e subordinado ao título “A Comunidade Portuguesa no Quebeque – uma visão do passado, presente e futuro”, distribuído por cinco painéis temáticos. 

Créditos: DR.

Na cerimónia de encerramento, em que foram homenageadas figuras que se destacaram em diversas áreas ao serviço da comunidade portuguesa, Norberto Aguiar, o grande obreiro deste Colóquio, testemunhou a sua grande satisfação por ter conseguido reunir prestigiadas figuras do meio académico, económico, empresarial e desportivo. Não deixou, contudo, de nos alertar para a sua idade e algumas pressões familiares que vão no sentido de travar o seu ritmo de trabalho. Esta declaração mais não era do que o introito para nos prevenir de que não poderia assegurar que estes colóquios pudessem ter continuação.

Todos entendemos que, em determinadas fases das nossas vidas, qualquer um de nós se sinta tentado a ter menos obrigações para podermos dedicar mais tempo à família, em especial quando se tem uma família tão unida como é a de Norberto Aguiar. Contudo, meu caro amigo Norberto, permita-me que lhe recorde o episódio relatado pelo jornalista Sidónio Bettencourt, na mesa dedicada à Comunicação Social, que tive o gosto de moderar. 

Maria Amaral, uma sua fiel ouvinte de 86 anos, levou-lhe um dia um presente, explicando-lhe a razão da oferta: “Hoje é Dia do Pai e gostava que o Senhor Sidónio comesse com o seu cafezinho umas fofas que fiz para si”, manifestando-lhe depois o seu pesar baixinho, ao ouvido “Estou muito desgostosa do senhor ter deixado o «Atlântida»”, ao que o Sidónio lhe respondeu “Olhe e daqui a dias deixo tudo”, estando este «tudo» relacionado com a sua atividade de locutor de rádio no programa Inter-Ilhas.  “Mas porquê? – insistiu Maria Amaral. – “Porque tem que ser, faço 70 anos”. Estupefacta, não se conteve: “70 anos? Eu tenho 86 anos e faço fofas e estou na Universidade Sénior, e faço a minha vida. Não é razão.”

Apetece-me roubar a frase a Maria Amaral e dizer-lhe o mesmo, Norberto: Não é razão! 

A idade nunca será impedimento para continuar a manter vivos os sonhos que nos mobilizam, e o Norberto não é homem para viver sem sonhar. Assim mantenha toda a energia, dedicação e vontade que o caraterizam e que a sua família mais próxima tanto tem aplaudido. É aconselhável acordar alguém no meio de um pesadelo, mas nunca se deve interromper o curso de um sonho bom.

Aida Batista/MS

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