Comunidade

“Os mais novos não querem saber destas coisas, vai tudo para o lixo, quando a gente morrer!”

Este é o desabafo de muitas idosas, que nos centros de dia, ou no privado silencioso das suas casas, continuam à volta das linhas mercerizadas, do algodão e das agulhas de crochet e tricot, dos retalhos e das máquinas de costura, a “pespontar”, a “tirar os riscos”, a copiar “as amostras” e os “desenhos” para os naperons, as colchas, os bibes, os fatinhos, ou os bonitos lençois com entremeios de renda e bordados, embelezados com os matizes e pontos de fantasia, crivos simples, fantasia ou pontos de grilhão.
Foi à volta das rendas e dos bordados, das máquinas de costura e dos teares domésticos, que os saberes passaram de geração em geração, que as histórias de família sobreviveram, que as lendas e as melodias de juventude encontraram eco. As artes e os oficios femininos, foram sempre mais do que um suplemento financeiro de apoio às familias. Elas foram um modo de vida, de sobrevivência, de conforto, de amizade, de fuga à miséria, ao abuso e à solidão. Elas permitiram e permitem, o acesso a um espaço muito próprio, à privacidade de sentimentos, à reconstituição de realidades e aos benefícios de um tempo meditativo.” Diz a propósito curadora e artesã, Humberta Araújo.
Para esta, “o desaparecimento e a destruição destes artefactos, é um ataque a formas de vida excecionais, a espaços sagrados, que fazem parte também da cultura das gerações mais jovens lusocanadianas, pois nestes espaços assentam muitas das raízes da nossa cultura.”
Para além de serem formas de arte a preservar, “são ao mesmo tempo, testemunhos de formas de vida, que apesar de esconderem aspetos negativos da nossa identidade, como o perpetuamente da iliteracia, das desigualdades do gênero e da pobreza, são contudo vivências singulares, que devemos não esquecer.”
Neste sentido, a curadora prepara uma exposição fotográfica, que conta com o apoio da Galeria dos Pioneiros Portugueses e da Direção Regional das Comunidades dos Açores, que vai procurar retratar o amor e o empenho, que as idosas põem nestes trabalhos, apesar do pouco ou nenhum interesse pela sua preservação, por parte de muitas familias e da comunidade no seu todo.
“Estou a fotografar idosas, em diferentes centros de dia em Montreal e Toronto, para esta exposição. As fotos são depois recriadas, utilizando algumas técnicas tradicionais. Para além da exposição fotográfica, queremos igualmente reunir os trabalhos das idosas, mais significativos das diferentes técnicas usadas, para uma mostra mais alargada, a ter lugar na primavera de 2018.”
Com esta parceria, a Galeria dos Pioneiros Portugueses, pretende ajudar a guardar a memória destas pioneiras, e lança o desafio a todas as idosas e famílias, para “que nos contatem, por forma a fazermos um inventário das técnicas utilizadas, e assim recolher peças para esta exposição.”

By Humberta Araújo

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