Comunidade

Desabafo Racional

Avelino Teixeira

Há dias, quando de manhã fazia a minha caminhada rotineira, deparei-me com uma mulher varrendo as valetas da estrada nas imediações da sua casa. Aparentava uns sessenta anos de idade (!?). Notei que estava cansada. Ao aproximar-me dei-lhe o bom dia e disse-lhe em tom brincalhão; você está trabalhando muito (you’re working too hard)!?. Ela parou e com um sorriso nos lábios aceitou o meu comentário, e em tom de exclamação disse: “não posso ver a estrada à volta da minha casa suja! Nos dias de hoje a câmara não a limpa!
As ervas daninhas crescem abundantemente por todo o lado na periferia da cidade! Parece que os impostos que ela nos cobra já não são o suficiente para pagar as despezas com a limpeza das estradas e dos parques. Alguns deles estão bem sujos com o lixo que para lá levam! No Inverno já não remove a neve das estradas nem dos passeios públicos, e ainda tem a coragem de nos obrigar a remover a neve dos passeios em frente das nossas casas quando deveria ser ela a fazê-lo. Os passeios são públicos! Antigamente havia menos gente do que agora a pagar impostos e o dinheiro dava para tudo. Atualmente parece não dar ou não sabem geri-lo como nós fazemos nas nossas casas. E como se isso ainda não bastasse, os conselheiros de quando em vez votam no aumento dos seus próprios salários sem previamente nos consultarem quando é com o nosso dinheiro que eles estão jogando! O que é que vamos fazer!?” Eu respondi; reclamar entrando em contacto com o seu conselheiro, ele tem o dever de a ouvir e a obrigação de agir. Ela retorquiu; “ah… ele só se lembra de mim ou passar pela minha porta aquando das eleições… Depois, segue lá o seu destino, e pronto!” Eu disse-lhe, não é bem assim, alguns preocupam-se com os seus constituintes! Depois dizia ela: “cheguei a este país há quase 40 anos, e como tudo era diferente! Naquela altura não havia lixo espalhado pelas ruas, nem garrafas ou latas vazias atiradas contra os passeios. Diziam-me que se eu fosse apanhada a atirar algo para o chão, nem que fosse a ponta de um cigarro, seria multada. Agora até parece que as autoridades têm medo de agir, fecham os olhos e ignoram o que está acontecendo. Aonde é que isto vai parar!? Há necessidade de educar as pessoas que aqui vão chegando, mas parece que não fazem isso. Acolhem-nas bem, porque claro, são humanas, mas depois parece que têm medo delas! Até para acomodar algumas, querem retirar os crucifixos das escolas e eliminar a oração no início das aulas! Talvez seja por causa dos direitos humanos e das religiões a que elas pertencem?! Mas retirar uma oração para implementar outra? Não faz sentido! Até porque as jornalistas de países ocidentais quando vão trabalhar em certos países orientais têm que cobrir a cabeça em sinal de respeito para com tais países. Porque não fazem o mesmo as pessoas desses países quando vêm para aqui? O Canadá tem 150 anos de idade, é um país pacífico e maravilhoso que abre as suas portas a toda a gente que venha por bem, e até a outros mal-intencionados, mas as suas leis, os seus costumes e as suas tradições são para ser respeitadas. Quem não se sentir bem que se mude! É assim que eu penso!” Não pude evitar uma gargalhada de consentimento que tanto bem me fez naquela manhã!
Despedi-me da minha interlocutora e fui a caminho de casa meditando na minha conversa com aquela desconhecida mulher, de cuja desconheço o endereço exato, que me pareceu ser uma excelente pessoa e muito preocupada com a aparência da estrada onde mora e com o estado higiénico geral do país que a acolheu há quase 40 anos. E caminhando dizia eu para “os meus botões”: ela tem razão! Eu também me sinto da mesma forma! Vivo nesta zona chamada York, pertença agora da Grande Área De Toronto, há mais de quarenta anos e nunca a vi tão suja como está agora. Há latas, garrafas vazias, sacos com restos de comida atirados ao chão por todo o lado, carros de metal que se usam para fazer compras nos supermercados abandonados ao longo das estradas e outros a serem usados pelas pessoas que entregam ao domicílio jornais e outros meios de propaganda comercial. Como pode isto acontecer? E perguntava a mim próprio; será que nos esquecemos que depois somos nós a pagar pela perda de tais utensílios através dos preços, por vezes exagerados, dos alimentos que compramos? Pois claro… Os supermercados não querem perder dinheiro… Eu procederia da mesma forma… E continuava a perguntar “ aos meus botões”; mas porque não agimos? Ah… pois… É um facto… Andamos todos com medo uns dos outros e a “caravana vai passando”. Mas a continuar assim creio que o Canadá vai parecer um país desgovernado e isso assusta-me. Já tenho medo de usar o METRO porque medito no que está acontecendo em outros países, e não estamos imunes a que algo idêntico nos aconteça. Uso então os transportes públicos ao cimo da terra, mas fico triste e mal-humorado com o lixo que vejo no chão dos mesmos, com indivíduos que descansam os pés na cadeira ao lado ou em frente deles, com a música que se ouve através dos auriculares de certos indivíduos, com jovens que não oferecem o assento aos mais idosos, pessoas doentes, ou senhoras com bebés, e com a atitude dos condutores que não agem e não impõem a ordem. Será que não podem, ou não devem?! Mas afinal para onde caminhamos? Será que ser-se um país exemplar é apenas abrir-se as portas escancaradamente a quem precisa de entrar? Não! Na minha ótica, um país deve ser como um pai que ama os seus filhos mas que também os castiga quando necessário. Embora isso lhe custe muito é a sua obrigação como chefe do agregado familiar. E na minha perspetiva é assim que os nossos governantes e as nossas autoridades têm que agir, caso contrário esta imensa família que todavia vive tranquilamente em paz e harmonia pode um dia desintegrar-se, e ai do meu adorado Canadá se isso acontecer (…).

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