26 DE FEVEREIRO DE 2021
Está disponível mais uma edição do Milénio Stadium!
Edição 1525 – 26 DE FEVEREIRO DE 2021
Numa cidade como Toronto, quando se conhece alguém pela primeira vez, a questão acima é inquirida com frequência. E porquê esta questão? Em primeiro lugar, porque as pessoas são curiosas e em segundo a curiosidade pela origem das pessoas alimenta uma combinação de visões racistas, curiosidade cultural ou cria uma opinião baseada na sua importância pessoal em relação ao país de origem.
O mundo está a girar a um ritmo acelerado, independentemente da pandemia global que não tem fim à vista. Na corrida para vencer outros países que tentam o mesmo, a expansão extraterrestre continua com a chegada do Perseverance Rover da NASA a Marte. Se a NASA consegue cumprir este feito, por que raio não podemos ter um processo de vacinação sem obstruções que estão a contribuir para a morte e desespero de muitos? Bom Dia Sr. Trudeau?
A teia de aranha que a cultura é hoje é um tópico explorado e debatido esta semana, na edição do Milénio Stadium. As populações movem-se devido à imigração, a perseguições ou à procura de uma melhor qualidade de vida e assim a identidade cultural do mundo está a ser desafiada de várias formas. Obviamente que a segregação de sociedades continua a providenciar barreiras à liberdade de expressão de muitos e, portanto, desponta na diluição de elementos culturais em várias partes do mundo. Outro fator é a religião, o fanatismo e o racismo que perpetuam como prática em vários países. A divisão entre os ricos e os pobres continua a ser um espinho que impede a igualdade do ter e não ter, garantindo o isolamento da identidade cultural dos mais pobres.
No Canadá, é a Toronto e Ontário que a maioria dos portugueses chama de casa e, sendo assim, será o foco da transição de uma transformação cultural exemplar, tal como a conhecemos. As áreas fora de Toronto estão muito mais avançadas na transição de uma cultura especifica para abraçar outros costumes, integrando-se assim na sociedade canadiana. O foco dos portugueses em Ontário é um exemplo da infusão de circunstâncias, atuais e futuras, que criarão uma confusão inumerável daquilo que hoje chamamos de “a experiência portuguesa”. Num mundo de múltiplas etnias e tradições, quem é que pratica a cultura portuguesa? Os imigrantes que desejam ser integrados noutras sociedades serão continuamente desafiados pelas oportunidades da sociedade na pertença ao país em que vivem. No Canadá, Toronto é a capital de casamentos mistos. Todas as etnias, claro que com algumas exceções, estão a escolher parceiros de outras raças e tradições, tendo como resultado crianças que nascem em casas confusas onde são faladas três ou mais línguas. 45 porcento da segunda geração de imigrantes que são casados e/ou vivem juntos estão a fazê-lo com alguém de outra raça ou etnia. Na terceira geração essa percentagem chega aos 68.
Considerando apenas estas duas estatísticas, podemos assumir que, a menos que se seja muçulmano, que por acaso tem as taxas mais baixas de casamentos inter-raciais por causa das crenças religiosas, a identidade cultural desaparecerá independentemente das tentativas dos provedores de tradições que apelam à proteção e promoção da identidade cultural, sem admitir que se está a tornar uma batalha perdida.
Os casamentos interétnicos podem ser uma experiência positiva e podem engrandecer as vidas dessas pessoas ao introduzir um novo nível de diversidade que de outra forma não poderia ser encontrado. A preservação da cultura só pode ser alcançada se abraçarmos as mudanças que estão por vir, que irão desafiar o nosso processo de pensamento padrão. Isto permitir-nos-á abraçar a mudança em benefício da próxima geração. A cultura portuguesa não se baseará na comida, no vinho e no folclore. Será muito mais do que isso, o que incluirá um processo de pensamento extremamente pessoal acerca da nossa história e daquilo que nos diferencia dos outros. No futuro, não podemos permitir que a insensibilidade ou a ignorância sejam os professores da nossa cultura. A honestidade sobre quem somos e uma mensagem com significado irão conduzir os nossos filhos e netos à mesa, para consumir o melhor que este belo país a que chamamos Portugal tem para oferecer. Não precisamos de assimilação cultural, mas é fundamental que aceitemos e respeitemos as alianças entre as pessoas que respeitam a visão de outros, independentemente das suas preferências sexuais, cor ou práticas culturais. O futuro irá ensinar-nos uma lição que nunca pensámos ser obrigatório aprender. Espere e veja.
Fique bem.
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