TIFF 2021: Um convite ao retorno do público às salas de cinema

Com a vida aos poucos voltando ao ritmo normal, os tradicionais eventos de Toronto começam a ser retomados, mesmo que ainda com restrições, e dessa forma devolvem o brilho e movimento característicos da cidade. Os amantes da sétima arte esperam com entusiasmo pelo mês de setembro, quando acontece o Toronto International Film Festival (TIFF), que reúne o melhor do cinema internacional e nacional, servindo como vitrine para as produções da indústria local além de um termômetro para a programação de filmes premiados de todo o mundo. Esta será a 46ª edição do TIFF que acontece de 9 a 18 deste mês e vai exibir cerca de 200 filmes.

Depois de uma versão enxuta no ano passado, no auge da pandemia e basicamente com exibições de filmes, cerimônias e tapetes vermelhos realizados de maneira online, este ano o festival acontece num formato híbrido, que possibilita a volta do público às salas de cinema, mas que também contará com diversas exibições e eventos ainda a serem disponibilizados na plataforma digital, já que a pandemia segue uma realidade. Todos os participantes, sejam funcionários, convidados e o público, terão que apresentar certificados de vacinação ou testes negativos a Covid-19, usar máscaras e manter a distância física. Além disso, as salas de cinema terão limite de capacidade de 50% da lotação, o que significa que podem acomodar no máximo até 1.000 pessoas. Este ano os ingressos serão comprados apenas online e não serão impressos em papel. Reconhecido como o maior festival de cinema público do mundo, o TIFF 2021 busca trazer de volta a experiência do público em ir ao cinema e estas são as três maneiras de assistir aos filmes:

• *Exibições internas, com distanciamento social, no TIFF Bell Lightbox, Roy Thomson Hall, Visa Screening Room no Princess of Wales Theatre, no Cinesphere Theatre no Ontario Place e no Scotiabank Theatre.
• *Exibições ao ar livre no Visa Skyline Drive-In, no RBC Lakeside Drive-In e no West Island Open Air Cinema no Ontario Place.
• *Exibições digitais que acontecem no TIFF Bell Lightbox digital (apenas para o público canadense). Ingressos estão a venda online no website: tiff.net/tickets

Entre os títulos mais esperados e que podemos destacar estão: “Dune”, ficção científica interplanetária estrelada por Timothée Chalamet, filme do cineasta franco-canadense Denis Villeneuve, que inclusive confirmou que prestigiará o festival; “Last Night in Soho”, thriller psicológico dirigido por Edgar Wright; “The eyes of Tammy Faye”, com Jessica Chastain; o documentário “Jagged”, onde a canadense nascida em Otava, Ontário, Alanis Morissette refle,te sobre sua ascensão ao estrelato nos anos 1990, dirigido por Alison Klayman, entre outros tantos. Apesar do público não poder ter a interação de anos pré-pandemia, o que significava tirar selfies e ver a poucos metros de distância seus ídolos e grandes nomes do cinema desfilando no tapete vermelho, as celebridades voltam a participar do festival neste ano e entre os que já confirmaram presença estão: Jessica Chastain, Benedict Cumberbatch, Andrew Garfield e Keira Knightley.

Para termos um olhar mais apurado sobre essa edição em especial, as dificuldades e pretensões, as grandes apostas e destaques, estivemos à conversa com a portuguesa Joana Vicente, diretora-executiva e Co-Head do Toronto International Film Festival.

TiFF 2021
Sob o olhar de Joana Vicente

Edição Híbrida

Este ano é muito importante para nós trazermos o público para ter a experiência do festival em pessoa. Essa é nossa prioridade. Vamos estar novamente nos grandes cinemas, como no Roy Thomson Hall, Visa Screening Room at the Princess of Wales Theatre, Tiff Bell Lightbox, entre outros. Mas com a variante delta a situação ainda está complicada, mesmo que aqui em Toronto e no Canadá, de modo geral, exista uma grande porcentagem de pessoas que já estão vacinadas, sabemos que os riscos existem. De maneira que achamos que era preciso continuarmos a ter uma plataforma digital, que desse acesso às pessoas que não se sentem confortáveis a vir terem essa experiência ao vivo. Portanto, a maioria dos filmes vão também ser exibidos online, o que possibilita que os nossos colegas da indústria e da imprensa que estão fora do Canadá, possam ter amplo acesso as exibições. Além disso, também temos os drive-ins, que são uma maneira segura de participar no festival, onde as pessoas veem os filmes dentro do carro. Por isso a importância de ter um festival nesse formato híbrido, que fosse acessível para que todos participassem como quisessem.

Um modelo de festival que veio para ficar?

Eu acho que sim, de alguma maneira o TIFF vai continuar com o modelo atual no futuro. Por exemplo, há uma oportunidade de usar a plataforma digital não só para exibir filmes, mas para divulgar uma conferência de imprensa, uma conversa com um artista, e dessa forma, ao invés de ter 500 pessoas num mesmo auditório, usando esse recurso é possível que milhares de espectadores tenham acesso. Parece-me que há certos eventos que vão fazer mais sentido acontecerem na plataforma digital. Esse ano é ainda uma experiência, uma coisa que nunca fizemos, o ano passado fizemos um formato rápido para a plataforma digital e para possibilitar eventos no sistema drive-in. Este ano já é, portanto, uma oferta mais robusta.

Red carpets

São um bom exemplo de infelizmente uma das coisas que não podemos ter este ano, normalmente acontecem perto ao Roy Thomson Hall, em frente aos outros cinemas, porque não podemos criar uma situação de provocar aglomerações e colocar a segurança de todos em risco. De maneira que todos red carpets vão ser interiores, ou se forem exteriores não vão ser acessíveis ao público. Tivemos que tomar essa decisão, mesmo que venham estrelas como Jessica Chastain, Benedict Cumberbatch, Sigourney Weaver, entre outros, e estejamos muito contentes com a vinda deles. Porém não vai haver esse mesmo tipo de acesso. O público poderá de certa forma participar e acompanhar online, tudo estará nas plataformas digitais.

Filmes internacionais-Destaques

Temos uma seleção de filmes muito bons e alguns que já são bastante comentados pelo público e esperados são: “The Power of the Dog”, de Jane Campion; “The Eyes Of Tammy Faye” com a Jessica Chastain; o musical adaptado da Broadway “Dear Evan Hansen” e “Last night in Soho”, de Edgar Wright. Esses são apenas alguns dos filmes que estamos muito contentes de poder partilhar com o público aqui em Toronto.

Cinema canadiano-Destaques

O festival é sempre uma plataforma para o cinema canadiano de maneira que dá visibilidade internacional para o que é produzido aqui. Este ano temos alguns filmes que acreditamos que vão gerar interesse: “Night Raiders” de Danis Goulet, uma cineasta de origem indígena; aliás o TIFF também vai celebrar a história da cineasta indígena Alanis Obomsawin, temos outro filme fantástico que é uma animação, trata-se da história de uma mulher pintora durante o Holocausto e é contada através dos desenhos e das pinturas que ela fez, uma animação fantástica, que se chama “Charlotte”.

Impacto econômico

Normalmente o impacto económico é grande, à volta de 200 milhões de dólares de contribuição, claro que este ano vai ser um bocado mais modesto, mas de qualquer maneira vamos ter convidados de diversos lados do mundo e uma grande audiência. Estamos à espera das salas estarem lotadas, dentro do limite de capacidade de 50% de lotação, afinal todas medidas necessárias para evitar transmissões por Covid-19 estão a ser implementadas: uso de máscaras, comprovante de vacina, teste negativo, tudo o que está a nosso alcance. Os bilhetes têm estado a vender muito bem e estamos otimistas com esta edição do festival.

Festival em tempos de pandemia

Para nós a coisa mais importante é as pessoas sentirem que criamos uma atmosfera onde poderão ver filmes novos que são exibidos e fazendo isso sempre a pensar que é fundamental manter nosso público seguro, o que é o principal aspecto para nós. Temos que nos adaptar conforme as coisas vão acontecendo, por exemplo, o anúncio de que pessoas de fora do país poderiam vir para cá aconteceu há pouco tempo, final de julho, de maneira que podem imaginar que tem sido difícil planear o festival. Porém estamos muito confiantes que temos um Festival que vai funcionar, não vai ser exatamente o que costumava ser, mas já estamos no caminho da recuperação. Temos muito mais filmes em exibição do que no ano passado, vamos estar outra vez nos grandes locais de exibição, acho que já vamos a caminho do que seria um festival mais normal.

Desafios para a indústria

Tem sido um desafio muito grande. Não só para o festival, mas nossos cinemas têm estado fechados desde o ano passado e sofrendo com a falta de lucro, portanto é um desafio, mas ao mesmo tempo tem sido uma experiência extraordinária de ver como as pessoas são criativas e colaboram e a inovação que vem dessa colaboração. É muito satisfatório também em momentos difíceis como este, perceber o melhor das pessoas e ver que temos resistido e encontrado maneiras criativas de lidar com um dos maiores, se não o maior, desafio que esta organização alguma vez teve que encarar.

O evento começou oficialmente na quinta-feira (9 de setembro), e na noite de abertura o filme exibido foi “Dear Evan Hansen” no Roy Thomson Hall. Baseado no musical da Broadway premiado com o “Tony”, o filme é estrelado por Ben Platt e dirigido por Stephen Chbosky. Mesmo que de uma maneira diferente, o TIFF está de volta, e neste ano promove o retorno do público e das exibições nas salas de cinema, além da presença de celebridades em Toronto, o que movimenta a cidade, que mais uma vez volta a respirar cinema e é presenteada com a diversidade do que de melhor é produzido pela indústria a nível nacional e internacional.

Lizandra Ongaratto/MS