Editorial

Culturalmente doce e azedo

credit-ManuelDaCosta (1)

 

 

As pessoas dizem que somos o que comemos. Talvez seja, mas como é que passámos a apreciar estes tipos de comidas e bebidas de que gostamos? A resposta pode estar relacionada com as nossas origens e os países onde nascemos. Quando pensamos no nosso local de nascimento, vêm à nossa mente pensamentos de patriotismo, incluindo amor, devoção e orgulho. A comida invoca sentimentos semelhantes e, nós, tornamo-nos protetores da singularidade gastronómica única e fora do comum que define as nossas origens.

A cultura é influenciada pela gastronomia, através de várias formas como a tradição, a religião e a ascendência familiar. Estes aspetos são o que nos torna diferentes dos outros e é isso que tem criado novas sociedades porque influenciam a maneira como as pessoas comem e se comportam. Pessoas de diferentes origens, comem diferentes comidas. Os ingredientes, os métodos de preparação, as técnicas de preservação e o género de alimentos que se comem em diferentes refeições, variam de acordo com a cultura. A área onde as famílias vivem e de onde os seus ancestrais são originários influenciam o gosto pelos alimentos e até os desgostos. A comida tem um significado simbólico em todos os cantos do mundo. Ao compartilhar uma refeição, mergulhamos numa profunda conexão espiritual. A UNESCO reconhece pelo menos 30 culturas gastronómicas, como parte do Património Cultural Imaterial da Humanidade da UNESCO, como sendo uma parte importante da cultura étnica e nacional.

Onde quer que seja que você viva enquanto imigrante, as tradições no que dizem respeito à gastronomia são tão importantes que, independentemente dos prazos prolongados e do absentismo do país de origem, mantemos as nossas papilas gustativas e procuramos os alimentos que inundam o nosso ADN corporal. Porquê esta lealdade e fidelidade nacionalista sobre o que comemos e bebemos? De certa forma, faz parte da nossa identidade e diferencia-nos de todos os outros. Como em tudo, a gastronomia acarreta responsabilidades e cada um de nós deve estar atento para preservar o abastecimento adequado para o futuro. Um exemplo, Portugal protege a pesca da sardinha para controlar o inventário. A modesta sardinha tem sido um alimento básico para ricos e pobres ao longo de muitos anos e continua a ser um bilhete de identidade para muitos portugueses. Claro que cada um de nós tem a sua comida favorita e debater os méritos das nossas escolhas é um exercício inútil, pois as nossas preferências são nossas.

Dois milhões de pessoas compartilham o acesso a nutrientes suficientes, enquanto outros dois mil milhões sofrem de doenças relacionadas ao consumo excessivo e à obesidade. 70% dos americanos são considerados obesos e o facto de sermos obcecados com figuras perfeitas e neutralizarmos esses pensamentos com excessos e julgamentos sobre a aparência das pessoas está a conduzir a problemas de saúde mental. Para onde foi a cozinha saudável? As identidades nacionais estão a ser destruídas pela invasão do fast food na dieta a nível mundial.

Até na Europa, onde a dieta mediterrânea manteve os seus cidadãos saudáveis e magros durante muitos anos, os problemas referentes à obesidade estão a assumir o controlo. Na França, em Portugal e outros países europeus, dietas pobres, com base em comidas processadas, resultaram na diluição das dietas tradicionais, levando a taxas de obesidade de 17%, algo de que nunca se ouviu falar antes de 1997. A imigração traz mais infusões de alimentos não tracionais para ambientes culturais “puros”, agravando ainda mais o problema de defender os nossos tesouros alimentares nacionais. O caso em questão é Portugal, onde a gentrificação está a afetar as zonas urbanas. A compra e reforma de casas e lojas em bairros de classe alta aumenta o valor das propriedades, muitas vezes deslocando famílias de baixos rendimentos e até pequenos negócios. Lojas e restaurantes requintados aparecem com criações de pratos baseados na fusão de ingredientes portugueses e outros para agradar os novos cidadãos que ocupam os espaços. Em 2022, viviam em Portugal 10,000 cidadãos americanos, mais 239% desde 2017. Este é apenas um exemplo da mistura de culturas, que também atacam os nossos estilos gastronómicos a nível nacional.

Num mundo geoeconómico, será mais difícil defender a cultura e as tradições. Se há algo que não se deve perder é a defesa da nossa singularidade culinária e dos líquidos que ajudam a saborear a experiência total.
Ainda está a tentar pensar no alimento nacional que identifica o Canadá? Talvez seja o xarope de mapple com uma dose de panquecas. Emocionante, não é?

Coma tradicional e respeite a singularidade de quem somos


Culturally sweet and sour

People say we are what we eat. That may be so, but how did we come to appreciate the types of foods and drinks we enjoy? The answer may be related to our backgrounds and the countries we were born in. When we think of our place of birth, thoughts of patriotism inclusive of love, devotion and pride comes across our minds. Food invokes similar sentiments and we become protective of the unique and unusual gastronomic singularity that define our backgrounds.

Culture is influenced by food throughout various ways such as tradition, religion and family backgrounds. These aspects are what makes us different from others and has created whole new societies because it influences the way people eat and behave. People from different backgrounds eat different food. The ingredients, methods of preparation, preservation techniques and types of foods eaten at different meals vary among cultures. The areas where families live and ancestors originate influence food likes and dislikes. Food has symbolic meaning all around the world. By sharing a meal, we immerse ourselves into a deep spiritual connection. UNESCO recognizes at least 30 food cultures on UNESCO Intangible Cultural Heritage for Humanity as being an important part of ethnic and national culture.

Regardless of where you live as an immigrant, traditions pertaining to food are so important that regardless of extended timelines and absenteeism from the country of origin, we retain our taste buds and seek the foods that inundate our corporal DNA. Why this loyalty and allegiance to our nationalistic embrace of what we eat and drink? In a way it’s part of our identity and differentiates us from all others. As with anything else food carries responsibilities and each of us should be aware in order to preserve adequate supply for the future. As an example, Portugal protects the fishery of sardines to control inventory. The lowly sardine has been a food staple for rich and poor over many years and continues to be an identity card for many Portuguese. Of course, each of us have our favourite food and debating the merits of our choices is a wasteful exercise as our preferences are our own.

Two billion people share access in insufficient nutrients where another 2 billion suffer from diseases related to over consumption and obesity. 70% of Americans are considered obese and the fact that we are obsessed with perfect figures and counteract that thought with overeating and judgements on how people look is leading to mental health issues. Where have healthy cuisines gone? National identities are being destroyed by the incursion of fast food into the world’s diet.

In Europe where the Mediterranean diet kept citizens healthy and slim for many years, obesity problems are taking over. In France, Portugal and other European countries, poor diets based on processed foods have resulted in the dilution of traditional diets resulting in obesity rates of 17% which was unheard of prior to 1997. Immigration brings further infusions on non-traditional foods into “pure” cultural environments further compounding the problem of defending our national food treasures. Case in point is Portugal, where gentrification is affecting large urban areas. Buying and renovation of houses and stores in upper class neighborhoods raises property values often displacing low-income families and small businesses. High end stores and restaurants show up creating dishes based on the fusion of Portuguese and other ingredients to please the new citizens that occupy the spaces. By 2022, 10,000 American citizens were living in Portugal, or 239% up since 2017. This is simply an example of the blending of cultures, which also attack our national gastronomic styles.
In a geoeconomic world it will become harder to defend culture and traditions. If there is one thing that should not be lost is our defense of our culinary uniqueness and the liquids that help in savoring the total experience.

Still trying to think about Canada’s national food identifier? Perhaps maple syrup with a dose of pancakes. Exciting, eh?

Eat traditional and respect the uniqueness of who we are.

Manuel DaCosta/MS

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