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Armando Viegas lança autobiografia

Em 43 anos Armando Viegas chegou ao topo da Cara Operations, a maior empresa de restaurantes com serviço completo do Canadá. Na Cara reestruturou o serviço de call centre que mais tarde viria a ser reconhecido como o melhor centro de atendimento no país.

Nascido em Lisboa, no bairro de Santa Catarina, Viegas emigrou aos 19 anos para fugir à ditadura. No passado sábado lançou “Bonne Chance”, uma autobiografia que narra os principais episódios desta viagem que fazem dele um dos pioneiros bem-sucedidos da vaga da emigração portuguesa para o Canadá. “Bonne Chance significa boa sorte em francês. Foram as primeiras palavras que ouvi quando cá cheguei há 52 anos. Um taxista argelino deixou-me no St. Lawrence Market numa noite terrível de inverno e desejou-me boa sorte. Foi esta expressão que me serviu de guião para tudo o que fiz na vida”, disse ao Milénio Stadium.

Na Cara Operations começou como empregado de bar e terminou como diretor geral do centro de atendimento. Embora esteja reformado desde 2011, Armando deixou muitas saudades na empresa. “Ele é diferente dos outros gerentes. É um amigo que coloca a equipa à frente de si próprio. Aprendi muito com ele e tenho a impressão que se ele ainda tivesse na Cara, hoje Recipe Unlimited Corporation, a empresa ainda conseguia crescer mais ” (risos), contou-nos Carlos Quintinho, antigo colega de trabalho.

Tirou mais de 60 cursos profissionais e sob a sua liderança os lucros da empresa passaram de $10,000,000 para $114,000,000. Casou duas vezes e teve duas filhas que vêm nele uma inspiração. “O meu pai é a pessoa que vocês conhecem, bem-falante e com muitas opiniões sobre tudo. Lembro-me de estar com ele ao colo enquanto ele fumava e ouvíamos música, Amália ou Paulo de Carvalho. A cultura, as histórias e amor a Portugal sempre foram muito importantes lá em casa. Mas por outro lado ele sempre amou o Canadá, que foi o país que o acolheu. Tenho muita admiração por ele, o meu pai incentivou-me a estudar, a trabalhar e a ter amor pelo próximo”, disse Suraya Wallace, a filha mais velha de Viegas.

No início Armando trocou muitas vezes de casa e a adaptação foi difícil. “Nos primeiros seis meses todos os dias pensava em voltar para Portugal. Em Lisboa eu era um menino queque, era o único rapaz na família e quando cheguei cá tive que trabalhar na apanha do tomate, da minhoca e na construção civil. Um dia faltava a água ou o ar condicionado e zangava-me com os senhorios e trocava de casa. Mas ao mesmo tempo eu sabia que se regressasse a Portugal ia ser preso”, avançou.

Armando nasceu no seio de uma família da classe média e aprendeu desde muito novo e estimar a cultura. Chegou a ser membro VIP da Companhia de Ópera e do Ballet Nacional canadianos. Não foi por isso de estranhar que quando entrou para a direção da Casa do Alentejo tivesse trazido a Toronto alguns dos maiores nomes do fado. Mas a literatura e a gastronomia também não ficaram esquecidas e pelas primeiras semanas culturais da comunidade portuguesa de Toronto passaram também Agostina Bessa Luís e Maria de Lurdes Modesto. “Fiz parte da direção da Casa do Alentejo durante quatro anos e trabalhei muito de perto com o Armando. Era tesoureira e lembro-me de os eventos serem muito bem organizados e de serem um sucesso. Havia um intercâmbio muito forte com os artistas de Portugal e ele trouxe grandes nomes do fado àquela casa. Carlos do Carmo, Raquel Tavares e muitos outros”, explicou Maria José Martins, de uma das direções da Casa do Alentejo.

Foi ainda fundador do Rancho Folclórico da Casa do Alentejo, do Círculo de Leitura e da Luso Can-Tuna, a única tuna portuguesa na América do Norte que celebra este mês 20 anos. “Estamos sempre dependentes da comunidade e dos clubes. Ensaiámos e atuámos vários anos na Casa do Alentejo e o Armando Viegas sempre nos apoiou. Além do mais ele sempre foi nosso fã”, recordou Miguel Marques Dias, vice-maestro da Luso Can-Tuna.

Hoje ainda guarda uma folha de onde constam os seus grandes objetivos de vida que acabou por conseguir realizar e conhece o Canadá inteiro, desde a British Columbia até Newfoundland, EUA, República Dominicana, México, Jamaica e Cuba.

Ficou viúvo de uma alentejana e redescobriu o amor ao lado de uma angolana que acompanhou de perto o processo de escrita de “Bonne Chance”. “Já conheço o Armando há sete anos e acho que qualquer mulher gostava de ter um homem como ele ao seu lado. Ele começou a escrever este livro em 2014, depois eu fiquei doente e ele parou para me acompanhar. A dada altura achei que ele estava desmotivado e quando me comecei a sentir melhor convenci-o a terminar. A comunidade e a família precisavam deste legado”, disse Leta Vieira Viegas.

O lançamento decorreu no restaurante Lisbon by night e contou com a presença de amigos, familiares e pessoas influentes da comunidade luso-canadiana. A obra foi apresentada por Luciana Graça, Leitora de Português do Camões, Instituto da Cooperação e da Língua na Universidade de Toronto, e em breve o livro vai ser traduzido para inglês.

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