Aida Batista

Nô Sta Djunto na Korson

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Créditos: DR.

“África é isto – uma porta de calor aberta para o mundo”. Com esta frase terminei o texto anterior, no exato momento em que a porta do avião se abriu, e um abraço de ar quente me envolveu o corpo vindo do frio. Regresso a esse momento para cumprir o propósito a que me entreguei: escrever sobre esta experiência de um mês em Bissau, ao serviço da organização “Ser Mais Valia”.

Este calor, que tantos anos depois voltei a sentir, é aquele que se mede em graus, sejam eles farenheit ou centígrados, conforme a unidade de medida que cada país adota. Outro calor me esperava, e, esse, não sei como se mede – o calor humano do António Nunes (Adido Cultural) e da Paula Costa (Assessora para a Cooperação), que nos esperavam junto à entrada da sala do aeroporto, onde os tapetes rolantes passeavam já a bagagem que tardava em chegar. 

Não os conhecia pessoalmente, mas, de imediato, a forma como nos acolheram confirmou a afabilidade expressa nos e-mails trocados, bem como as informações que havia recebido. “São uns tesouros, Aida”, dissera-me a Ana Lopes. Inexcedíveis em amabilidade e simpatia, haviam já incorporado a hospitalidade africana, traduzida em pequenos gestos e brilho de satisfação no olhar, que é agora a nossa forma de sorrir, desde que esta passou a esconder-se atrás do pregueado das máscaras.

Saímos do aeroporto em direção ao centro da cidade. À medida que nos aproximamos da periferia, a paisagem humana começa a ser familiar para quem já viveu em paragens semelhantes. Os mercados a céu aberto, em que o comércio de rua disputa o colorido das frutas e legumes, organizadamente dispostos em montinhos sobre pedaços de pano; a nobreza das mulheres que caminham com elegância, no porte e no andar como se fossem modelos, de quitandas na cabeça sem precisarem das mãos para ajudar; a voz dos pregões, agora gravados, a sair dos altifalantes pousados nas bancas onde podemos encontrar os mais inusitados produtos; o trânsito desordenado em que todos se entendem, apesar do caos aparente; o código das buzinas a substituir semáforos que não existem; os táxis que, embora levem clientes, apanham outros que se dirigem para o mesmo local, otimizando os poucos recursos que cada um tem; as carrinhas “pão de forma”, que tomam o lugar dos transportes públicos, tudo isto é o cenário vivo de uma cidade que se abre ao meu olhar curioso. 

Entrados já no centro, e à semelhança de outras cidades que beneficiam de um terreno plano, percorremos um tecido urbano de avenidas largas e retilíneas, onde desembocam as transversais, mais pequenas e que há muito não conhecem uma língua de asfalto. À medida que as percorremos, o pó avermelhado levanta-se no ar e poisa sobre um casario de vivendas ajardinadas, testemunhas de um passado colonial ainda presente. As árvores de grande porte, como as palmeiras, as mangueiras e as amendoeiras protegem os caminhantes, que ora andam de um lado, ora do outro do passeio, num jogo de escondidas a fugir do sol. É sábado, e que melhor dia da semana poderia haver para chegar e auscultar o pulsar de uma cidade?

Segunda-feira foi o dia de abertura das aulas do projeto de “Reforço de Competências em Língua Portuguesa”, que nós, dois voluntários da “Ser Mais Valia”, iremos dar: o António Pereira, de manhã, e eu, à tarde. O dele dirigido a funcionários/as do Ministério da Defesa e o meu a Inspetores/as do Ministério da Educação. 

O António Pereira é um veterano nestas experiências, e eu a caloira que lhe vai no encalço, seguindo as pegadas da sua experiência. Em crioulo, diríamos: “Nô sta djunto na korson ku manga di kusas!”

Ada Batista/MS

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