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As afegãs

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Crédito: DR.

Enquanto as meninas e jovens afegãs relatavam nas redes sociais e na Tolo TV as “pequenas” atrocidades que os talibãs iam cometendo na sua invasão “pacífica” de Cabul, enquanto nas escolas as professoras queimavam fichas de inscrição para não serem detetadas, o secretário-geral da ONU, António Guterres, apelava à comunidade internacional para remover a “ameaça terrorista” do Afeganistão e aos terroristas exigia respeito pelos direitos das mulheres.

Não há retrato mais cru da impotência das Nações Unidas e dos países que integraram a coligação liderada pelos Estados Unidos que há 20 anos expulsaram os talibãs do poder, conseguindo parar a construção de um ninho de terroristas com pontes para a Europa.

O que, em primeiro lugar, é preciso reter é que a guerra de há duas décadas foi defensiva e compará-la com o que veio a suceder dois anos depois no Iraque é um exercício de hipocrisia inaceitável.

George W. Bush e depois Obama impuseram uma mudança de regime, dando sinais políticos claros de tentativa de transição democrática. Podemos, hoje, criticar os governos fantoches afegãos, que o foram, a corrupção que se serve dos terrenos férteis que são os territórios sem lei. Não podemos ignorar os esforços feitos.

E passamos ao segundo ponto. Houve, com todas as suas deficiências, efetivamente uma tentativa de reconstrução de um país que atravessou anos de trevas. O “nation building” foi mais do que a preparação de um exército de 300 mil homens, que agora escancararam as portas. Outra coisa não se esperaria e esse é um fracasso que marcará todo o Ocidente para as próximas décadas. Mas há sementes que ficaram, com as escolas, a libertação das mulheres e a sua chegada a postos fulcrais da Administração, do poder, as sementes do sonho, da liberdade e do livre-arbítrio. Essa é a responsabilidade que nos cabe em pequenos gestos, como o acolhimento de refugiados, mas sobretudo exigindo mais do que externalizar responsabilidades a essa abstração chamada comunidade internacional.

A esperança ainda é muita, quando 60% da população tem menos de 25 anos e só viveu num regime que dava os primeiros passos na igualdade de direitos. Mas é essa geração, também, que pode sucumbir às escolas do terrorismo.

Domingos De Andrade – JN

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