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Cristina Martins, candidata Liberal à área de Davenport

“Nós atribuímos apoios aos clubes e às associações portugueses que se calhar outros políticos sem vínculo à nossa comunidade não estarão interessados em fazê-lo”

O Milénio Stadium entrevistou esta semana Cristina Martins, candidata Liberal à área de Davenport. Cristina é natural de Gouveia (distrito da Guarda) e tem dois filhos.
Em 2014 tornou-se na primeira mulher luso-canadiana eleita como membro do governo de Ontário. Formada em Química Aplicada e Biologia pela Universidade de Ryerson, em Toronto, a candidata conta com uma larga experiência na área farmacêutica. Martins quer continuar a representar a comunidade que a “enche de orgulho” e promete continuar a “trabalhar arduamente para que Davenport tenha cada vez mais qualidade de vida”.

Milénio Stadium: Nasceu em Portugal mas cresceu em Davenport. Acha que isso lhe dá vantagem nestas eleições?
Cristina Martins: Acho que sim. A minha ligação a Davenport e à comunidade portuguesa é forte. Passei a minha infância em Davenport e na idade adulta continuei sempre por perto. Frequentei os bailes e as festas portuguesas, fiz parte da UTPA (University of Toronto Portuguese Association) nos anos 80 e ainda hoje essa ligação à comunidade é bem forte. Davenport é a área que tem mais portugueses em todo o país e acho que é muito importante sermos representados por alguém que fale português e que compreenda bem a nossa comunidade e as suas necessidades. Ainda hoje apareceu uma senhora no meu escritório que mora noutra área e que veio cá propositadamente pedir uma informação porque não falava inglês.

“Anunciei com o Ministro das Finanças 256 licenças para a Magellan Community Care que vai ser uma casa completamente dedicada aos idosos que falam a língua portuguesa”

MS: Quais são as maiores queixas dos portugueses que vivem nesta área?
CM: Os portugueses defendem que devíamos ter mais programas e serviços de apoio aos idosos. No nosso orçamento temos acesso a 750 dólares sempre que há um idoso com mais de 75 anos numa habitação. As famílias podem utilizar esse dinheiro para ajudar no orçamento familiar, para limpar a neve, cortar a relva ou limpar a casa. Outra das queixas é a falta de um lar de apoio à terceira idade. Recentemente anunciei com o Ministro das Finanças, Charles de Sousa, 256 licenças para a Magellan Community Care que vai ser uma casa completamente dedicada aos idosos que falam a língua portuguesa. Na maioria das vezes eles falam e entendem inglês melhor do que acham mas acontece que se sentem mais confortáveis na língua mãe.

“Nós portugueses somos uma comunidade que tem muito a contribuir e mesmo assim só 20% dos luso-canadianos é que votam e a nossa representação na política é muito baixa”

MS: Os portugueses estão a perder representação política no Canadá.
CM: Isso preocupa-me muito. Nós portugueses somo uma comunidade que tem muito a contribuir e mesmo assim só 20% dos luso-canadianos é que votam e a nossa representação na política é muito baixa. A nível provincial somos só três, eu, o Charles Sousa (Ministro das Finanças) e a Teresa Armstrong (MPP de London-Fanshawe). A nível federal temos o Peter Fonseca e a nível municipal a Ana Bailão.
Nós atribuímos apoios aos clubes e às associações portugueses que se calhar outros políticos sem vínculo à nossa comunidade não estarão interessados em fazê-lo.

“Vamos ter mais 130 creches em Davenport, o que representa um investimento de 2,7 milhões de dólares”

MS: Nos últimos quatro anos representou a área de Davenport. Que balanço é que faz deste mandato?
CM: Foram quatro anos de muito trabalho mas muito gratificantes. Com a implementação do Regional Express Rail (RER) vamos ter comboios de 15 em 15 minutos na rede de comboios da GO. Em 2015, para facilitar a implementação de RER na linha de Barrie (Barrie – Union Station), a Metrolinx apresentou o projecto “Davenport Diamond” à comunidade. A comunidade quis uma estação GO na Lansdowne e Bloor, mas não foi fácil consegui-la. Fizemos muita pressão junto do Ministro dos Transportes. Vamos ter mais 130 creches em Davenport, o que representa um investimento de 2,7 milhões de dólares. O nosso bairro tem muitos artistas e é importante que apoiemos a cultura e o turismo. O Museu de Arte Contemporânea mudou-se da Queen St. W. para a Sterling Road. Durante quase um ano trabalhei para assegurar um investimento do governo de 5 milhões de dólares para a deslocalizaçāo do Museu. O Museu vai ser inaugurado no final do verão e vai ser de certeza um ponto fulcral em Davenport e em toda a cidade. Com a venda de 7,3 hectares na esquina da Dufferin e Bloor, consegui que incluíssemos 30,000 pés quadrados para um “community hub”, 7 milhões de dólares para a ajuda da construção do “hub” e 20 milhões de dólares para uma nova escola na propriedade da antiga Brockton High School.
Apoiei e ajudei muitos clubes e associações com os seus pedidos para vários fundos governamentais, por exemplo o First Portuguese, o Amor da Pátria, a Federação (FPCBP), a Casa do Alentejo e o Abrigo.
Tive também dois projectos de lei que se tornaram lei. O primeiro declara outubro como o mês do Património Hispânico, quando em toda a província de Ontário se celebra e se reconhece as contribuições da comunidade hispânica. O segundo, “Putting Your Best Foot Forward”, foi incluído numa lei do governo que proíbe os empregadores de exigirem que os funcionários usem sapatos inseguros no trabalho (salto alto).

“Conseguimos reduzir o tempo de espera de algumas cirurgias e aumentámos o número de médicos de família por habitante”

MS: Em janeiro deste ano entrou em vigor o OHIP+. São mais de 4.400 medicamentos gratuitos para jovens até aos 25 anos.
CM: Os medicamentos pesam muito no orçamento familiar e por isso decidimos ajudar as famílias. Eu tenho dois filhos, sei muito bem o que custa. Fizemos numa primeira fase para os jovens e agora estamos a alargar aos idosos. Os seniores que têm mais de 65 anos também vão ter acesso a medicamentos gratuitos. Esta é uma das nossas prioridades. É importante notar que no plano do NDP eles prometem oferecer medicamentos gratuitos para todas as idades mas só para 125 medicamentos.

MS: Trabalhou vários anos na área farmacêutica, como é que vê hoje a saúde em Ontário?
CM: A minha experiência pessoal com a minha família e com os meus filhos é muito boa. Mas sei que há pessoas que não têm a mesma opinião. Os Liberais têm investido milhões de dólares neste sector e este ano reforçámos o investimento em hospitais. Conseguimos reduzir o tempo de espera de algumas cirurgias e aumentámos o número de médicos de família por habitante. Hoje temos 220 médicos por cada 100 mil habitantes. Em 2012 eram apenas 203.

“Os conservadores fecharam hospitais e despediram 6 mil enfermeiros”

MS: O candidato do PC a Davenport acusa os Liberais de terem estragado o serviço de saúde.
CM: O nosso serviço público de saúde é muito bom em Ontário. Hoje temos mais profissionais de saúde do que quando o PC estava no poder. É importante lembrar que os conservadores fecharam hospitais e despediram 6 mil enfermeiros. Nós fizemos precisamente o contrário, abrimos novos hospitais e reforçámos o número de profissionais de saúde. Hoje temos mais médicos e mais enfermeiros.

“Não estamos a atacar as pequenas empresas, antes pelo contrário, estamos a apoiá-las. Já reduzimos a factura da electricidade de pequenas empresas e de quintas em toda a província”

MS: O candidato do PC a Davenport diz que os Liberais atacaram as pequenas empresas e que estão preocupados apenas com as eleições em vez de estarem preocupados em construir Ontário.
CM: Cerca de 1/3 dos ontarianos trabalha neste tipo de empresas que contribuem de forma significativa para o sucesso da nossa economia. Não estamos a atacar as pequenas empresas, antes pelo contrário, estamos a apoiá-las. Já reduzimos a factura da electricidade de pequenas empresas e de quintas em toda a província, inclusive em Davenport. Cortámos a Corporate Income Tax das pequenas empresas em cerca de 22%.

MS: Se for eleita, a candidata do NDP a Davenport diz que vai trabalhar para que os habitantes da província enfrentem menos trânsito e tenham casas mais acessíveis. Qual é o plano dos Liberais para baixar o preço da habitação e diminuir o trânsito?
CM: Nenhum governo investiu tanto em transportes. Em dez anos vamos investir 106 mil milhões de dólares em transportes e em infraestruturas de trânsito. Construímos estradas, linhas e estações de comboio, pontes e autoestradas. Temos o Union Pearson (UP) Express com ligação da Union Station ao Aeroporto em 25 minutos, a extensão da linha 1 do metro até Vaughan, o Eglinton Crosstown LRT. E queremos continuar a investir para melhorar o trânsito em Ontário.
No capítulo de casas acessíveis criámos legislação para garantirmos a existência de áreas inclusivas. Sempre que se constrói um novo prédio o construtor é obrigado a ter apartamentos a preços mais acessíveis. No nosso Fair Housing Plan criámos regras para o arrendamento. Antes existia apenas para casas e prédios construídos antes de 1991 mas agora foi alargado a todos. Este ano o senhorio só tem direito a aumentar o valor da renda em 1,8%, isso dá mais segurança às famílias. O NDP está a fazer muitas promessas mas não sabemos como as vão implementar. A própria Andrea Horwath já admitiu que existia um erro no seu plano orçamental de cerca de 1.4 mil milhões de dólares anuais.

“Criámos mais ciclovias e criámos a lei que obriga os condutores e os ciclistas a manterem 1 metro de distância entre si nas faixas onde circulam”

MS: Este ano já morreram 11 ciclistas em Toronto e 20% dos ciclistas da cidade dizem já ter sofrido pelo menos um acidente grave na sua vida. A candidata dos Verdes a Davenport quer ruas mais seguras e melhores infraestruturas para ciclistas e pedestres.
CM: Já fizemos muito nesta área. Criámos mais ciclovias e criámos a lei que obriga os condutores e os ciclistas a manterem 1 metro de distância entre si nas faixas onde circulam.

“Sugeri ao Ministro Federal da Imigração que começássemos por um grupo pequeno de indocumentados, (…) depois poderíamos (…) legalizar os outros”

MS: Em dezembro de 2017 enviaste 1 carta ao Ministro Federal da Imigração onde manifestavas a tua preocupação em relação aos indocumentados. O Ministro respondeu esta semana e garantiu que “os indocumentados não têm uma solução única”. Esta era a resposta que pretendias?
CM: Em Ontário estima-se que existam entre 300 e 500 mil indocumentados. Este problema é muito grave e afecta muitas pessoas na minha área, portugueses e não só. Tenho escrito várias cartas ao nosso ministro e continuo a lutar para que encontremos uma solução para estas famílias. Nós melhorámos o sistema e acabámos com o “four in, four out” que os conservadores tinham imposto, em que o trabalhador podia trabalhar até o máximo de quatro anos no Canadá, depois tinha que sair do país e só depois de quatro anos é que tinha a hipótese de voltar. Mas a verdade é que todos os dias entram pessoas no meu escritório a pedir ajuda. Alguns são enganados por advogados ou consultores de imigração, pagam balúrdios e já receberam ordem de deportação.
Sugeri ao Ministro Federal da Imigração que começássemos por um grupo pequeno de pessoas. Aqueles que entraram legais mas que foram vítimas do sistema “four in, four out” e que acabaram por perder o estatuto, por exemplo. Depois poderíamos criar um outro tipo de programa para legalizar os outros, na construção civil, na restauração ou na hotelaria.
Temos de encontrar uma solução para este problema, não sei se será um projeto piloto ou uma amnistia. Nunca utilizei nenhum dos termos mas garanto que vou continuar a lutar pelos interesses da comunidade que represento.

MS: Acha que esta obrigação de sair e voltar a entrar no país contribuiu para o aumento dos indocumentados no país?
CM: Sem dúvida. Muitas pessoas vinham com autorização de trabalho ou legalizaram-se depois de cá estarem e tinham a possibilidade de renovarem os seus contractos de trabalho as vezes que quisessem. Quando os conservadores criaram um limite de apenas quatro anos de contracto de trabalho muitos foram aqueles que optaram por não sair do país e continuaram por cá. Esta é a realidade de muitos dos atuais indocumentados.

“Este intercâmbio entre os países é fantástico porque permite partilhar conhecimento e cultura [acordo de mobilidade para jovens]”

MS: Na resposta à sua carta o Ministro fala na existência de vários programas de imigração, nomeadamente o Express Entry e o Temporary Foreign Worker Program. Mas nenhum deles resolve o problema dos indocumentados que já cá estão?
CM: O programa de Express Entry funciona com pontuação e alguns dos critérios são a idade da pessoa e o nível de inglês ou francês. Mas nem todos os indocumentados têm o nível de inglês ou francês necessário para participarem neste programa. Quanto a mim, temos de criar um programa que não exija um nível tão elevado de inglês ou francês. O Temporary Foreign Worker Program é um programa para trabalhadores temporários que poderá servir como um eventual caminho para a legalização mas que ainda requer um certo nível de inglês ou francês.

MS: O Canadá precisa de recrutar 250 mil trabalhadores para desenvolverem a nova rede de transportes. Acontece que o sector da construção civil não tem este número de trabalhadores. Como é que o governo vai resolver esta questão?
CM: Este foi um dos pontos que sublinhei na carta ao Ministro Federal da Imigração. Ainda há pouco o governo Federal anunciou o National Housing Strategy, um plano que prevê a construção de milhares de casas acessíveis. Pergunto-me como é que vamos construir tantas casas sem trabalhadores? Os indocumentados já cá estão e mesmo assim não são suficientes.

MS: Recentemente tivemos a visita oficial do PM de Portugal ao Canadá. Os 2 países assinaram em Otava um acordo para a mobilidade dos jovens. Achas que o Canadá precisa apenas de imigrantes qualificados?
CM: Este intercâmbio entre os países é fantástico porque permite partilhar conhecimento e cultura. Este acordo já existia entre o Canadá e outros países e agora finalmente Portugal faz parte da lista.

Joana Leal

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