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Como estão (sobre)vivendo os restaurantes de Toronto

foto crise restaurantes milenio

 

“Essa pandemia acabou com tudo…não dá para pensar além do dia após dia. Eu reduzi tudo o que poderia ser reduzido para manter o take out aberto”. É em tom de desabafo que Marlene Generoso, proprietária de um restaurante em Toronto, conversou com nossa reportagem. Há 11 anos está à frente, na St Clair Ave, do “Sabor Brasil”, que oferece pratos típicos da culinária brasileira. Ela confessa que nunca passou por uma crise parecida a essa: “Não tem comparação, nunca vivi algo parecido e espero que acabe logo”.

O sentimento dela é compartilhado por milhares de comerciantes e donos de negócios que foram impactados economicamente pela pandemia de Covid-19. Entre os mais atingidos, de fato, estão os restaurantes. Dados de dezembro do ano passado, levantados pela Restaurants Canada, apontaram que no país 10.000 haviam fechado desde o início da pandemia em março, e quase 50% dos proprietários analisava a possibilidade de fechar definitivamente seus estabelecimentos se as condições não melhorassem. Além das perdas econômicas, o setor também emprega milhares de pessoas e as demissões e lay offs são outra realidade que atingiu mais de 90% deles, segundo esse mesmo relatório.

Apenas em Toronto, como apontou recentemente o “Toronto Employment Survey” em 2020, foram mais de 11 mil funcionários de restaurantes que viram os seus empregos desaparecerem ao longo dos meses em que as portas estiveram fechadas ao público. O setor de serviços, que engloba também bares, hotéis, cafeterias e centros de fast food acumulou ainda outras 20 mil demissões. A proprietária do restaurante “Sabor Brasil”, Marlene, conhece essa realidade por trás dos números. Sem receber clientes há meses, ela viu os lucros despencarem cerca de 80% e o faturamento típico dos três dias mais movimentados – sexta-feira, sábado e domingo – agora é alcançado com muito esforço em um mês inteiro. Diante dessa situação a equipe de 11 pessoas foi praticamente extinta, restando apenas um funcionário, além dela e das eventuais ajudas que recebe do marido e do filho aos finais de semana. “Espero poder recontratá-los quando tudo isso passar. Estamos trabalhando restritos em todas as áreas, sem exceção. Sobrevivendo de entregas”. Além dos benefícios disponibilizados pelo governo federal, a província de Ontário, através do Ontario Small Business Support Grant, disponibilizou entre $ 10.000 e 20.000 de financiamento às empresas que se encaixavam no perfil elegível. A comerciante acredita que, apesar de terem aliviado a situação, esses apoios não fazem frente à dimensão da crise que o setor atravessa, amargando prejuízos incontáveis: “Acho essa ajuda pequena tendo em vista a responsabilidade que temos, diante da prefeitura da cidade, os impostos que pagamos, tudo…as contas continuam chegando do mesmo jeito e o lucro não corresponde a essa realidade”.

A pandemia também alterou por completo os planos de outro empresário do setor, Carlos Oliveira. Proprietário de dois restaurantes em Toronto, ele conta que um deles está de portas fechadas desde o início das restrições de funcionamento, enquanto o outro, chamado Casa Portuguesa, que inaugurou em meio à pandemia, vem colhendo bons resultados, tendo como foco o take out de comida portuguesa. “A comunidade aceitou muito bem nossa proposta nessa nova casa. E é por causa desse movimento bom que conseguimos manter a equipe de funcionários do outro restaurante, que está atualmente fechado, e foi deslocada para este. A situação dos empregados preocupava-me desde o início”. Apesar de fazer parte de um grupo de exceções, que não demitiu, ele relata as dificuldades que vem enfrentando e como isso impacta o setor: “O maior problema que estamos enfrentando com a Covid-19 no setor de restauração é a incerteza que ronda a nós, donos de pequenos negócios. Nunca sabemos o que vai acontecer amanhã, abrimos amanhã, fechamos amanhã? Tem sido muito difícil”, relata.

Foi essa quantia disponibilizada pelo governo provincial que está mantendo o restaurante atualmente fechado em condições de ser reaberto quando as normas assim permitirem, conta Carlos. Ele sabe, entretanto, que para muitos colegas a realidade é diferente: “Eu sei que nós somos uma equipa pequena, é um restaurante familiar, por isso as ajudas que o governo nos deu foram imensas, agora se eu for comparar com alguns colegas meus que têm empresas maiores eu sei que talvez as ajudas não tenham tido o efeito que tiveram a mim”.
A província de Ontário apresentou no mês passado um cronograma de reabertura de atividades e negócios. A ideia é que a partir de 14 de junho os restaurantes reabram as esplanadas para refeições presenciais com limitações do número de clientes.

A expectativa pela retomada das atividades econômicas é grande. Nesta semana a Federação Canadense de Negócios Independentes (CFIB) divulgou um comunicado pedindo que o Premier Doug Ford reveja o plano de reabertura da província, que considera lento, e “reabra imediatamente” partes da economia de Ontário, incluindo lojas não essenciais, restaurantes e academias. Um trecho do documento se referia especificamente aos restaurantes: “Os restaurantes em Toronto estiveram fechados para jantares em ambientes fechados por 367 dias devido aos vários confinamentos e medidas de emergência impostos pela província. Um ano inteiro de negócios foi perdido e a indústria está olhando – no mínimo – para mais 67 dias fechada para refeições em ambientes fechados de acordo com o plano atual”, lê-se na declaração do CFIB.

Em conferência de imprensa na última quarta-feira (2 de junho), Doug Ford confirmou que existe a possibilidade de a reabertura parcial da economia ser antecipada e aguarda um parecer do chefe do setor de Saúde Pública para isso.

Enquanto essa data oficial não chega, tanto os comerciantes, quanto o público, esperam com um misto de animação e incerteza. “Só quero voltar a poder receber clientes, ver a movimentação nesse verão, nem que seja ainda com restrições, mas que tudo vá voltando. Dedos cruzados para que tudo dê certo”, diz Marlene.

Lizandra Ongaratto/MS

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