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Rede Global da Diáspora

Here’s The Thing - entrevista

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Manuel DaCosta e Madalena Balça, durante a entrevista na Camões TV

 

Os portugueses estão espalhados por todo o mundo e hoje, mais do que nunca, têm a oportunidade de serem promotores do seu próprio país. Esta semana, Manuel DaCosta e Madalena Balça anunciam um novo projeto, a Rede Global da Diáspora, que pretende reduzir a distância e unir todos os portugueses do mundo.

Para o programa Here’s The Thing (Camões TV), estiveram à conversa com o Dr. Luís Miguel Ribeiro, presidente da Fundação da Associação Empresarial de Portugal e que nos irá explicar como este projeto inovador pode mudar o futuro de Portugal e dos portugueses, com a ajuda da diáspora.

Manuel DaCosta: Quais foram os motivos que conduziram à criação da fundação AEP?

Luís Miguel Ribeiro: É verdade que a fundação AEP tem 10 anos, mas a Associação Empresarial de Portugal tem cerca de 171 anos. A dada altura da vida desta associação, entendeu-se que seria importante criar a fundação AEP e esta nasceu com o intuito de trabalhar áreas complementares àquilo que é o dia a dia da AEP.

MDC: E o que têm feito até agora? 

LMR: Diariamente, a AEP trabalha no apoio aos seus associados, à comunidade e na interligação com o Governo de Portugal. Somos aliás representantes do Governo em diversos projetos de apoio aos empresários. Na sua atividade, a AEP tem trabalhos muito práticos, do quotidiano das empresas, algo tão simples como se um empresário precisar da emissão de um certificado de origem para enviar um produto para o Canadá, nós facilitamos isso. Além disso, providenciamos aconselhamento jurídico, consultorias especificas e o apoio a ações de internacionalização das nossas empresas.

Já a fundação AEP dedica-se a questões mais estruturais e abrangentes, como a Rede Global da Diáspora, com a criação de condições para que as empresas portuguesas tenham outras oportunidades de negócio. Também trabalhamos com os mais jovens no setor do empreendedorismo e ajuda à criação da sua própria empresa, e ainda, com o empreendedorismo sénior, ou seja, pessoas com idade mais avançada que tentam criar a sua própria oportunidade de emprego. Para estimular a inovação e o conhecimento, ligamos ainda as universidades e empresas no sistema cientifico-tecnológico.

A fundação AEP nasce para complementar aquilo que é a atividade da AEP enquanto Câmara de Comércio e Indústria, enquanto organismo que representa o Estado em alguns setores, mas que não é para o apoio diário. Existe ainda outro motivo… há uma década, entendia-se que tudo o que era a parte de património e imobiliário da AEP pudesse ficar na fundação e não na AEP.

Madalena Balça: Dez anos depois da criação da fundação reconheceram a importância da diáspora e dos portugueses espalhados pelo mundo no apoio às empresas sediadas em Portugal. Qual o motivo da demora na criação da Rede Global da Diáspora?

LMR: Nós já tínhamos identificado esta oportunidade e potencial há algum tempo, mas tivemos de esperar pelo momento em que teríamos o apoio, os instrumentos e os recursos financeiros para o podermos fazer. A AEP é o maior operador privado no apoio à internacionalização da economia portuguesa. Por ano, fazemos cerca de 52 missões empresariais. Todas as semanas estamos com os nossos empresários num país diferente. A AEP com o foco no negócio ajuda no apoio às empresas, na participação em feiras, em missões empresariais, nas conferências, entre outras coisas.

 

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Dr. Luís Miguel Ribeiro, presidente da Fundação da Associação Empresarial de Portugal. Foto: Camões TV

 

A Rede Global da Diáspora é um dos principais ativos de Portugal. Esse ativo está hoje mais valorizado do que nunca, nós temos cerca de cinco milhões de portugueses espalhados pelo mundo. E com esta Rede queremos que cada um destes portugueses seja um embaixador de Portugal no mundo e que cada um sinta que pode ajudar o seu país e que o seu país o pode ajudar. Com isto, nós pretendemos que aquilo que nos une, que é o ser português, seja um elemento que vá potenciar uma maior interação entre as pessoas, criar oportunidades para empresários portugueses que queiram estar noutros países e que portugueses que estão no mundo invistam no seu país.

MB: Como será feita a construção desta Rede Global da Diáspora?

LMR: Terá na sua base uma plataforma com o endereço www.redeglobal.pt onde as pessoas, instituições e as empresas se podem inscrever. Esta plataforma pretende ser um ponto de encontro entre pessoas e instituições que têm uma característica em comum, serem portugueses. E nesta plataforma, pretende-se que possam dialogar. Por exemplo, imaginemos uma pequena empresa de produção de azeite de Trás-os-Montes que pretende levar o seu produto a outros países, nesta plataforma tem a oportunidade de se darem a conhecer e quem está noutros países pode estar interessado nesse produto distinto. E a enorme vantagem é que tem do outro lado do mundo um português em quem tem alguma confiança, o que lhe vai diminuir o risco de negócio e que lhe abrirá novas oportunidades sem ter de enviar um comercial para encontrar um mercado, reduzindo também os seus custos.

O contrário também pode acontecer, um empresário português que esteja fora do país, mas interessado em investir em Portugal. E assim, com a interação entre indivíduos que falam a mesma língua, criam-se oportunidades de negócio.

Este projeto tem ainda uma outra parte muito interessante, através do nosso smartphone, podemos estar em qualquer parte do mundo e podemos encontrar um café, um restaurante ou uma organização de portugueses que estejam identificados nesta aplicação.

MB: Essas instituições têm de estar previamente inscritas na Rede Global?

LMR: Sim, basta registarem-se em www.redeglobal.pt e a partir daí colocarem a informação que acham relevante. Toda a participação na Rede é gratuita. Agora, se as empresas quiserem, a partir daqui, estabelecer canais de comercialização aí já se irá apresentar um custo para se inovarem, para se promoverem e para estarem na plataforma.

MDC: Por exemplo, quem estiver no Canadá e quiser fazer negócio em Portugal, depois de estabelecer contacto na Rede existe algum custo que tem de pagar?

LMR: Não, a plataforma cria o meio de se contactarem, a partir daí o negócio é feito entre as partes e nós já não nos envolvemos. Nós apenas potenciamos os contactos, a forma como fazem o negócio ou interagem já não nos diz respeito.

MB: Disse que a AEP tem a componente de apoio ao empresário, isso é válido também para empresários portugueses que estão no exterior, mas querem investir em Portugal?

LMR: Claro, uma das grandes dificuldades que as pessoas enfrentam quando querem investir em Portugal é a burocracia e a informação jurídico-legal. Por isso, temos o gabinete de Apoio ao Investidor (NINVEST) que trata de todo o processo. Através da plataforma, uma pessoa pode requerer ser contactada pelos serviços da AEP, ser-lhe-á apresentada uma proposta e depois a pessoa decide se aceita ou não.

MB: Então, esta Rede não será apenas a diáspora a apoiar a internacionalização de empresas portuguesas, mas também a ser a ajudada no investimento em Portugal e na ligação ao mundo. 

LMR: Já tive a oportunidade de participar em vários eventos empresariais e contactar com vários portugueses pelo mundo. E deparei-me com várias pessoas que gostavam de investir no seu país, mas que não sabem como nem em quê, ainda mais quando nem sempre conseguem obter informação. E foi ao percebermos esta necessidade que criámos este serviço de apoio.

Portugal precisa de captar investimento e felizmente existem muitos casos de portugueses que foram para fora e são empresários de sucesso e que hoje partilham parte da sua experiência e da sua capacidade de investimento para o país. E nós queremos ajudar, para que possa existir investimento em Portugal.

MDC: Na sua opinião, qual o motivo que, durante tantos anos, levou o Governo a ignorar este potencial de ter cinco milhões de portugueses espalhados pelo mundo?

LMR: Durante muitos anos, fomos tendo a sorte de os portugueses que imigravam trazerem o seu dinheiro e investirem em Portugal. Além disso, existiu uma evolução do perfil do emigrante que hoje tem outra rede de contactos e outro posicionamento no país onde está. Antigamente, o ser emigrante talvez não tivesse uma conotação positiva e hoje tem um estatuto diferente, as pessoas agem com orgulho assim como também dizem com mais orgulho que são portugueses.

Por isso, as condições foram mudando, assim como as necessidades e o desafio do mundo em que vivemos hoje. Os produtos portugueses que atualmente incorporam inovação, design e qualidade fizeram-nos perceber que temos a capacidade de pôr os nossos produtos a competir com qualquer outro do mundo.

Nós somos os promotores do projeto, mas a Secretaria de Estado das Comunidades, a Secretaria de Estado de Internacionalização, o Instituto Camões, e muitas outras instituições estão envolvidas nisto. Na minha opinião, o futuro de Portugal vai passar muito pela valorização da sua diáspora. E valorizar aquilo que de mais valioso Portugal tem, que são os portugueses.

MB: O que motiva a Rede Global a tentar atingir também o movimento associativo da diáspora?

LMR: Genericamente, as associações têm a grande vantagem de que quando se fala com uma associação está-se a falar com dezenas ou centenas de pessoas e assim é mais fácil fazer passar a mensagem através dessas associações. Esta plataforma será tanto melhor e mais eficaz quanto mais pessoas estiverem inscritas.

MB: O que vão fazer concretamente para alargar a Rede e partilhar a vossa mensagem?

LMR: Se não fosse o coronavírus, estaríamos aí convosco, e em muitos outros locais. Queremos divulgar o projeto e estar em contacto direto com as comunidades e mostrar a vantagem de se associarem. Como os tempos de hoje não nos permitem, é através de vias online que tentamos divulgar a mensagem. Esperamos também que cada pessoa que se inscreva leve consigo outra e vá espalhando a informação.

MB: O MDC Media Group como parceiro tem todo o interesse em vos ajudar e participar. Concretamente, o que pode anunciar?

LMR: Vamos fazer webinars para divulgar o projeto, mas assim que possível iremos apanhar o avião e iremos ter com as comunidades para divulgar e interagir. Com a situação da pandemia sempre a evoluir, estamos diariamente a redefinir a forma como poderemos chegar a mais pessoas. Neste momento, a melhor forma são os meios de comunicação portugueses espalhados pelo mundo. E, neste momento, já temos pessoas inscritas de 154 países.

É um gosto enorme sentir que Portugal está em todo o mundo e que os portugueses têm sido os grandes embaixadores do nosso país, têm sido um grande exemplo dos valores de Portugal e que sabem estar integrados nas comunidades onde estão. Para nós, é um orgulho enorme e mal tenhamos oportunidade estaremos junto das comunidades.

MDC: O plano de divulgação desta iniciativa inclui a ação das embaixadas e consulados? 

LMR: Sim claro, queremos envolver tudo o que é o corpo diplomático de Portugal, para nos darem mais recursos e nos apoiarem. Aliás, o Governo de Portugal está empenhado neste projeto. Esta é uma missão nacional, este grande ativo de portugueses pelo mundo e instituições portuguesas têm de necessariamente e obrigatoriamente de estar associados a esta causa.

MB: Qual o ponto a atingir para que considere a Rede Global da Diáspora um sucesso?

LMR: Se conseguisse concretizar o sonho de ter inscrito, na plataforma, 90% dos portugueses que estão pelo mundo era fantástico para Portugal, para os portugueses e estaríamos mais uma vez a consolidar o que é a história do país. Sempre fomos um país de conquistadores e navegadores… de pessoas que sempre deram novos mundos ao mundo. E isto é dar sequência ao que já está no nosso ADN e assim iríamos perceber que Portugal é um país muito grande, não na sua dimensão física, mas na sua presença pelo mundo. Assim, estaríamos a trazer muitas oportunidades a muita gente, a melhorar o nosso país e a aumentar o nosso orgulho.

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