Futebol

Guerra asfixia o desporto na Rússia

Treino da Seleção Russa
Moscovo, 20/06/2017 – A Seleção Nacional de Futebol Russa treinou de preparação no Estádio Spartak esta tarde no Estádio de a Moscovo para o jogo da 2º jornada da Taça das Confederações 2017 contra a Portugal.
(Jorge Amaral/Global Imagens)

 

Decisão do COI de manter Rússia e Bielorrússia afastadas dos Jogos de Paris pode ser a machadada em muitas carreiras de atletas olímpicos. No futebol, a federação pondera mudar-se para a Confederação Asiática de Futebol

O Comité Olímpico Internacional (COI) decidiu manter as sanções impostas à Rússia e à Bielorrússia, que proíbe os dois países de participar nos Jogos de Paris em 2024, prolongando assim as decisões implementadas em fevereiro do ano passado, reiterando ainda a sua condenação à guerra na Ucrânia. “Essas sanções foram implementadas em fevereiro de 2022 e foram reforçadas e confirmadas pela recente cúpula olímpica, a 9 de dezembro de 2022, e permanecem firmemente em vigor”, refere o COI, à Lusa, aproveitando para reafirmar a “solidariedade inabalável” para com os atletas ucranianos e o compromisso de ajudar. “Todos queremos ver uma equipa forte da Ucrânia nos Jogos Olímpicos de Paris2024 e nos Jogos Olímpicos de Inverno de Milão-Cortina d’Ampezzo 2026”, refere o COI, revelando que “triplicou o fundo de solidariedade para que os atletas tenham todo o apoio para superar os enormes desafios que enfrentam para realizar o sonho olímpico”, sendo que “cerca de três mil atletas já beneficiaram da ajuda que o fundo de solidariedade do COI está a oferecer por meio do comité olímpico da Ucrânia”.

Esta decisão do Comité Olímpico Internacional ameaça agora o futuro dos atletas russos. Em declarações ao JN, Alexander Prosvetov, jornalista freelancer russo, garante que muitos atravessam dificuldades. “Estamos a falar de atletas que praticam modalidades com menor interesse comercial e que, por si só, já têm algumas dificuldades em condições normais. Os Jogos Olímpicos são mesmo decisivos, em muitos casos, para continuarem a receber verbas ou gerar fundos para competir e sem isso torna-se difícil de sustentar” explicou. O problema já era enorme na Rússia, “desde que muitas federações internacionais afastaram as seleções russas de diferentes modalidades dos grandes palcos internacionais. Portanto, aqui há uma situação muito complicada, porque os nossos atletas correm o risco de não conseguirem prepara-se, ou mesmo estando preparados, não terem como competir e isso vai tornar rapidamente a situação insustentável para a maior parte deles”, acrescentou ainda, e não se espera que a situação venha a melhorar.

Na passada sexta-feira, durante uma reunião por videoconferência com ministros do desporto de vários países, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, tinha afirmado que a presença de desportistas russos nos Jogos Olímpicos de Paris, mesmo debaixo de bandeira neutra, seria “um sinal de violência e de impunidade”. A Rússia não tardou a responder e no passado sábado afirmou que o apelo à exclusão de atletas russos era “absolutamente inaceitável”.

Portugal está entre os mais de 30 países que apoiaram o prolongamento da suspensão de atletas russos e bielorrussos das competições desportivas internacionais. Entretanto, numa declaração assinada pelo secretário de Estado da Juventude e do Desporto, João Paulo Correia, ficou uma vez mais claro o “apoio em curso a que atletas russos e bielorrussos sejam banidos de competir em provas internacionais enquanto durar a guerra na Ucrânia”.

No futebol, a federação russa tem procurado limitar os estragos, mas pondera avançar para mudanças substanciais, segundo Alexander Prosvetov. “Desde o final da última temporada, a federação vem ponderando mudar-se para a confederação asiática de futebol. O assunto tem estado na ordem do dia, mas a opinião pública está dividida, porque uns dizem que com o nível mais alto do futebol na Europa dificilmente podemos ambicionar mais, que o nosso nível mais modesto aponta a favor da mudança, porque dizem que na confederação asiática seríamos capazes de desempenhar um papel mais importante e chegar às finais. O outro lado insiste que é na Europa que está o futebol de maior nível e que é aí que nos devemos manter se quisermos continuar a evoluir e argumentam com a participação das equipas russas nas competições da UEFA como um dos aspetos a não menosprezar, porque se estaria a virar as costas a algumas das maiores competições internacionais do Mundo”, recordou.

À margem daquilo que se passa em campo, a confirmação de uma mudança da federação russa para a confederação asiática poderia ter consequências para a própria UEFA, que sem o patrocínio da Gazprom perderia uma fonte de financiamento substancial.

Mas em termos futebolísticos não é tudo. As decisões da FIFA e da UEFA de permitir aos jogadores estrangeiros abandonar o campeonato russo e dar-lhes a oportunidade de jogar noutros clubes europeus, deixou os emblemas russos revoltados e afetou-lhes as condições financeiras. “O que acontece agora é que os clubes russos tinham investido milhões na contratação de jogadores que talvez nunca mais consigam recuperar, porque não acreditamos que regressem um dia à Rússia e além disso ninguém faz ideia quanto tempo vai durar este conflito com a Ucrânia”, sublinhou.

Ainda na sequência das decisões da FIFA e da UEFA de permitir aos jogadores suspender os contratos com os clubes russos, “os jogadores ucranianos saíram todos, os polacos também, exceto num caso, Maciej Rybus, do Spartak Moscovo, porque está casado com uma russa. Mas já soubemos que foi afastado da seleção polaca. Os nórdicos também deixaram todos a Rússia e agora é certo que nem os vistos lhes serão renovados para regressar”, afirmou Alexander.

Ainda assim, no mercado de inverno, alguns jogadores continuaram a transferir-se para a liga russa, a exemplo do português e antigo jogador do Benfica, Tomás Tavares, que assinou pelo Spartak de Moscovo, e de vários jogadores provenientes da América do Sul. De resto, o formato da Liga russa manteve-se, a única competição que mudou foi a Taça. “Para as equipas russas, as competições europeias raramente costumam ir além da fase de grupos, portanto estamos a falar de meia dúzia de jogos e pouco mais, ou seja, não tem tido grande impacto. O campeonato disputa-se como antes, só mudou a Taça, que se joga agora a duas mãos para termos mais jogos e assim colmatarmos algumas datas que ficaram em aberto no calendário competitivo”, explicou.

Na Rússia, os adeptos não ficaram satisfeitos por perderem a oportunidade de assistir aos jogos contra grandes equipas europeias, “temos muitos clubes de fãs do Bayern, Real Madrid, Barcelona, etc… cujos adeptos ficaram muito desiludidos por não terem a oportunidade de ver as suas grandes estrelas em campo”, mas Alexander reconhece que isso é um mal menor quando confrontados com os inúmeros problemas que a guerra gerou no desporto russo.

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