Editorial

Os Bancos Famintos

 

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É até irónico que a palavra ‘banco’ tenha sido escolhida para se juntar à palavra ‘fome’ para prenunciar uma calamidade que aflige o mundo atualmente. Enquanto os bancos batem recordes de lucro à custa dos cidadãos, muitos dos quais que ficaram sem opções económicas e veem-se obrigados a escolher entre a renda e a alimentação, o banco onde 1.5 milhões de canadianos recorrem para aceder ao seu sustento diário não está a arrecadar milhões em lucro.

As visitas aos bancos alimentares aumentaram em 35% desde o ano passado e a tendência é que continuem a aumentar. Os Food Banks Canada, que analisaram dados referentes a 4,750 bancos alimentares espalhados pelo país, concluem que existiram cerca de 1.5 milhões de visitas a bancos alimentares em março de 2022. A inflação elevada e a fraca assistência social estão a alimentar a necessidade, particularmente daqueles que se encontram com rendimentos fixos como os reformados. Contudo, recentemente, vários jovens, especialmente aqueles que vivem sozinhos em áreas urbanas, têm vindo a recorrer a bancos alimentares a ritmos alarmantes. O que quebrou a rede de segurança da sociedade de um país como o Canadá e outras “economias ricas” a nível mundial? O Canadá está a experienciar uma elevada inflação e os seus efeitos estão decididamente a ter um papel no desenvolvimento de uma crise. Ao mesmo tempo, o Canadá tem milhares de ofertas de emprego por preencher, e a economia está a produzir impostos para os governos ao ponto de Ontário declarar que está financeiramente saudável e que pode eliminar o seu deficit. A questão coloca-se em como equilibrar o aumento da fome no Canadá em comparação com outros indicadores económicos saudáveis. É uma crise estranha que afeta os mais desfavorecidos, mas porque é que empregos que pagam bem não estão a ser preenchidos e milhares de empresas se encontram a implorar por trabalhadores? O governo federal não está a acelerar as aprovações de imigração para acomodar trabalhadores para as indústrias mais necessitadas.

O Governo de Ontário está a tornar as regras do programa de nomeados mais complexas, piorando ainda mais as hipóteses de ganhar bons imigrantes dispostos a trabalhar nesta província. A matemática é simples, sem trabalhadores o país não progride, e a nossa economia sofre, pondo em causa a independência dos desfavorecidos.

Para aqueles de nós que passam fome devido ao seu posicionamento social ou agitação política, essa experiência cria um complexo de inferioridade, vergonha e negativismo. Implorar ou pedir bens básicos, como comida e abrigo, conduz um ser humano a um lugar mentalmente desolador. “A maré crescente da tristeza global”, tal como David Brooks sugeriu na sua coluna no New York Times, está a intensificar-se, à medida que as emoções negativas se difundem e os problemas de saúde mental crescem. O mundo cheio de pressões e emoções negativas devido a guerras, fome, violência e desigualdades sociais está a criar uma subcultura que está a adotar uma atitude derrotista sobre a sua capacidade de conquistar o sucesso na sua vida. A fome alimenta impulsos negativos e um inquérito da Gallup afirma que 62% das pessoas sentem-se indiferentes no seu trabalho e 18% sentem-se miseráveis, portanto, a maioria dos trabalhadores vive num idealismo insatisfeito, logo, com vidas infelizes.

Os bancos alimentares não são a resposta para um dilema social que está a atingir proporções críticas. Aqueles que contribuem regularmente para os bancos alimentares estão a alimentar um problema que não pode continuar, mesmo que a nível pessoal satisfaçam uma necessidade social. Este problema requer uma abordagem integrada entre todos os níveis de governo. Quando os políticos escolhem gastar $7,000.00 por noite num quarto de hotel, mas não conseguem resolver questões básicas de fome e problemas sociais nos seus países, então as prioridades tornam-se redundantes à medida que a visão do serviço público se desintegra. Tem que se parar com o autoengrandecimento na política e o público tem de forçar o fim da participação de figuras públicas que contribuem muito pouco para o melhoramento deste país. Vamos alimentar os pobres, pôr os preguiçosos a trabalhar e adotar medidas sociais que, a longo prazo, trarão felicidade em vez de dor.

“A recompensa de um trabalho bem feito, é fazer mais” (Jonas Salk). É disto que o Canadá necessita.


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Editorial in english

The Hungry Banks

It is ironic that the word banks was chosen to get together with the word food to denote a calamity currently afflicting the world. While banks are making record profits at the expense of citizens, many of whom run out of economic options and have to choose between rent and food, the bank where 1.5 million Canadians get their daily sustenance is not raking in billions in profits.

Visits to food banks have increased by 35% in the past year and its usage is trending upwards. The Food Banks Canada, which obtained data from 4,750 food banks across the country, reports that there were 1.5 million visits to food banks in March 2022. High inflation and low social assistance are fueling the need, particularly those in fixed low incomes such as retirees. However, recently many young people, especially those living alone in urban areas, have been using food banks at an alarming rate. What has broken the social safety net of a country such as Canada and other “rich economies” worldwide? Canada is experiencing inflation and its effects are certainly playing a role in this developing crisis. However, Canada has thousands of jobs that go unfilled, and the economy is producing taxes for governments to a point that Ontario declared to be financially healthy and can eliminate its deficit. The question is how to balance an increase in hunger in Canada in comparison to other healthy economic indicators. It is a strange crisis that affects the disadvantaged, but why are good paying jobs being unfilled and thousands of companies begging for workers? The federal government is not accelerating immigration approvals to accommodate workers for the trades that are most in need.

The Ontario government is tightening rules for the Nominee Program, further exacerbating opportunities to gain good immigrants willing to work in this province. The math is simple, without workers, this country will not progress, and our economies will suffer, further jeopardizing the social independence of those in need.
For those of us who have experienced hunger due to social positioning or political upheaval, the experience is one that creates complexes of inferiority, shame and negativism. Begging or asking for basic staples such as food and shelter takes a human being to a desolate place mentally. “The rising tide of global sadness” as David Brooks suggested in his New York Times column is intensifying as negative emotions become pervasive and mental health issues increase. The world filled with pressures and negative emotions due to wars, hunger, violence and social imbalances is creating sub-cultures, which are adopting a defeatist attitude about being unable to achieve success in life. Hunger feeds negative impulses and a Gallup survey says 62 percent of people are indifferent on the job and 18 percent are miserable, thus the majority of those working live in an unsatisfied idealism thus unhappy lives.

Food banks are not the answer to a social dilemma, which is reaching critical proportions. Those who regularly contribute food to the banks are feeding a problem, which cannot continue even if on a personal level they fulfill a social need. This problem requires a more integrated approach by all levels of government. When politicians choose to spend $ 7,000.00 per night for a hotel room but cannot solve basic hunger and social problems in their countries, the priorities become redundant as the vision of public service disintegrates. There has to be a stoppage of self-aggrandizement in politics and the public has to implement closure of enablement of public figures that contribute very little to the betterment of this country. Let us feed the poor, put the lazy to work and adopt societal measures, which in the long-term will bring happiness instead of pain.

“The reward for work well done is to do more” (Jonas Salk). This is what Canada needs.

Manuel DaCosta/MS

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