John Denver escreveu uma canção popular chamada “I’m leaving on a Jet Plane” (Vou-me embora num avião a jato). Uma bela melodia que se fosse cantada hoje traria ansiedade a todos aqueles que planeiam uma viagem.
Este verão, as viagens áreas tornaram-se num inferno e não serão reparadas tão cedo. Os aeroportos estão atormentados por filas infernais de pessoas nos check-ins, na zona de segurança, no andar de baixo e no andar de cima, e muitas vezes até no terminal de entrada. Por toda a Europa, Estados Unidos e Canadá as pessoas esperavam um verão com um retorno de viagens feliz, em vez disso foram confrontados com uma estação de anarquia. Quem é o culpado por esta confusão? Será o aumento do interesse em viajar, a falta de trabalhadores, ou a incompetência governamental por não se ter preparado para os requisitos de viagem pós-pandemia? É óbvio que as companhias aéreas que despediram milhares de trabalhadores não esperavam este surto de viagens e não conseguem acomodar os seus clientes, fazendo com que todos os trabalhadores dos aeroportos fiquem sobrecarregados e stressados como nunca antes. Uma “montanha de bagagens” na saída que continua sem ser reivindicada durante dias, em muitos aeroportos algumas estão a cheirar tão mal que nem os trabalhadores lhes pegam. Alguns analistas sugerem que existiu um crescimento equivalente a 40 anos em apenas quatro meses e que essa é a causa da pressão vivenciada na indústria de aviação. A continuidade das restrições de viagem em muitos aeroportos causou atrasos nos balcões de imigração resultando em contratempos na aproximação dos aviões às portas de embarque, o que resultou em vários cancelamentos e a perda de vários voos de conexão para outras cidades. Estima-se que devido à Covid-19, a indústria de aviação global perdeu cerca de 2.3 milhões de empregados ou 21% da sua mão de obra. A exaustão está a entranhar-se nos funcionários e passageiros e eles terão de conviver com a incerteza do que as viagens aéreas fornecerão devido ao stress dos trabalhadores e viajantes. Neste momento existe uma relação de amor-ódio entre os passageiros e as companhias aéreas, mas há uma correlação com os governos, cuja inação e falta de soluções estão a contribuir para a desordem atual. Frederick Douglas disse, “A vida de uma nação apenas está segura enquanto a nação for honesta, verdadeira e virtuosa”. Os canadianos não estão a receber nenhum desses mandamentos por parte dos líderes. O nosso ministro dos Transportes vai ao ponto de culpar os viajantes ignorantes pelos problemas dos aeroportos. Entretanto, somente o ato de conseguir um passaporte pode demorar meses, frustrando os sonhos de muitos aspirantes a viajantes. É difícil aceitar que as agências governamentais, que nos últimos dois anos estiveram sentados em casa, não poderiam ter aumentado os serviços para lidar com os pedidos dos canadianos. A nossa singularidade enquanto país civil e organizado não passa de uma história trágica de ineficiência e o nosso primeiro-ministro não se deve gabar das gretas na base do nosso sistema, exceto, é claro, no que se refere à cobrança de impostos e royalties dos seus cidadãos.
Para aqueles que querem ser atendidos em consulados como o de Portugal em Toronto, os encerramentos e a falta de pessoal continuam a atormentar os escritórios e, assim, estão a ser prestados serviços mínimos a quem necessita de viajar e de tratar de outros documentos. Este problema existe desde antes da pandemia, em que na melhor das hipóteses os serviços eram medíocres, mas recentemente têm vindo a agravar-se. Pode-se supor que a situação é indicativa da falta de respeito do Governo português pelos imigrantes, como tem sido o caso historicamente, e a curto prazo não parece avistar-se esperança de que as condições melhorem. Deveríamos exigir melhores respostas dos nossos representantes que remetem explicações ao governo central em Portugal. Os imigrantes portugueses em cidades como Toronto merecem uma liderança que esclareça esta situação que todos os dias impacta negativamente centenas de pessoas. Para um país cujo futuro económico depende do turismo, o governo não está a implementar medidas progressivas que respeitem aqueles que não vivem na pátria. As estruturas políticas precisam de mudar para garantir que as declarações e discursos sejam mais do que palavras para acomodar as linhas partidárias. Os imigrantes vivem com a realidade de serem sempre cidadãos de segunda categoria e isso tem de ser mudado.
“Qualquer conhecimento que não conduz a novas questões morre rapidamente.” O conhecimento e a realidade são conhecidos. Mantenha-os vivos ou retraímo-nos e perecemos. Responsabilize sempre aqueles que estão no poder pelos seus deveres.
Viaje com cuidado.
Manuel DaCosta/MS
Version in english
So, you want to travel?
John Denver penned a popular song called “I’m leaving on a jet plane”. Nice tune which if sang today would bring anxiety to everyone planning a trip.
Air travel is hell this summer and it won’t be fixed anytime soon. Airports are plagued by hellish lines of people at check-ins, security, downstairs, upstairs and often to the terminal entry. Desperate travelers are losing flights, and airlines are cancelling thousands of flights each day. Across Europe, United States and Canada, people hoping for a summer of travel’s joyful return have instead been confronted with a season of anarchy. What’s to blame for this mess? Is it the surging demand for travel, lack of workers, or governments incompetence in not having been prepared for post-pandemic travel requirements? It’s obvious that airlines having laid-off thousands of workers did not expect this surge in travel and cannot accommodate their clients, causing employees at all areas of airports to be overworked and stressed like never before. “Mountains of baggage” at exit belts remaining unclaimed for days, some smelling so bad at many airports that even baggage handlers stay away. Some analysts have suggested that there has been 40 years of growth in just four months and that’s the cause of the pressure in the aviation industry. Continued travel restrictions at many airports cause delays at immigration counters resulting in setbacks to airplanes approaching gates, which results in many cancelled and missing connections to other cities. It is estimated that because of Covid-19, the global aviation industry has lost 2.3 million employees or 21% of its workforce. Exhaustion is starting to creep in with existing employees and passengers and they will have to live with the uncertainties which air travel will provide due to stress of workers and travellers. There is currently a love-hate relationship between travellers and airlines, but there is a correlation to governments whose inaction and lack of solutions are contributing to the current mess. Frederick Douglas said, “The life of nation is secure only while the nation is honest, truthful and virtuous”. Canadians are getting none of these commandments from leaders. Our transportation minister even goes as far as blaming ignorant travellers for airport issues. In the meantime, just getting a passport can take months, dashing the dreams of many would-be travellers. It’s difficult to accept that government agencies who have spent the last two years sitting on their rear-ends at home could not have ramped up services to deal with the requirements of Canadians. Our uniqueness as a civil and organized country is nothing but a tragic story of inefficiency and our prime minister should not flatter himself with the cracks on the foundation of our systems, except of course as it relates to collection of taxes and royalties from its citizens.
For those who hope to be attended at consulates such as the Portuguese in Toronto, closures and lack of staffing continue to plague the offices and thus minimal services are being provided to those who require travel and other documents. This problem existed prior to the pandemic where services were mediocre at best but have been acerbated recently. It could be assumed that the situation is symptomatic of the Portuguese government’s lack of respect for immigrants as has been historically the case and hope that conditions would get better do not appear to be forthcoming in the short-term. We should demand better answers from our representatives who refer explanations to the central government in Portugal. Portuguese immigrants in cities such as Toronto deserve leadership to provide clarity on a situation that is negatively impacting hundreds of people each day. For a country whose economic future is dependent on tourism, the government is not implementing progressive measures which respect those who happen not to live within the motherland. Political structures need to change to ensure that statements and speeches are nothing more than lip service to accommodate partisan party lines. Immigrants live with the reality of always being second class citizens and that needs to change now.
“Any knowledge that doesn’t lead to new questions quickly dies out.” The knowledge and reality are known. Keep it alive or we retract and perish. Always hold those in power accountable for their responsibilities.
Travel with care.
Manuel DaCosta/MS
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