Comunidade

“A cultura não tem dono. É de todos nós” Tertúlia Viva: celebrar o folclore com alma e paixão

Créditos: Francisco Pegado

Foi na passada sexta-feira, 2 de maio, que se realizou uma verdadeira mostra de folclore, onde estiveram em cima da mesa questões tão sensíveis e importantes como a arte e o porquê de “ourar” (colocar ouro), o trajar tradicional vianense e muitos outros aspetos da cultura mais bela e espontânea – a que vem da alma do povo.

Créditos: Francisco Pegado
Créditos: Francisco Pegado

Assim, o Centro Cultural Português de Mississauga (CCPM) foi palco desse encontro que acabou por ser uma autêntica mostra, uma verdadeira tertúlia dedicada ao folclore que tem tanto de popular como de formal, para quem quiser cumprir a tradição como “manda a lei do bem fazer e representar”.

Presente neste fórum dedicado ao folclore esteve Laurentino Esteves, comendador e desde sempre um amante desta arte popular, que realçou à nossa reportagem: “Esta é uma iniciativa muito louvável, pois juntar pessoas numa associação portuguesa, como é o caso,  para falar de folclore, é ter um dia ganho. Estas iniciativas são louváveis e necessárias, porque o folclore é uma representação do que era no final do século XIX e início do século XX. Mas convém que seja sempre aperfeiçoado e, de vez em quando, é preciso ir beber à fonte.” Um dos homens que mais respira folclore na comunidade luso-canadiana aproveitou para deixar uma mensagem: “Todos nós somos agentes culturais. A cultura não tem donos. Iniciativas individuais, coletivas, de onde quer que venham, são sempre bem-vindas.

Há que unir esforços e, neste caso, unir mentalidades com a noção de que a cultura não pertence a ninguém; é de todos. Cabe-nos a nós ser os primeiros a interiorizá-la e, depois, a divulgá-la. E é isto o folclore: juntar esforços, colaborar todos para o mesmo fim, sem divisões nem protagonismos. Isso não é necessário. O que é necessário é contribuir para algo maior: a cultura portuguesa, neste caso, o folclore.”

Como poveiro, Laurentino Esteves aproveitou o encontro para oferecer ao rancho do CCPM um traje completo da sua terra natal. A tertúlia, organizada pelo grupo “Amigos de Viana”, bem como toda a viagem de 21 bailarinos e músicos, representando nove grupos folclóricos da Associação de Grupos Folclóricos do Alto Minho, teve a liderança de Augusto Bandeira, que nos confidenciou que os grupos locais “agora possam tirar verdadeiro proveito deste tipo de iniciativas”.

“Temos aqui excelentes grupos folclóricos. E não nos causa qualquer dano, nem fere ninguém, recebermos a visita de pessoas que vêm de uma região com uma tradição folclórica rica, como é o caso de Viana do Castelo. Eles não vêm ensinar ninguém, mas acredito que todos nós vamos sair a ganhar.”

Bandeira, um homem que sente Portugal e Viana no coração, frisou que “a cultura na nossa comunidade precisa de crescer. Está num bom ponto, mas pode, e deve, evoluir. Temos muitos jovens envolvidos nos nossos grupos folclóricos. E não custa nada passarmos o testemunho, para que eles possam dar continuidade ao trabalho, mas com qualidade. É isso que eu defendo: qualidade.” Por seu turno, Mafalda Rego, coordenadora do grupo, realçou com emoção: “O Canadá é muito especial. O meu avô viveu aqui mais de 20 anos, em St. John’s. E há uma grande ligação entre Viana do Castelo e este país, por causa da pesca do bacalhau.”

“É bom que quem emigrou continue a manter viva essa ligação e esta cultura. Nós não estamos aqui para ensinar nada a ninguém. Estamos aqui para ajudar, para contribuir e para ajudar a perceber certos detalhes: o modo de trajar, as formas de ourar, as danças e as músicas tradicionais”, vincou.

Para Flávio Cruz, um dos elementos-chave desta equipa cultural, esta “iniciativa é mais do que um espetáculo: é uma verdadeira embaixada cultural de Viana. Reunimos vários grupos folclóricos do concelho, que se juntaram, pela primeira vez, com o propósito comum de apresentar um espetáculo representativo da nossa identidade.”

“O nosso objetivo é construir pontes, criar ligações, para que estas relações que hoje nascem possam, no futuro, resultar em projectos conjuntos e num apoio mútuo real”, asseverou Flávio, insistindo que “as comunidades portuguesas pelo mundo fora, em cada país, em cada região — não precisam de ser uma só, mas, se conseguirem trabalhar em conjunto, desenvolver projectos comuns e colaborar, alcançarão um impacto e uma força imensuráveis.”

À nossa reportagem, Cândido Torres, elemento da seleção de Viana, sempre bem-disposto, descreve a participação no encontro folclórico no Canadá como a concretização de um sonho iniciado em 2010, quando entrou no folclore. Sempre desejou representar, além-fronteiras, a riqueza dos mais de 20 grupos folclóricos de Viana do Castelo, reunindo-os num projecto comum.

Salienta que “não veio para ensinar”, mas para “partilhar o trabalho feito, respeitando a tradição e valorizando a autenticidade do trajar, da música e da dança”. Defende que “a cultura é uma partilha mútua e que esta iniciativa é uma oportunidade para aprender e fortalecer os laços com a comunidade portuguesa no Canadá”.

E assim, numa tertúlia acesa de memórias e emoções, o Canadá foi chão de saudade e semente de futuro. De Portugal vieram vozes, passos, cores e tradições, e aqui encontraram eco nos corações que nunca esqueceram a raiz. Neste encontro cultural não houve, em nenhuma ocasião, mestres nem aprendizes,  apenas partilha. Porque a cultura não tem dono, mas tem herdeiros. E são estes: os que dançam, os que cantam, os que vivem e os que mantêm viva a tradição e a cultura seja ela de onde for.

Rómulo Medeiros Ávila/MS

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