Comunidade

Toronto com número de polícias mais baixo desde 1999

Nas últimas semanas temos assistido a uma onda de violência em Toronto sem precedentes.  Desde o início do ano que a cidade já registou 212 tiroteios e 26 pessoas morreram. Desde que o verão começou que as autoridades já registaram nove tiroteios, nove pessoas morreram e outras nove ficaram feridas. Alguns dos crimes ocorreram durante o dia e em áreas com um grande número de turistas.

Recentemente o presidente da Câmara de Toronto, John Tory em conjunto com o chefe da polícia de Toronto, Mark Saunders, anunciaram um plano para combater a violência que vai custar 15 milhões de dólares.

Em entrevista exclusiva ao Milénio Stadium, o presidente da Associação da Polícia de Toronto, Mike McCormack, diz que Toronto tem “o número de polícias mais baixo desde 1999” e defende que Toronto tem de aprender com Nova Iorque que conseguiu implantar uma estratégia de patrulhamento e que hoje tem a taxa mais baixa de homicídios desde a segunda guerra mundial.

 

MS: Toronto era uma das cidades mais seguras do mundo. O que é que mudou?

McCormack: Há muitas razões, a proliferação de gangues na cidade é uma delas. Mas os problemas sociais e a falta de polícias também contribuem para este aumento da violência, sobretudo nas novas gerações. Acreditamos que todos estas fatores contribuíram para o aumento da violência nos últimos anos. Toronto está a crescer, nos últimos anos tivemos mais 400 mil novos habitantes e temos menos 800 polícias do que tínhamos em 2010. Temos o número de polícias mais baixo desde 1999. Estes polícias ajudavam no patrulhamento da cidade e agora os nossos agentes já não têm tempo para fazê-lo. Em Ontário temos menos 252 mil multas e menos 48% detenções do que há cinco anos. Só atuamos quando recebemos uma chamada e acreditamos que isso tem contribuído para estes números, a violência tem crescido drasticamente.

MS: Na semana passada tivemos um reforço da segurança em algumas áreas da cidade (CN Tower, Union Station, Scotiabank Arena e Canada Wonderland). A polícia recebeu alguma informação sobre um possível ataque terrorista?

McCormack: Não estou autorizado a divulgar detalhes, tudo o que posso avançar é que recebemos informação e optámos por reforçar a segurança pública nestas áreas.

 

MS: Como é que se controla a violência entre gangues?

McCormack: Podemos controlar de várias formas, uma delas é limitando o acesso às armas de fogo. Há três semanas montámos uma operação e apreendemos mais de 60 armas de fogo das ruas. E mesmo assim nesse fim-de-semana tivemos seis ou sete feridos. Mas para controlar armas temos de criar programas sociais e penalizações mais duras e distribuir o número certo de polícias pelos diferentes bairros da cidade. Só assim é que conseguimos criar uma estratégia para afastar as pessoas dos gangues. E isto funciona, basta analisar o caso de Nova Iorque, que atualmente tem a taxa mais baixa de homicídios desde a segunda guerra mundial. Desde que eles criaram esta estratégia de patrulhamento nos bairros que são um caso de sucesso.

 

MS: Quem é que faz parte destes gangues?

McCormack: Há todo o tipo de gangues, localizados em diferentes bairros. O que estamos a ver é que todos eles têm armas de fogo e quando se encontram em diferentes pontos da cidade acaba por haver confrontos. Os locais públicos, como por exemplo os parques infantis e as áreas de diversão noturna tornaram-se áreas preocupantes. A violência já não está circunscrita apenas a um bairro, está em toda a cidade.

 

MS: É fácil adquirir uma arma em Toronto?

McCormack: Bom, não diria que é fácil, mas há uma grande oferta no mercado. E essa abundância preocupa-nos.

 

MS: A Estratégia de intervenção anti-violência de Toronto (TRAVIS) foi suspensa. Foi um erro?

McCormack: O problema é que foi cancelada e não foi criado nenhum programa para a substituir. Deixámos de ter polícias nos bairros e isso foi um erro.

 

MS: Qual é que seria o melhor programa para substituir o TRAVIS?

McCormack: Deveríamos ter mais polícias integrados nos bairros a longo prazo. O aumento do patrulhamento ia transmitir segurança para os residentes e ia desencorajar a prática de crimes.

 

MS: Esta sexta-feira (20), 200 polícias vão começar a fazer horas extra nas ruas entre as 7 da tarde e as 3 da manhã. Acha que esta medida é suficiente? Não sairia mais barato à cidade contratar mais polícias em vez de pagar horas extra?

McCormack: Absolutamente. As horas extra não são uma solução a longo prazo, não vão resolver o nosso problema. Seria mais vantajoso e mais barato contratar mais 200 novos polícias em vez de pagar horas extra. O período mais crítico é o turno entre as 7 da tarde e as 3 da manhã.

 

MS: Quais são as áreas mais críticas da cidade?

McCormack: A primeira área que me vem à memória é Norte e Oeste da cidade onde acontecem 40% dos tiroteios. E depois um pouco por toda a parte da cidade, especialmente no Este.

 

MS: Mas a cidade vai pagar horas extra a 200 polícias só durante oito semanas.

McCormack: O verão é a altura em que estão mais pessoas nas ruas e a possibilidade de se registar violência é muito elevada.

 

MS: A mãe de duas das crianças que foram atingidas nos últimos meses defende que é preciso menos policiamento e melhor educação e mais programas de suporte comunitário nos bairros.

McCormack: Acho que precisamos de mais envolvimento da comunidade, mas isto tem de ser feito em conjunto com um reforço do número de polícias. Em 2010 tínhamos 5635 polícias em Toronto, agora temos cerca de 4850. Acho que precisamos de pelo menos 5 000 polícias, não é o número ideal, mas já ajudava.

 

MS: Recentemente disse que não há uma única solução para este problema complexo.

McCormack: Não há uma solução fácil para este problema. Temos que trabalhar numa estratégia que funcione a longo prazo, como fizeram em Nova Iorque. Acho que Toronto deveria aprender com Nova Iorque. Eles implantaram um sistema que funciona e nós deveríamos adotá-lo em Toronto.

 

MS: A mudança nos turnos dos polícias é só um dos aspetos.

McCormack: Uma vez mais é contratando mais polícias. Perdemos quase 500 polícias nos últimos dois anos e isso tem consequências.

 

MS: Quanto é que iria custar aos contribuintes?

McCormack: Acho que o custo para os contribuintes agora é viver numa cidade que não é tão segura como deveria ser, sobretudo para quem tem filhos.

 

MS: Tem medo de viver em Toronto?

McCormack: Não tenho medo, mas posso te dizer que estou preocupado pelos meus filhos. Eles saem, vão à baixa e a minha perceção da cidade mudou.

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