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Testes de ADN confirmam identidade do bispo que fundou os Caminhos de Santiago

Bispo encontrou tumba do Apóstolo Santiago, discípulo de Jesus Cristo. Foto: André Rolo

Uma investigação multidisciplinar permitiu identificar através de testes de ADN os restos mortais do bispo Teodomiro, descobridor no século IX do túmulo do Apóstolo Santiago, na Galiza, e fundador dos caminhos de Santiago.

Houve um tempo em que se duvidou da própria existência do bispo de Iria Flavia – atual Padrón (Corunha), cujos ossos foram encontrados numa necróple localizada debaixo da Catedral de Santiago de Compostela.  A lápide informava que Teodomiro tinha morrido no ano de 847 depois de Cristo. A informação foi partilhada esta terça-feira pela Fundação Catedral em comunicado, dando conta das conclusões de um o estudo internacional liderado pelo arqueólogo compostelano Patxi Pérez-Ramallo.

Os primeiros estudos indicavam que os restos mortais que repousavam no túmulo eram os de um homem falecido em idade avançada. Os resultados foram porém questionados na década de 1980, após a realização de novos exames que sugeriam que correspondiam a uma mulher e, por isso, não se confirmava serem os do bispo que encontrou a tumba perdida do Apóstolo Santiago, num bosque chamado Libredón.

Teodomiro, chefe de um dos poucos bispados que funcionaram na Península Ibérica após a invasão muçulmana no início do século VIII, determinou, graças a uma revelação após três dias de meditação e jejum, que o mausoléu onde hoje se ergue a Catedral de Santiago de Compostela albergava os restos mortais do discípulo de Jesus Cristo.

O bispo chamou a atenção do rei D. Afonso II das Astúrias para o assunto, que ordenou a construção de uma igreja na zona envolvente do túmulo, dando início a uma tradição de peregrinação com o percurso conhecido hoje como o Caminho Primitivo.

Ossos encontrados numa cripta debaixo da Catedral de Santiago. Foto: Patzi Pérez-Ramallo/Europa Press

Testes de ADN

O avanço da tecnologia permitiu, mais de meio século após a localização do túmulo, através de uma investigação internacional liderada por Patxi Pérez-Ramallo, de Santiago, e que juntou elementos da Universidade Norueguesa de Ciência e Tecnologia (NTNU) em colaboração com o Instituto Max Planck de Geoantropologia e da Universidade de Estocolmo, entre outros, concluir que aqueles restos mortais correspondem a Teodomiro.

Assim, os estudos permitem aos investigadores sustentar que o túmulo contém os ossos de um único indivíduo, que terá morrido aos 45 anos ou mais no ano de 847 d.C., o que estaria de acordo com a inscrição do túmulo localizado na cripta.

Além disso, os isótopos estáveis ​​​​de oxigénio analisados ​​​​também levam os investigadores a afirmar que o indivíduo vivia perto da costa, coincidindo com a localização de Iria Flavia, Padrón, perto da foz do rio Ulla que dá forma à ria de Arousa.

O estudo arqueogenético realizado por especialistas da Universidade de Estocolmo concluiu que o perfil genético se afastava ligeiramente do dos europeus modernos e mostrava uma linha mais próxima da dos ibéricos romanos, dos visigodos do sul da Península Ibérica e das populações islâmicas ibéricas.

Dados que estão de acordo com o perfil de quem viveu no território da atual Espanha há 1200 anos e coincide com estudos anteriores que apontam para padrões migratórios como consequência da conquista muçulmana da península pelo Califado Omíada, durante o século VIII.

A Fundação Catedral reconhece as dificuldades em autenticar a identidade de uma pessoa falecida há 1200 anos, mas aceita como válidas as provas que a ligam ao bispo Teodomiro, que se tornaria “a mais antiga figura histórica identificada em Espanha e uma das mais antigas da Europa “.

JN/MS

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