Comunidade

O presente e o futuro da Aliança

A funcionar atualmente com uma Comissão Ad Hoc, a Aliança vive momentos de incerteza desde que o presidente anunciou que não estava disponível para continuar no cargo. Criada em 1986 com o propósito de agregar todos os clubes portugueses de Toronto, a associação de clubes enfrenta problemas financeiros e um vazio de poder que parece não ter fim à vista.

Esta semana o Milénio Stadium foi tentar perceber se a existência da ACAPO continua a fazer sentido e qual o futuro das comemorações da Semana de Portugal em Toronto, que chegaram a ser consideradas as maiores na comunidade da diáspora portuguesa.

Desde que surgiu a 29 de setembro de 1986 que a Aliança teve oito presidentes que completaram o mandato – Jorge Ribeiro, Domingos Marques, Manuel Brito Fialho, Vitor Sousa, Manuel Carvalho, Álvaro Ruivo, José Eustáquio e Tony Arruda. Rosa de Sousa e Laurentino Esteves chegaram a ser presidentes, mas ambos os mandatos duraram apenas alguns meses.

O nosso jornal falou com Jorge Ribeiro que nos explicou a génese do projeto que é muito ambicioso desde o primeiro dia. “Na altura tínhamos cerca de 19 clubes envolvidos, de todas as regiões do país, e o Martinho Silva foi o grande impulsionador do projeto. Ele era pessoa muito dinâmica e estava envolvido a nível político e no Little Portugal Business Improvement Area (BIA). O Martin queria criar uma espécie de umbrela organization na comunidade portuguesa. No início funcionava como uma Comissão porque só em 1987 é que criámos estatutos”, explicou.

Jorge Ribeiro tornou-se no primeiro presidente da ACAPO em 1987 e recorda que antigamente o funcionamento interno da organização era diferente. “A direção reunia todas as semanas e quando era necessário o Conselho de Presidentes também se juntava para analisar alguns assuntos. Mas havia uma grande camaradagem entre nós, recordo-me de uma vez que uma reunião terminou à meia noite e fomos jantar todos juntos a um restaurante português. Eramos como uma família e lá fiz amizades para a vida inteira. A minha esposa sempre me ajudou com os discursos e a nível administrativo”, contou.

O orçamento financeiro para as comemorações do Dia de Portugal sempre foi apertado. “Nunca tínhamos dinheiro e embora hoje o sindicato seja o maior patrocinador, naquela altura eram as cervejarias. O nosso primeiro patrocinador foi a Molson Brewery, depois passou a ser a Labatt Brewing Company”, explicou.

Na década de 90 a Aliança ficou sem fundo de maneio e a solução encontrada foi apelar à solidariedade empresarial. Ao todo 13 empresas aceitaram contribuir e doaram cerca de $65,000. “Cada um deles deu $5,000 e a lista tinha mais de uma dúzia de empresas bem-sucedidas. António Belas da Ferma Imports; Manuel de Paulos do Europa Catering; Jack Carvalho da Jack’s Bakery que na altura ainda estava na Caldense Bakery; Mike Silva e Kevin O’neill da Hi-tech Carwash; Peter Santos da World Fine Cars; Americo Santos e Manuel Marchão da Amlar Homes; Horacio Domingos da Domingos Meat Packers; Jose Porto da Global Real Estate; Manuel da Silva da Manuel da Silva Enterprises; Manuel Marques da Peerless Auto; Domingos Rites da Crawford Roofing; Victor Rodrigues da Interarch Architects e Manuel Silveira e Berto Rebelo do Renaissance by the Creek”, enumerou.

As festas eram de entrada livre e a ACAPO trouxe a Toronto nomes como Jorge Ferreira, Roberto Leal, Marco Paulo, Fernando Pereira, Paulo de Carvalho, Xutos & Pontapés, José Cid, GNR, Pedro Abrunhosa, Luís Represas e Santos & Pecadores. Os concertos enchiam e os programas tinham de ser sujeitos à aprovação de cada um dos clubes que integrava a Aliança.

O Milénio Stadium tentou ouvir Fernando Rio, o principal mentor da organização da Parada de Portugal, mas até ao fecho desta edição não obtivemos resposta.

Em 2017 Joe Eustáquio anunciou que não estava disponível para continuar à frente da ACAPO e foi criada uma comissão ad hoc com sete elementos. Kátia Caramujo foi nomeada presidente da Comissão e em declarações ao Milénio Stadium Caramujo garante que não está preparada para substituir Joe Eustáquio.

“Acho que estes problemas são naturais e fazem parte da vida de qualquer associação. Não quero abandonar a ACAPO, mas não me sinto à vontade para ser presidente.”, informou. Caramujo admite que sentiu “muita pressão nos últimos meses” e espera que na próxima reunião surja uma lista.

Kátia tem 30 anos e entrou para a ACAPO há cerca de dez. Hoje a associação representa cerca de 37 clubes, associações e ranchos folclóricos e cada um deles paga uma quota anual de $150.

Laurentino Esteves chegou a ser presidente da ACAPO e hoje está mais envolvido com os Poveiros Community Centre. Ao Milénio Stadium defende que hoje a importância da ACAPO se mantém, apesar de algumas críticas. “Há mais de 30 anos que a ACAPO tem um papel fundamental na organização da Semana de Portugal e de outros eventos. Acho que este projeto depende do empenho e da dinâmica de cada clube e defendo que é muito mais fácil promover a cultura portuguesa através da Aliança que funciona como uma federação”, opinou.

Laurentino diz ainda que o tecido associativo dos clubes “está muito cansado porque as direções sucedem-se umas às outras porque não existem listas novas”. Para além disse é difícil cativar a atenção dos jovens e lidar com as críticas. “As pessoas estão cansadas de levarem pontapés de todos os lados e muitas das vezes dos próprios colegas de direção. É difícil ter motivação, sobretudo se tivermos em conta que é um trabalho voluntário. Quando vim para o Canadá tinha saudades do folclore e da gastronomia de Portugal e juntei-me logo ao Clube dos Poveiros. A nova geração é diferente da nossa dos anos 70, já não tem aquele saudosismo português. Eles são mais instruídos e por isso diluem-se facilmente na cultura canadiana. É preciso reinventar e mostrar o Portugal moderno aos mais jovens”, adiantou.

Agora trazemos-lhe a visão de um presidente que está de saída e de outro que acabou de assumir a responsabilidade da presidência. Augusto Bandeira é presidente da Associação Cultural do Minho e questiona o modelo das comemorações da Semana de Portugal. “A ACAPO colocou a fasquia muito elevada. A nossa comunidade usufruiu gratuitamente de espetáculos de grande qualidade durante muitos anos e agora não há dinheiro. É impossível organizar festivais tão caros, para um clube apoiar a ACAPO nestas comemorações precisaria de pagar $5,000 por ano, o que é completamente incomportável”, referiu.

Bandeira está na reta final do seu mandato e já anunciou que não se vai recandidatar. Apesar disso, deixa algumas sugestões e mostra-se preocupado com o futuro. “Temos de criar uma equipa imparcial para a Parada de Portugal que represente cada região, senão qualquer dia não há parada. Precisamos de mais qualidade e de menos quantidade na promoção da etnografia e da gastronomia. Não vejo grande futuro na celebração da nossa cultural aqui em Toronto porque não há união. E um bom exemplo disso é a região do Minho que tem vários clubes”, justificou.

Joel Bastos é CEO da direção do Arsenal do Minho de Toronto e é um dos presidentes mais jovens dos clubes portugueses. Com apenas 29 anos Joel esteve ligado ao grupo folclórico do Arsenal durante alguns anos e também tem uma proposta diferente para as comemorações da Semana de Portugal. “A ACAPO é fundamental, apesar do futuro não ser muito risonho. Mas acho que em vez de trazermos artistas de Portugal, que são extremamente caros, se calhar podíamos organizar uma Semana de Portugal com jovens promessa de Portugal ou com os nossos artistas de cá. Faria sentido se os clubes se juntassem e cada um deles estivesse representado na Semana de Portugal que poderia ser no Brockton Stadium, junto ao Dufferin Mall onde se realizou o Feiras Novas. Por exemplo cada região teria o seu próprio dia com a atuação de um artista da sua área geográfica”, avançou.

Bastos explica que a realidade mudou e que mesmo assim o Arsenal consegue captar jovens. “A nossa comunidade está cada vez mais dispersa porque é difícil conseguir comprar casa em Toronto. Temos cada vez menos clubes portugueses, mas apesar de tudo na direção do Arsenal temos bastantes jovens. O nosso Rancho Folclórico tem 120 elementos e a média de idades vai dos 3 aos 20 anos”, disse.

O jovem que não gosta de títulos – “hoje sou presidente, mas não me revejo muito no título porque sinto que represento apenas a direção” – acha difícil avançar para a criação de uma Casa de Portugal. “No caso do Minho temos duas regiões muito diferentes. O Alto Minho e o Baixo Minho não têm nada a ver a nível cultural e gastronómico. Acho muito difícil agregarmos toda esta diversidade no mesmo espaço”, afirmou.

Jorge Ribeiro acredita que a organização que representou nos anos 80 vai mudar. “Não é fácil ser presidente desta organização e a própria comunidade está em transformação. É muito difícil prever o futuro e traçar cenários, mas acredito que nos próximos cinco anos muita coisa vá mudar na Aliança. Talvez até seja preciso começar do zero…”, vaticinou.

A próxima reunião da ACAPO está agendada para 10 de março às 11 da manhã na Casa do Alentejo de Toronto.

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