
Pandemia e ameaças de apoiantes pró-Trump condicionam fortemente a cerimónia do novo presidente, que será diferente de todas as outras. O público está arredado da festa, que será mais virtual que presencial.
As cerimónias de tomada de posse dos presidentes norte-americanos são consideradas “acontecimentos de segurança especial nacional”. Assim, o departamento de Serviços Secretos dos EUA assume o comando geral das operações de segurança e tem ascendente sobre todas as outras forças. Este ano, os Serviços Secretos são apoiados pela Polícia Metropolitana de Washington DC e pela Guarda Nacional.
Ao todo, estarão já espalhados pela capital dos EUA cerca de 25 mil agentes – será o maior número de sempre numa cerimónia do género; há quatro anos, na tomada de posse de Donald Trump, o dispositivo policial no terreno era de 8 mil agentes. Este ano, com três vezes mais tropas, e a presença de blindados nas ruas, o Pentágono deu indicações específicas para que alguns dos agentes estejam fortemente armados, com a maioria dos guardas estacionados ao redor do Capitólio a empunharem rifles semiautomáticos.
Toda a zona nobre à volta do edifício do Congresso norte-americano e da residência oficial do presidente em Washington está cercada como numa zona de guerra. Há dezenas de estradas bloqueadas no centro da cidade, incluindo várias pontes que cruzam o rio Potomac, mais de uma dúzia de estações de metro também foram fechadas e demarcaram-se oito “check points” com fiscalização policial presencial.
O acesso é vigiado de perto e só os residentes, ou empresas previamente autorizadas, podem circular pela “zona verde” exterior. A “zona vermelha”, a maior, envolvida por cercas de arame farpado e blocos de betão, está já limitada apenas a veículos autorizados.
Hotéis e aviões também limitados
A Airbnb, plataforma online para marcação de alojamento, cancelou as reservas em Washington para os dias anteriores e até à cerimónia de tomada de posse presidencial, noticiou a BBC. A medida foi também adotada por várias cadeias hoteleiras locais.
Os aeroportos e as companhias de aviação também aumentaram os níveis de segurança, com muitas das principais operadoras a proibir passageiros de viajar com armas despachadas nas bagagens. Existe ainda uma lista especial de pessoas que estão proibidas de viajar de avião, onde se incluem dezenas de manifestantes pró-Trump que participaram na invasão ao Capitólio em 6 de janeiro e já foram colocados nessa lista terminante de “no fly” (proibição de voar).
A principal operadora norte-americana de caminhos-de-ferro, a Amtrak, também limitou as linhas de acesso à zona demarcada e os passageiros veem já muito mais polícia nos comboios e plataformas das estações.

Cerimónia não vai ter público
Todo o imenso relvado do National Mall, parque público que alberga monumentos emblemáticos como o Lincoln Memorial, o Monumento de Washington, e o próprio Capitólio e Casa Branca, estará vedado ao público. Não veremos, assim, os habituais aglomerados de gente e tudo será muito diferente da multidão de dois milhões de pessoas que se reuniu para ver a tomada de posse do presidente Obama em 2009. Em vez disso, haverá uma instalação simbólica de 200 mil bandeiras dos EUA a preencher boa parte daquele espaço.
O próprio edifício do Capitólio parece, estes dias, muito mais uma fortaleza do que a casa aberta da democracia, com um anel de cercas não escaláveis a envolver todo o perímetro; o mesmo cenário repete-se em redor da Casa Branca.
100 convidados de máscara e com cadeiras distanciadas
As imagens que vamos vendo do palco cerimonial, no lado oeste do Capitólio, já mostram como o evento será este ano totalmente diferente. Cerca de uma centena de cadeiras estão já espalhadas pelo pátio, de forma a garantir que os poucos convidados presenciais se mantenham socialmente distantes uns dos outros. Todos eles usarão máscaras e terão que apresentar um teste de covid-19 negativo.
Já antes do ataque ao Capitólio, o comité presidencial tinha pedido aos apoiantes de Biden que ficassem em casa – justamente para evitar que a cerimónia pública se pudesse transformar num “super evento de contaminação” do coronavírus.

Obama, Bush e Clinton presentes
Depois do juramento oficial, marcado para o meio-dia desta quarta-feira (17 horas em Portugal continental) o novo presidente Joe Biden e a vice-presidente Kamala Harris participam na tradicional cerimónia de revista das tropas, que será mais reduzida em número de efetivos.
Depois, costumava seguir-se o tradicional desfile ao longo da Pennsylvania Avenue, num trajeto de 2,5 quilómetros em direção à Casa Branca e que envolvia a proximidade do povo a saudar o novo chefe de estado.
Devido ao elevado risco de violência, mas também por causa da crise pandémica, essa parte da popular cerimónia foi anulada. Em vez disso, Biden vai deslocar-se até ao Cemitério de Arlington, o maior cemitério militar do país, para depositar coroas de flores em homenagem aos soldados caídos em combate. Biden deve ser acompanhado pelos ex-presidentes Barack Obama, George W Bush e Bill Clinton – mas não Donald Trump, que já avisou que não estará presente nas cerimónias.
Casa Branca toda desinfetada
Corrimões, portas, janelas, casas de banho, todos os utensílios e objectos de decoração e tudo entre os seis pisos e as 132 salas da Casa Branca será desinfetado antes da chegada do 46.º presidente norte-americano. Mas será necessário um esforço gigantesco para ter tudo pronto a tempo, porque existe uma condicionante: a limpeza só pode ser feita entre a saída do último membro da equipa de Trump e a chegada do novo presidente Biden e o seu staff.
Este ano, os bailes e festas tradicionais da cerimónia também foram obviamente descartados. Em vez disso haverá um espectáculo virtual, que poderemos seguir pela televisão e internet, apresentado pelo ator Tom Hanks e com a participação de várias estrelas pop como Lady Gaga, Bruce Springsteen, John Legend, os Foo Fighters, Jennifer Lopez e Justin Timberlake, entre outros.
JN/MS
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