Serviços Portugueses de Saúde Mental e Dependência do Toronto Western Hospital vão encerrar
Os Serviços Portugueses de Saúde Mental e Dependência do Toronto Western Hospital vão encerrar portas. O programa tinha sido criado para apoiar, em exclusivo, pessoas de origem portuguesa que não dominavam a língua inglesa e funcionava no 9º andar do Toronto Western Hospital na Bathurst Street.
A informação foi confirmada ao Milénio Stadium pelo University Health Network (UHN) que fez saber que o hospital foi informado pela Dra. Monica Scalco que ela vai relocalizar o seu consultório no final de junho de 2021. “Os Serviços Portugueses de Saúde Mental e Dependências (PMHAS) deixaram de aceitar encaminhamentos para avaliações psiquiátricas devido à saída do psiquiatra, mas os pacientes que precisam de uma avaliação psiquiátrica podem recorrer ao nosso Programa de Saúde Mental Comunitária”, disse numa nota de imprensa enviada à nossa redação.
O UNH compromete-se ainda a fazer o possível para que “reduzir os tempos de espera” da transição dos pacientes para o Programa de Saúde Mental Comunitária e garante que os clínicos de saúde mental que falam português vão continuar disponíveis para que os pacientes sejam atendidos na sua língua materna. O UNH já informou os médicos de família que trabalhavam com a Dra. Scalco e sublinha que “o Programa de Saúde Mental da Comunidade vai atender às necessidades dos pacientes de uma ampla variedade de origens culturais que vivem na região Oeste de Toronto”.
A MPP de Davenport eleita pelo NDP diz que este é mais um exemplo da política de cortes de Doug Ford e lamenta que mais vidas venham a ser perdidas. “Tomei conhecimento do fim do programa através de agências do meu riding e enviei logo uma carta à ministra da Saúde. Se não tiver nenhuma resposta vou voltar a questionar a ministra na próxima semana quando a legislatura retomar. Estou preocupada e receio que as pessoas não consigam ter acesso a serviços em português, sabemos que quando se tratam de assuntos muito pessoais as precisam de estar à vontade para falar com um profissional de saúde”, explicou.
Marit Stiles recorda que o programa tem provado ser muito eficiente ao longo dos anos e é peremptória: “Não faz sentido cortar apoios para lidar com a saúde mental e com dependências numa pandemia, quando sabemos que estes números aumentaram dramaticamente. Precisamos de garantias como comunidade e acho que se o UHN não pode ter o programa, precisamos de encontrar outro local para o acomodar, precisamos de uma solução”, argumentou.
Stiles contou ao Milénio Stadium que segundo o que ouviu, o governo vai encerrar também dois programas deste tipo que funcionavam fora do UHN e que eram específicos para os residentes que falam espanhol, cantonês e mandarim. “Parece-me que existe aqui um problema de financiamento, pelo que vamos ouvindo na província quando os hospitais precisam de criar prioridades os programas culturais são os primeiros a ser cortados. O governo tem a responsabilidade de assegurar estes serviços na nossa comunidade e não podemos nos dar ao luxo de perder mais programas de apoio à saúde mental e às dependências”, sublinhou.
A Supervisora de Serviços de Aconselhamento do Abrigo Centre, Cidália Pereira, salienta a importância do programa e espera que continue a servir os portugueses. “Para os clientes do Abrigo que precisam de apoio com ansiedade, depressão, dependência de álcool, química ou jogo, o Serviços Portugueses de Saúde Mental e Dependências do Toronto Western Hospital têm sido um recurso inestimável para centenas de clientes do Abrigo durante anos. Quando os pacientes têm oportunidade de comunicar na sua língua materna com um profissional de saúde isso cria um ambiente seguro e confortável. A nossa sincera esperança é de que este programa continue aberto para o bem da nossa comunidade”, referiu.
O Ministério da Saúde de Ontário avançou ao nosso jornal que não é responsável por decisões hospitalares e refuta as acusações de que está a cortar fundos na saúde mental em plena pandemia. “Embora o Ministério regule e financie os hospitais públicos, os hospitais são corporações independentes governadas pelo seu próprio conselho de administração. Os administradores hospitalares são responsáveis pela gestão quotidiana dos seus hospitais, incluindo a prestação de serviços e a implementação de programas, protocolos e procedimentos adotados pela direção do hospital, dentro dos parâmetros da legislação provincial”, referiu a assessora de imprensa Alexandra Hilkene.
Na mesmo comunicado, a assessora da ministra da Saúde recorda que no início do ano passado, Ontário lançou o Roadmap to Wellness- um plano em que o governo investe $3,8 mil milhões durante 10 anos para construir o Sistema de Saúde Mental e Dependências de Ontário e informa que “Estamos em comunicação com o hospital e garantimos que os apoios culturalmente apropriados vão continuar conforme necessário”.
O programa disponibilizava assistência geral e tinha dois serviços voltados para as dependentes e os problemas de saúde mental. Os Serviços Portugueses de Saúde Mental e Dependência recebiam cerca de 1000 pacientes por ano.
Joana Leal/MS
Redes Sociais - Comentários