Aida Batista

Caminhos de liberdade

Só desviando a rota podemos chegar ao nosso destino.

Maria Isabel Barreno

 

Já muito se tem dito e escrito sobre como os movimentos migratórios alteram o paradigma das vidas das mulheres, redefinindo-lhes novos comportamentos nos países de acolhimento. 

Se bem que exista um denominador comum que une quase todos os processos migratórios, estes ganham caraterísticas específicas em função do espaço e do tempo em que ocorrem. Por isso se considerou ser da maior importância dar a conhecer a realidade de uma região específica do Canadá – o Quebeque – onde as mulheres portuguesas e luso-canadianas desempenharam, e continuam a desempenhar, um papel primordial na construção de uma nova identidade, apesar de as suas raízes se terem mantido ligadas ao chão de origem. Esta é a razão de o título do livro ser “Mulheres Portuguesas no Quebeque – caminhos de liberdade”” porque, apesar de, o conjunto as autoras, terem dupla nacionalidade e algumas já terem nascido no Canadá, todas elas se sentirem portuguesas. Como nos diz uma delas: “Não nasci em Portugal, mas foi precisamente nessa encruzilhada que Portugal nasceu em mim”.

Capa do livro

Tradicionalmente, e por força de um domínio patriarcal, na história da imigração portuguesa as mulheres têm sido votadas ao silêncio. É, por isso, urgente resgatar do anonimato as vozes de mulheres cujas reivindicações, em busca do seu próprio lugar, passam pela relação construída, ao longo de anos, com os espaços em que estão inseridas. 

O cardeal poeta Tolentino de Mendonça, nosso contemporâneo, diz-nos que “Quem inventou o livro, inventou uma certa forma de fazer História”. Partindo desta asserção, Joaquina Pires teve ideia de fazer este livro, empenhando-se na recolha do maior número possível de histórias de vida. A capa, com uma muito feliz ilustração, foi propositadamente feita e oferecida pela artista luso-francesa Nathalie Afonso, também ela uma mulher imigrante de sucesso. A figura feminina, vestida de folhas de ácer, o símbolo do Canadá espelhado na sua bandeira, caminha sobre o mar, metáfora das travessias transatlânticas. À volta da sua cabeça, folhas espalhadas de diversas cores, que vão do verde – a força da esperança depositada em todos os começos –  ao amarelo, castanho e carmim, que representam não só o outono da natureza, mas também o outono das vidas que passaram pelo amadurecimento e envelhecimento em terra alheia.

Este livro, composto de 40 testemunhos, não retrata todo o panorama (longe disso) do universo da imigração feminina. Ficam de fora vozes que nunca chegaram a ter voz, apesar de igualmente importantes, porque não passaram do limiar do sucesso, vítimas do sonho esboroado, mesmo que tenham estado na sombra da concretização dos sonhos de terceiros. No entanto, apesar dessa falha que lhe reconhecemos, constitui um primeiro passo de uma caminhada que se pretende mais longa no estudo da imigração feminina.

Todas as histórias são narradas na primeira pessoa. Ou seja, é o relato intimista de cada uma sobre a sua experiência, como sujeito ativo da sua própria vida, com recurso à memória autobiográfica.

As narradoras são originárias de diferentes geografias (a maioria de ascendência continental e 13 açorianas ou de ascendência açoriana); de diferentes faixas etárias (as que já nasceram cá, as que chegaram ainda crianças, outras adolescentes, passando pelo grupo das que vieram adultas, casadas ou divorciadas e já com filhos); de diversa condição social (famílias de classe média já com domínio de línguas estrangeiras a par de outras com a escolaridade mínima); de diferentes níveis de escolaridade (muito poucas com formação superior, tendo a maioria iniciado ou completado aqui a sua formação académica).

Pese embora esta diversidade, todos os relatos são férteis na conclusão de que foi a vivência do processo migratório que lhes permitiu progredir do ponto de vista pessoal, académico e profissional, traduzido na liberdade das suas escolhas. 

A partir desta semana está à disposição de quem o queira ler, contatando, para o efeito, Joaquina Pires [email protected].

Aida Batista/MS

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