Editorial

Castelos na Areia

Editorial

A história mostra-nos sempre a visão daquilo que o futuro deveria ser. Aqueles que prestam atenção ao que está ao seu redor e que refletem sobre a colocação de uma estrutura ou edifício, que retrata um exemplo de importância ou interesse histórico, compreendem que algo único aconteceu para estar ali.

Castles in the Sand-canada-mileniostadium
Cartoon by Stella Jurgen

Contudo, quantos prestam realmente atenção ou querem saber? Esta semana, o Milénio Stadium relembra memórias de tempos passados que afetaram os luso-canadianos e a importância de monumentos, santuários e obras de arte que ainda carregam um enorme significado na nossa comunidade e nos recordam da nossa história no país a que chamamos Canadá. A maioria iria sugerir que as áreas de importância são aquelas onde monumentos estão dispostos, desenhados como um objeto artístico para relembrar uma pessoa ou um evento importante. Esses monumentos são lembretes de memoriais para pessoas ou estruturas de história registada ou trabalho literário e servem para estimular o respeito por aqueles que viveram em épocas e sociedades diferentes. A cultivação do orgulho na nossa herança providencia um carimbo cultural acerca de quem somos. Hoje, parece existir uma aversão a monumentos e símbolos devido ao que se chama de crimes do passado que retratavam a realidade cultural da época, mas que hoje são transgressões inaceitáveis, por parte de alguns que decidiram mudar a história. Não se pode mudar a história, independentemente da quantidade de estátuas que se derrubem e de livros que se queimem.

A maioria de nós não se deve preocupar com ter um monumento construído para honrar as nossas conquistas, exceto talvez a lápide num cemitério como um testamento da nossa vida na terra. Cada um de nós viverá uma vida de antipatia ou prazer, fazendo coisas para construir os nossos monumentos interiores que a maioria nunca verá. Os nossos monumentos são os nossos atos, o que significa que o que fazemos nesta terra será aquilo pelo qual seremos lembrados. Cada um de nós tem memórias especiais da nossa vida neste país. As minhas estão encapsuladas em pedaços de tempo, a partir de 1970. Um típico domingo resume os meus pensamentos e constrói um monumento na minha alma que ainda hoje mexe comigo. Caminhar de Brunswick & Bloor até à Igreja St. Mary para ouvir as compilações da oratória celeste do Padre Cunha, onde os meus pais seriam abençoados e cobertos pelo xaile de Deus para iniciar mais uma semana a construir monumentos para si próprios. Na caminhada de regresso, a trajetória estava familiarizada com várias paragens na Avenida Augusta, visitar o supermercado Victoria, a House of Spices, a senhora judaica dos ovos, David’s, para comprar luvas de trabalho e botas de segurança, a padaria Micaelense e o Tivoli Billiards. O Kensignton Market será sempre onde começou a história luso-canadiana e apesar de os monumentos serem invisíveis, estão por todo o lado, disfarçados de espíritos perdidos, carregando nomes como o Restaurante Sousa ou o Portuguese Book Store, para nomear alguns. Foram escritos muitos livros sobre a história dos portugueses no Canadá. No entanto, o que os intelectuais não conseguem escrever é sobre os monumentos pessoais daqueles que nunca serão reconhecidos pelo seu sacrifício na construção deste país. Um dos pilares da nossa comunidade passou por um período difícil. Tony de Sousa foi o Presidente do Portuguese Cultural Centre of Mississauga desde 2015 e faleceu repentinamente. O homem que dedicou vários anos da sua vida à construção e apoio da cultura para outros, passou por um evento marcante que resultou na concretização do monumento da sua vida. A repentina deterioração da sua saúde e consequente morte serve de aviso para todos nós sobre a perceção da nossa mortalidade. Isto afetou-me bastante e espero que a sua luta tenha terminado com o monumento da vida a brilhar sobre ele no céu. Muitas vezes construímos a casa perfeita, numa cidade perfeita, mas não é nada mais do que um castelo de areia que cai quando a maré sobe e as ondas o derrubam.

Construa monumentos de verdadeiras memórias através de atos que beneficiem o mundo. Até todos os monumentos construídos em nome de Deus não preveniram as tragédias que afetam a sociedade hoje. Por isso, o conhecimento respeitoso, e não o poder, deve ser a fundação da construção dos monumentos pessoais, estando conscientes das nossas próprias limitações.

Seja monumental. 

Manuel DaCosta/MS


Castles in the Sand

History always shows us the vision of what the future should be.  Those that pay attention to our surroundings and reflect on the placement of a structure or building depicting an example of historical importance or interest understand that something unique happened to cause it to be there.

Castles in the Sand-canada-mileniostadium
Cartoon by Stella Jurgen

But how many really pay attention or care?  This week’s Milenio Stadium is reminiscing about memories of times past as they affect Portuguese Canadians and the importance of monuments, shrines or masterpieces which still carry a significance to our community and are reminders of our history within the country we call Canada.  Most would suggest that areas of importance are those where a monument was placed designed as an artistic object to remember a person or important event.  These monuments are reminders of memorials to people or structures of recorded history or literary work and are supposed to awaken the respect for those who lived in different times and societies.  Cultivation of pride in our heritage provides a cultural stamp about who we are.  Today there appears to be an aversion towards monuments and symbols because of so-called past misdeeds which depicted cultural normalcy at the time but are today unacceptable transgressions by some who have decided to change history.  You cannot change history regardless of how many statues are torn down and how many books are burned.

Most of us should not worry about having a monument built to honour our achievements except maybe a tombstone in a cemetery as a testament to our life on earth.  Each of us will live a life of antipathy or pleasure doing things to construct our internal monuments which most will never see.  Our monuments are our deeds meaning that what we do on this earth is what we will be remembered for.  Each of us has special memories of our lives in this country.  Mine are encapsuled in nuggets of time starting in 1970.  A typical Sunday summarizes my thoughts and builds a monument in my soul which still stirs in me today.  Walking from Brunswick & Bloor to St. Mary’s Church to listen to the heavenly oratory compilations of Father Cunha where my parents would be blessed and overlaid by the shawl of God to go through another week building a monument for themselves.  Walking back, the trajectory was familiar with various stops at Augusta Avenue, visiting Victoria supermarket, House of Spices, the Jewish egg lady, David’s, to pick up work gloves and safety boots, Micaelense Bakery and Tivoli Billiards. Kensington Market will always be where Portuguese Canadian history began and although the monuments are invisible, they are everywhere disguised as long-gone spirits bearing names such as Sousa Restaurant or Portuguese Book Store to name a few.  Many books have been written about the history of Portuguese in Canada.  However, what the intellectuals can’t write about are the personal monuments of those who will never be recognized for their sacrifice in building this country.  A pillar building individual in our community has gone through a difficult period.  Tony de Sousa was the President of the Portuguese Cultural Centre of Mississauga since 2015 and has suddenly passed away.  A man who dedicated many years of his life building and supporting culture for others went through an epochal event which resulted in the completion of his monument to his life.  His sudden health deterioration and eventual death should be a warning to all of us about our perception about our mortality.  This has affected me greatly and I hope that his fight ended with the monument of life shining on him in heaven.  Often we build a perfect house, in a perfect town, but it’s nothing more than a sand castle which falls over when the tides roll in and the waves knock it over.

Build a monuments to true memories with deeds that will benefit the world.  Even all the monuments built in the name of God have not prevented the tragedies that affect society today. So respectful knowledge and not power should be the foundation of building personal monuments by being aware of our own limits.

Be monumental.

Manuel DaCosta/MS

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