Testes de ADN confirmam identidade do bispo que fundou os Caminhos de Santiago
Uma investigação multidisciplinar permitiu identificar através de testes de ADN os restos mortais do bispo Teodomiro, descobridor no século IX do túmulo do Apóstolo Santiago, na Galiza, e fundador dos caminhos de Santiago.
Houve um tempo em que se duvidou da própria existência do bispo de Iria Flavia – atual Padrón (Corunha), cujos ossos foram encontrados numa necróple localizada debaixo da Catedral de Santiago de Compostela. A lápide informava que Teodomiro tinha morrido no ano de 847 depois de Cristo. A informação foi partilhada esta terça-feira pela Fundação Catedral em comunicado, dando conta das conclusões de um o estudo internacional liderado pelo arqueólogo compostelano Patxi Pérez-Ramallo.
Os primeiros estudos indicavam que os restos mortais que repousavam no túmulo eram os de um homem falecido em idade avançada. Os resultados foram porém questionados na década de 1980, após a realização de novos exames que sugeriam que correspondiam a uma mulher e, por isso, não se confirmava serem os do bispo que encontrou a tumba perdida do Apóstolo Santiago, num bosque chamado Libredón.
Teodomiro, chefe de um dos poucos bispados que funcionaram na Península Ibérica após a invasão muçulmana no início do século VIII, determinou, graças a uma revelação após três dias de meditação e jejum, que o mausoléu onde hoje se ergue a Catedral de Santiago de Compostela albergava os restos mortais do discípulo de Jesus Cristo.
O bispo chamou a atenção do rei D. Afonso II das Astúrias para o assunto, que ordenou a construção de uma igreja na zona envolvente do túmulo, dando início a uma tradição de peregrinação com o percurso conhecido hoje como o Caminho Primitivo.
Testes de ADN
O avanço da tecnologia permitiu, mais de meio século após a localização do túmulo, através de uma investigação internacional liderada por Patxi Pérez-Ramallo, de Santiago, e que juntou elementos da Universidade Norueguesa de Ciência e Tecnologia (NTNU) em colaboração com o Instituto Max Planck de Geoantropologia e da Universidade de Estocolmo, entre outros, concluir que aqueles restos mortais correspondem a Teodomiro.
Assim, os estudos permitem aos investigadores sustentar que o túmulo contém os ossos de um único indivíduo, que terá morrido aos 45 anos ou mais no ano de 847 d.C., o que estaria de acordo com a inscrição do túmulo localizado na cripta.
Além disso, os isótopos estáveis de oxigénio analisados também levam os investigadores a afirmar que o indivíduo vivia perto da costa, coincidindo com a localização de Iria Flavia, Padrón, perto da foz do rio Ulla que dá forma à ria de Arousa.
O estudo arqueogenético realizado por especialistas da Universidade de Estocolmo concluiu que o perfil genético se afastava ligeiramente do dos europeus modernos e mostrava uma linha mais próxima da dos ibéricos romanos, dos visigodos do sul da Península Ibérica e das populações islâmicas ibéricas.
Dados que estão de acordo com o perfil de quem viveu no território da atual Espanha há 1200 anos e coincide com estudos anteriores que apontam para padrões migratórios como consequência da conquista muçulmana da península pelo Califado Omíada, durante o século VIII.
A Fundação Catedral reconhece as dificuldades em autenticar a identidade de uma pessoa falecida há 1200 anos, mas aceita como válidas as provas que a ligam ao bispo Teodomiro, que se tornaria “a mais antiga figura histórica identificada em Espanha e uma das mais antigas da Europa “.
JN/MS
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