O Programa Alimentar Mundial (PAM) prevê expandir a ajuda a mais de 500 mil pessoas na crise humanitária de Cabo Delgado, região do norte de Moçambique sob ataque de rebeldes há três anos.
“A ajuda já chegou a mais de 400 mil pessoas” e o plano após fevereiro “é chegar a 500 mil”, referiu Antonella D’Aprile, representante do PAM em Moçambique. “Sabemos que não é suficiente: há mais pessoas que fogem para chegar a zonas seguras por causa do conflito”, acrescentou, na cerimónia de entrega de um donativo de 3,6 milhões de dólares (2,9 milhões de euros) do Japão a agências das Nações Unidas.
As autoridades moçambicanas e agências humanitárias estimam que haja 670 mil pessoas obrigadas a fugir das suas terras para junto de comunidades de acolhimento nas províncias de Cabo Delgado, Niassa e Nampula. Assim, no global, e num contexto agravado por ciclones e covid-19, estima-se que 1,3 milhões de pessoas necessitem de diferentes tipos de ajuda. Além do PAM, também o Fundo das Nações Unidas para a População (FNUAP) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) beneficiam do donativo entregue pelo Japão.
Cerca de metade dos deslocados são crianças e jovens, muitos dos quais “perderam os pais ou estão separados deles”, destacou Maria-Luisa Fornara, representante do UNICEF, agência que tenta dar amparo aos mais novos e que recebe uma parcela de 686 mil dólares (568 mil euros) do donativo japonês.
O FNUAP vai conduzir um milhão de dólares (830 mil euros) para manter ativos serviços que garantam cuidados de saúde sexual e reprodutiva, bem como de combate à violência de género: “A crise humanitária agravada pelo impacto da covid-19 tem um impacto extremamente negativo na saúde e situação financeira das mulheres”, referiu Andrea Wojnar, representante desta agência das Nações Unidas. O PAM vai receber dois milhões de dólares (1,6 milhões de euros) numa altura em que fortaleceu a operação logística com recurso a uma aeronave para chegar a zonas mais remotas.
O Japão “estará sempre” ao lado de Moçambique, destacou o embaixador Hajime Kimura, que classifica o donativo às agências da ONU como uma forma de “aliviar” o país ao enfrentar “graves desafios, como a deterioração da situação de segurança em Cabo Delgado”, além do impacto da covid-19, referiu.
A doação é apontada como “um exemplo” por Myrta Kaulard, coordenadora residente das Nações Unidas em Moçambique, que espera vir a ser seguido, face ao apelo lançado em dezembro para angariação de 254 milhões de dólares (210 milhões de euros) para apoio humanitário a Cabo Delgado.
Os ataques de grupos armados começaram em 2017 e o conflito com forças moçambicanas prossegue, sendo que a origem e motivações dos agressores continuam por esclarecer – alguns ataques foram reivindicados pelo grupo ‘jihadista’ Estado Islâmico, entre junho de 2019 e novembro de 2020.
A crise humanitária resultante inclui mais de dois mil mortos, numa região identificada há anos como parte de rotas do tráfico internacional de droga, pedras preciosas, madeira e outros recursos. Cabo Delgado é também a região onde avança o maior investimento privado de África para extração de gás natural.
NM/MS
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