Comunidade

“Senti a vitalidade da nossa gente e o respeito que os canadianos lhe têm” – Santos Silva de visita ao Canadá

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Créditos: Luciano Paparella/Camões TV

 

O Dr. Augusto Santos Silva representou o Estado português numa visita de quatro dia às cidades de Toronto, Montreal e Otava para celebrar o Dia de Portugal junto da comunidade portuguesa, residente no Canadá.

No dia 14 de junho, Manuel DaCosta e Vítor Silva tiveram a honra de receber o Presidente da Assembleia da República, como convidado no Here’s The Thing (Camões TV), na Galeria dos Pioneiros Portugueses. Um momento de conversa que permitiu conhecer melhor o seu percurso e o seu respeito e admiração pelo povo português. Nos seus 50 anos de carreira política, o Dr. Augusto Santos Silva viveu uma revolução, contribuiu para o estabelecimento da democracia, foi professor catedrático e serviu o povo português como ministro da Educação, da Cultura, dos Assuntos Parlamentares, da Defesa, dos Negócios Estrangeiros e por fim, recentemente foi eleito presidente da Assembleia da República.

Durante a sua visita participou em vários eventos comunitários integrados na comemoração do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, tendo a oportunidade de observar a energia da nossa comunidade e o respeito de que usufrui na sociedade canadiana. Garantiu-nos ainda que, não fosse a sessão plenária no parlamento no dia seguinte, teria ficado mais tempo.

Manuel DaCosta: Durante esta sua visita, o que é que lhe tem agradado mais e menos?
Dr. Augusto Santos Silva: Tenho uma enorme dificuldade em responder à sua pergunta, porque eu gostei de tudo. Gostei de verificar a vitalidade da nossa comunidade aqui, a atenção e o respeito que as autoridades canadianas lhe dão. Por exemplo, na parada em Toronto, participou um ministro do Governo Federal, o presidente da Câmara de Toronto, vários deputados eleitos para o parlamento provincial ou pelo parlamento federal. E, portanto, não só as nossas comunidades, estiveram presentes através das suas associações, dos seus grupos folclóricos, dos seus grupos desportivos, da Associação de Luta Contra a Violência Doméstica, da Coordenação do Ensino de Português, como também as autoridades canadianas acompanharam a parada. E em todos os outros momentos eu senti isto, ao mesmo tempo, a vitalidade da nossa gente e o respeito que os canadianos lhe têm.

MDC: Agora, claramente que a emigração de Portugal para o Canadá é muito menor do que era antigamente. Como é que vê a relação entre Portugal e o Canadá?
Tendo em conta que o nosso povo já não imigra tanto para o Canadá, será esta uma relação mais de turismo?
Santos Silva: Não. Comecemos pelo princípio. Portugal e o Canadá são países aliados. Nós fazemos parte da mesma aliança militar e significa que qualquer ataque contra Portugal é considerado pelo Canadá como um ataque contra o Canadá e qualquer ataque contra o Canadá seria imediatamente percecionado por Portugal como um ataque contra nós. Portanto, somos aliados de todas as horas no ponto de vista de defesa. Em segundo lugar, somos países muito amigos.
Claro que o principal elo de ligação são os 430.000 lusodescendentes e portugueses que aqui estão, mas há outros. O turismo, como referiu, o Canadá é hoje um mercado muito importante para o turismo português. A economia, as trocas comerciais têm aumentado a partir do momento em que nós ratificamos o acordo comercial entre a União Europeia e o Canadá. E do ponto de vista diplomático, devo dizer que somos dos países mais próximos que hoje existem no mundo e estamos, como eu gosto de dizer, do lado do bem na cena internacional. Somos protagonistas na política de migrações, procurando integrar as pessoas. Somos parceiros nas políticas dirigidas ao mar e ao oceano que são de interesse fundamental, quer para o Canadá, quer, claro, quer para Portugal. Votamos sempre da mesma maneira nas Nações Unidas. Portanto, a ligação com o Canadá é muito profunda e este ano e o próximo são ambos muito simbólicos nessa relação. Este ano comemoramos os 70 anos do estabelecimento de relações diplomáticas formais. Para o ano, comemoramos 70 anos da chegada dos primeiros migrantes modernos portugueses para o Canadá.

MDC: Como sabe é no dia 13 de maio do próximo ano e estamos a planear uma grande celebração. Estamos na Galeria daqueles que cá chegaram primeiro – os pioneiros portugueses – e eu agradeço a sua presença aqui para ter uma ideia do respeito que temos por aqueles que abriram a porta aos que vieram depois.
Santos Silva: Se me permite gostaria de o felicitar pela Galeria dos Pioneiros que, além de muito ilustrativa, é comovente pensarmos naqueles que vieram fugindo à pobreza, debandando de um país cuja língua não conheciam. E aqui singraram, aqui trabalharam ou constituíram família, aqui educaram os seus filhos e aqui estão estabelecidos, bem estabelecidos e bem integrados. Nós devemos ter sempre orgulho em coisas como estas. Uma das vice-presidentes da Câmara dos Comuns, em Otava, é portuguesa, nascida em Portugal e uma das vice-presidente da Câmara de Toronto é lusodescendente, e por aí fora.

Vítor Silva: Para o ano celebramos os 70 anos de imigração portuguesa no Canadá e não sei se seria pedir demais que estivesse presente. E por falar em aniversários, descobri aqui um aniversario seu. Fiz contas e faz 50 anos que exerce atividade política. Está de parabéns. Como foram esses 50 anos?
Santos Silva: É muito curioso. Eu tenho atividade política desde os 16 anos, desde o fim da escola secundária. Ainda era o Estado Novo, portanto era uma atividade política clandestina. Participei naturalmente na revolução democrática. Nessa altura, queria que ela fosse o mais revolucionária possível. E, digamos assim que demorei 10 anos a dar ao Dr. Mário Soares toda a razão já que a democracia tinha que ser pluralista e tinha que ser casada com a integração na então CEE – o que hoje é a União Europeia.
Aí pelos meus 30 anos pedi a adesão ao Partido Socialista e sou membro do Partido Socialista desde 1990 e tenho procurado fazer três coisas ao mesmo tempo na vida, que eu acho que é isso que faz a vida rica – constituir família, educar os meus filhos e agora, usufruir dos meus netos. Ter uma profissão. Portanto, fiz toda a carreira de professor universitário, fiz toda a carreira de assistente, estagiário, até professor catedrático e ter também atividade cívica e política.
Na atividade política, devo dizer que me aconteceram coisas. Houve momentos em que me disseram “tens que fazer isto” e eu não tinha coragem de dizer que não. E foi isso que fez com que eu me tornasse assim, numa espécie de veterano da vida política portuguesa, servindo como Secretário de Estado, como Ministro em várias pastas, como deputado. E agora os meus colegas no Parlamento decidiram eleger-me como presidente da Assembleia da República. E eu não tiro disso nenhum mérito pessoal, mas valorizo duas coisas nesse facto. Primeiro, eu sou o primeiro presidente da Assembleia da República que nasceu na cidade do Porto. Segundo, e ainda mais importante, sou o primeiro presidente da Assembleia da República que como deputado representa os portugueses residentes no estrangeiro. E isso, isso é que é uma grande mudança. E garanto-lhes, sou o primeiro, mas não vou ser o último porque a gente vai-lhe tomar o gosto, porque até agora eu já tinha sido o primeiro ministro dos Negócios Estrangeiros que concorreu a deputado por um ciclo da emigração. E escolhi, aliás, devo dizer, o ciclo mais difícil para o meu partido, para saber se as pessoas me apoiavam e apoiaram. Fui eleito e agora reeleito. E isto quer dizer que os portugueses residentes no estrangeiro, podem orgulhar-se não de mim, mas de terem quatro deputados que os representam e defendem na Assembleia da República e um deles ser o presidente da Assembleia da República.

VS: Se me permite, está a ser modesto, são cinco ministérios – Negócios Estrangeiros, Defesa, Assuntos Parlamentares, Cultura e Educação.
Santos Silva: Há uma explicação simples, aliás, aqui no Canadá compreende-se bem, porque o Canadá é muito inspirado pelo sistema político britânico. Ao contrário do que acontece em Portugal, em que há tendemos a nomear para os ministérios técnicos ou políticos com algum conhecimento técnico, e eu acho, como os britânicos, que a competência essencial de um ministro é uma competência de natureza política. Saber falar aos media, falar às pessoas, respeitar o Parlamento e portar-se condignamente no Parlamento e por isso é que tem alguma facilidade. Quer dizer, para mim não há problema em ser uma vez ministro da Educação e depois ser ministro da Defesa. E até costumo explicar aos técnicos nos ministérios uma coisa que eles compreendem bem que é – eu não tenho nenhuma pretensão de saber o que vocês sabem e, portanto, vocês têm que me explicar a mim de modo a que eu compreenda e eu possa explicar às pessoas, porque aqui a minha relação com as pessoas é que faz com que eu seja ministro, não é o conhecimento técnico que eu tenho dos dossiês.

MDC: Como é que Portugal está hoje no que diz respeito ao que o povo sente?
Santos Silva: Eu acho que as pessoas vivem uma espécie de libertação… não é o fim da pandemia, mas pelo facto de agora já ser possível levar uma vida normal e estão satisfeitas com isso. Em segundo lugar, as pessoas também estão satisfeitas com a nossa capacidade de resistência. Mesmo o ano passado e há dois anos, na crise económica que sucedeu a pandemia e que é uma consequência da pandemia, nós conseguimos manter as empresas, conseguimos manter o emprego. A taxa de desemprego em Portugal é bastante baixa e os rendimentos das pessoas aumentaram. Vamos ver. Agora temos um desafio muito grande pela frente, que é esta inflação muito alta que estamos a viver e acho que vamos conseguir ultrapassar esse conflito, esse obstáculo. Agora, nós em Portugal temos muitas vantagens, somos um povo pacífico, um país extremamente seguro, aberto a todos. O turismo é uma expressão, mas não é a única expressão disso. Bem conhecido e respeitado internacionalmente. E com um povo que é uma maravilha.
Isso quer dizer que não temos problemas? Não. Nós temos três problemas complicados. Um é a demografia. Estão a nascer menos crianças do que seria necessário para que, pelo menos, mantenhamos a população que temos. O segundo é a seca. As alterações climáticas têm em Portugal uma consequência óbvia e trazem incêndios florestais. E temos um terceiro problema, que é a competitividade da nossa economia. Nós precisamos de crescer mais. Felizmente, temos hoje uma situação de grande estabilidade política e institucional. O presidente tem o seu mandato até 2026. O Governo tem o seu mandato até 2026. Existe maioria no Parlamento. As câmaras municipais estão eleitas e a fazer o seu trabalho e por isso devemos concentrarmo-nos nesses problemas de fundo que, para serem resolvidos, precisam que nós todos nos mobilizemos.

MDC: O Dr. Augusto Santos Silva não tem muito tempo hoje, por isso queria só dizer-lhe mais uma coisa sobre a comemoração dos 70 anos de emigração portuguesa no dia 13 de maio. Está a ser feito um monumento em Portugal, por um escultor muito famoso, para depois ser trazido para o Canadá. Gostaria de o convidar a estar presente e a cortar a fita. Nós, enquanto emigrantes gostamos de ser reconhecidos, e penso que Portugal está cada vez mais a reconhecer o papel importante que o emigrante tem na promoção do nosso país.
Santos Silva: Eu agradeço o convite! Naturalmente, não posso garantir que seja eu a vir, mas posso garantir que o Estado Português estará devidamente representado nos 70 anos dos pioneiros. Muito obrigado.

MDC: Agradeço a sua presença hoje e até uma próxima.

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