Futebol

Morreu Fernando Gomes, histórico avançado do F. C. Porto

fernando gomes  milenio stadium

 

 

Faleceu o maior goleador da história do F. C. Porto. Ficam os golos e o eterno fascínio do mais prestigiado de todos os dragões, um dos grandes obreiros da enchente renovadora do clube nos anos 1970 e 1980.

Fernando Gomes não foi o melhor jogador da história do F. C. Porto. Foi o mais emblemático de todos. Com a devida vénia a Pinga, Araújo, Falcao ou Jardel, Gomes foi o maior goleador dos anais portistas e nessa condição também o porta-estandarte da emancipação do clube e da revolução operada no futebol e no desporto português. Foi-se muito novo, aos 66 anos. Deixa obra que o imortaliza. É uma lenda.

Foi um cancro fulminante que levou um dos maiores ídolos do F. C. Porto, duas vezes consagrado melhor marcador de todos os campeonatos europeus. Daí ter sido celebrizado e permanentemente recordado como “bibota” de ouro, cognome que se lhe colava com toda a naturalidade e que todos, incluindo o próprio, já adquiriam como baptismo de berço.

Se foi ou não da primeira infância, certo é que o “bibota” não demorou a demonstrar uma irresistível atração pelas balizas e pelos golos. Chegou ao F. C. Porto aos 14 anos, depois de ter feito o percurso de rua e de futebol de bairro que, na altura, filtrava os melhores. Na Constituição e nas Antas, António Feliciano e Costa Soares, dois formadores de excelência, logo viram o que ali tinham. Uma pérola rara. Em três épocas seguidas, Fernando Gomes foi campeão, de juvenis e de juniores. Acumulou centenas de golos e atingiu a maioridade antes dos 18 anos.

Ainda cheirava a abril, a 8 de setembro de 1974, quando o adolescente de 17 anos teve a alternativa na equipa principal do F. C. Porto, em pleno Estádio das Antas, pela mão do treinador brasileiro Aimoré Moreira. E que estreia! Foi ele o autor dos dois golos que derrotaram a CUF (2-1). E foram só os primeiros dois de 419 “orgasmos”, como lhes chamava o próprio. E foi logo ali que o peão também foi introduzido às singulares celebrações do debutante, às correrias para a rede e para os braços dos adeptos, para esse ato tão fisiológico e assim tão bem descrito, como grau máximo da cópula da bola.

A encenação foi repetida vezes sem conta, cada vez mais e sempre com excitação renovada. Foram 419 bandarilhas em 17 anos de carreira profissional. Nos 13 que passou no F. C. Porto, tornou-se no maior goleador da história do clube, com 354 remates certeiros. Jogou dois anos (1980-82) em Espanha, pelo Gijón, e fez por lá 16 golos em 33 jogos e entre múltiplas lesões, antes de voltar para uma segunda passagem pelo F. C. Porto e para uma certo resgate. Concluiu a carreira no Sporting (1989-91), pelo qual fez 38 golos em 79 jogos. Ainda assinou 11 golos em 47 jogos pela seleção.

Senhor de uma notável variedade de recursos, sobretudo de uma técnica de cabeceamento ímpar, Gomes foi seis vezes vencedor do prémio Bola de Prata, que distingue o melhor marcador do campeonato, Foi um predador da área, dotado de um instinto infalível. “A minha missão não era marcar golos bonitos, era marcar”, dizia o próprio, numa das últimas entrevistas, concedida ao JN, no dia em que celebrou o 60.º aniversário.

Nessa época, nos anos 1970 e 1980, que antecedeu a chegada em força da TV, essa caixa que também mudou o futebol, e que também precedeu a adoção da superliberal Lei Bosman, nesses gloriosos tempos da Rádio, dos relatos de Amaro e do Quadrante Norte, também se fez a estrela portista. Além de goleador em série, Gomes foi um craque de muito carisma. Corte da moda, cabelinho ao vento, naquele ar “pop-rock”, fez milhares e milhares de novos portistas, na adesão comunitária que derrubou o complexo dos andrades e que fez do Dragão um símbolo do futebol mundial.

Pois foi todo este património, o do grande campeão – campeão do Mundo, campeão da Europa, cinco vezes campeão nacional, três supertaças, três taças, uma supertaça europeia… – e de símbolo identitário que o F. C. Porto e o futebol português perderam.

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