Donald Trump e Kamala Harris estiveram frente-a-frente pela primeira vez no debate mais esperado da campanha presidencial nos Estados Unidos. Entre insultos e falsas informações (o republicano mentiu 33 vezes), eis um resumo das declarações dos candidatos sobre quatro assuntos-chave.
Economia
Kamala Harris prometeu uma “economia de oportunidades” com um corte fiscal para famílias jovens e para pequenas empresas, que representa benefícios de seis mil dólares e de 50 mil dólares, respetivamente.
Reconheceu dificuldades com a escassez de habitação acessível e que é necessário construir mais: prometeu trabalhar com o sector privado para construir mais três milhões de casas até ao final do mandato.
Kamala também cunhou o termo “IVA do Trump” para descrever o que serão os efeitos da taxa de 20% que o republicano quer impor a bens importados. “Isso resultaria em despesas de mais quatro mil dólares por ano” em média para as famílias, apontou a democrata.
“Trump deixou-nos o pior desemprego desde a Grande Depressão, a pior epidemia de saúde pública num século e o pior ataque à nossa democracia desde a guerra civil”, acusou. “Estivemos a limpar a porcaria deixada por Trump”, disse. “A administração Trump resultou num dos défices mais elevados da história”, apontou ainda.
Trump acusou Kamala de não ter planos económicos próprios, copiando políticas do atual presidente, Joe Biden . “Ela não tem um plano. Ela copiou o plano de Biden e resume-se a quatro frases. Quatro frases que são apenas ‘vamos tentar reduzir os impostos’. Ela não tem programa”, afirmou.
“Ela é marxista. Todos sabem que ela é marxista. O pai dela é um professor marxista de economia, e ele ensinou-a bem”, declarou o republicano. A adversária sorria e abanava a cabeça enquanto ouvia.
O ex-presidente voltou a afirmar que a inflação nos Estados Unidos é “provavelmente a pior da história” norte-americana, uma falsa alegação que a imprensa norte-americana rapidamente clarificou.
“Eu criei uma das maiores economias da história do nosso país. Eles destruíram a economia”, acrescentou Trump, prometendo que se voltar à Casa Branca irá restaurar a economia do país, mas sem referir propostas concretas.
Negou ainda qualquer ligação ao Projeto 2025, um polémico programa governamental desenvolvido por grupos ultraconservadores caso o republicano regresse à Casa Branca. “Como vocês sabem, e como ela sabe, não tenho nada a ver com o Projeto 2025. Isso está aí, eu não li. Não quero ler, propositadamente. Não vou ler”, assegurou Trump.
O Projeto 2025, promovido pela Heritage Foundation, um “think tank” de extrema-direita, propõe um roteiro para uma mudança radical na Administração norte-americana se Trump vencer as eleições, que inclui o desmantelamento de várias agências do Governo federal e a demissão de milhares de funcionários públicos para os substituir por pessoas leais a Trump.
Aborto
Trump repetiu falsamente que os democratas querem permitir abortos “tardios” no nono mês de gravidez. O candidato republicano afirmou ainda falsamente que os democratas apoiam o aborto “após o nascimento” e a “execução” de bebés.
Face às declarações do ex-presidente, a moderadora da ABC News Linsey Davis fez uma verificação de factos em tempo real, frisando que não há estados onde seja legal matar um bebé após o nascimento. De acordo com o Pew Research Center, a esmagadora maioria dos abortos nos Estados Unidos – 93% – acontece durante o primeiro trimestre da gravidez.
“Em nenhum lugar da América há uma mulher a levar uma gravidez até ao fim e a pedir um aborto. Isso não acontece e é um insulto às mulheres da América”, disse a vice-presidente Kamala Harris.
Em 2022, o Supremo Tribunal norte-americano – composto por uma maioria conservadora solidificada durante o Governo de Trump – revogou o direito constitucional à interrupção da gravidez no país. “Era isto que as pessoas queriam? Mulheres grávidas que querem levar a gravidez até ao fim, que sofrem um aborto espontâneo, a quem são negados cuidados numa sala de emergência porque os prestadores de cuidados de saúde têm medo de ir para a prisão e ela está a esvair-se em sangue num carro no parque de estacionamento?”, acrescentou.
Imigração
Trump repetiu as alegações feitas em círculos republicanos de que imigrantes ilegais estão a “comer animais de estimação” de cidadãos norte-americanos.
“Em Springfield, eles estão a comer cães. As pessoas que chegam estão a comer os gatos. Eles estão a comer os animais de estimação das pessoas que vivem lá”, acusou o ex-chefe de Estado, antes de ser recordado pelo moderador do debate de que essas alegações foram oficialmente desmentidas.
Uma autoridade do Condado de Clark, no Ohio, citada pela imprensa norte-americana, garantiu que “não há absolutamente nenhuma prova de que isso esteja a acontecer”. Ao ouvir as alegações de Trump, a candidata democrata, a vice-presidente Kamala Harris, riu e classificou Trump de “extremo”.
O magnata republicano voltou a alegar que a administração de Joe Biden e Kamala Harris permitiu que “milhões de criminosos” entrassem no país e que isso levou a que as taxas de criminalidade “em todo o mundo” caíssem.
Trump aproveitou ainda para, mais uma vez, afirmar sem provas que muitos dos migrantes que cruzam a fronteira sul vêm de países que estão a esvaziar os seus asilos e instituições mentais.
Guerras
Kamala acusou Trump de ser fraco em política externa e facilmente manipulado por líderes autoritários, “com lisonja e favores”.
“Se Donald Trump fosse presidente, Putin estaria sentado em Kiev neste momento”, atirou Harris, argumentando que o plano do republicano para resolver a invasão da Ucrânia é ceder o país à Rússia. “[Putin] vai comê-lo ao pequeno-almoço”, apontou. O republicano recusou dizer se deseja ou não uma vitória da Ucrânia contra a Rússia.
A democrata também citou declarações passadas do ex-presidente sobre a invasão da Ucrânia ser um ato “brilhante” de Vladimir Putin e mencionou as cartas trocadas com o ditador norte-coreano Kim Jong-un.
Sobre o conflito em Gaza, Harris disse que será “sempre” favorável ao direito de Israel a defender-se, mas que a guerra com o Hamas na Faixa de Gaza “tem de acabar imediatamente” e que a solução para o conflito é a de dois estados. “Ela odeia Israel. Se ela virar presidente, não acredito que Israel exista em dois anos”, disse o ex-presidente. Como esperado, a democrata negou.
Responsabilizou ainda Trump pelo mau acordo de retirada do Afeganistão, que foi negociado ainda durante a administração anterior, mas aconteceu durante a administração Joe Biden com resultados desastrosos.
JN/MS
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