Opinião

A fulanização da política!

Aqui há dias um pequeno artigo num jornal português atraiu-me a atenção pela curiosidade que revelava. Dizia o jornal que, em Portugal, “Há uma originalidade portuguesa que leva a que 95 políticos tenham lugar cativo na rádio, televisão e imprensa”!

De facto, a imprensa, a rádio em geral e a televisão em particular, multiplicam-se em programas políticos, com a presença paga aos intervenientes de todo o leque partidário nacional. Se à primeira vista poderemos considerar que tais intervenções mediáticas ajudam a população portuguesa a compreender a diversidade das propostas partidárias, raros (muito raros…) são os momentos em que é feita uma síntese ou resumo das intervenções, colocando-as em contraste com o contraditório, que nem sempre é evidente nas opiniões divergentes de outros partidos, mas que deveriam fazer parte do conhecimento e atitude dos jornalistas que intervêm nas entrevistas, ou das respetivas direções jornalísticas.

Em resumo, de forma simplista e tendo em consideração que muitos desses mediáticos comentadores não têm a preocupação de descodificar o que dizem ou o que escrevem, tornando os seus discursos compreensíveis a todos os cidadãos, o que é que influencia a escolha de quem os vê, ouve ou lê?

Em primeiro lugar, o partido político do autor do discurso! Muitos portugueses reagem aos discursos dos políticos, não tanto por uma correta avaliação dos argumentos pontualmente evocados, mas por uma espécie de “clubite” a quem entregaram a sua confiança e, naturalmente, o seu voto. No entanto, isso não explica totalmente a adesão a um qualquer comentador político-partidário ou ao seu comentário, na medida em que, se ele representar uma governação bem ou malsucedida, os seus comentadores opositores serão prejudicados ou beneficiados na aceitação pelos cidadãos, pelas falhas cometidas pelos primeiros. E, nesse caso, a orientação primária, no âmbito dos sistemas político-partidários dos cidadãos pode mudar!

Mas se tivermos em consideração o habitual e elevado número de abstencionistas, nomeadamente os que decidem não votar por desinteresse pessoal pela política, por indecisão na escolha partidária ou por inconformismo para com o papel desempenhado pelos políticos, resta um vasto leque de massa votante a ser influenciada para o voto partidário, para que o sistema de alternância democrática funcione. Essa é a razão da proliferação de comentadores políticos nos nossos orgãos de informação, sobretudo na eminência de vários atos eleitorais.

No entanto, se os argumentos anteriormente descritos podem eventualmente condicionar a aceitação dos comentadores pelo público, que tipo de atitude devem adicionar aos seus discursos para obterem um resultado com mais probabilidades de conquistar a sua aceitação pelos cidadãos?

Uma das situações que mais concorrem para o reconhecimento dos comentadores é a sua visibilidade pública, setor onde as televisões jogam o papel principal. Os canais televisivos, capazes de tornar um produto comercializado, seja ele um creme para o corpo igual a tantos outros ou fazer uma celebridade de alguém oco de inteligência, são igualmente eficientes em fazer dos comentadores políticos, futuros governantes ou gente com responsabilidades públicas.

Para tornar essa visibilidade televisiva mais distintiva de uns em relação a outros, os comentadores políticos com aspirações a cargos mais elevados, para além da sua capacidade e sagacidade, são submetidos à aprendizagem de: uma linguagem gestual que infunda capacidade decisiva; a um tom de voz que projete respeitabilidade; uma indumentária adequada à encenação do estúdio; um discurso claro e centrado nos objetivos; a revelar alguma capacidade empática a quem se dirige e todo um conjunto de indicações, previamente acertados com os conselheiros de imagem, que o tornem simpático aos olhos do público televisivo.

Se tiver tudo isso em consideração e o entrevistador se limitar a perguntas, sem o submeter a um contraditório exigente, o resultado será sempre positivo para o entrevistado e para os objetivos que persegue.
Assim e em todos os sistemas político-partidários, os canais televisivos tornaram-se determinantes na eleição de muitos comentadores a cargos públicos, esvaziando e fulanizando a escolha política, acabando por substituí-la pela capacidade de encenação dos seus atores.

Nalguns casos e por mérito desses mesmos atores, o resultado foi positivo para a sociedade mas, em muitos outros, foi um autêntico desastre público!

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