Fernando sem Santos que lhe valham
Bastava um empate. Ainda assim, a seleção portuguesa perdeu frente à Sérvia e falhou o apuramento direto para o Mundial 2022, que se irá realizar no Qatar. Fernando Santos, as suas escolhas e decisões já viram melhores dias – na realidade, o que o selecionador vê neste momento são cada vez mais lenços brancos a acenar na sua direção.
Longe vão os tempos de glória do senhor Engenheiro – as grandes “obras” com que nos presenteou em 2017 e 2019 – conquista do Europeu e da Liga das Nações – não se têm mostrado fortes o suficiente para aguentarem com o terramoto de críticas que têm surgido. E se formos a pensar bem, até aí o “plano arquitetónico” já apresentava algumas falhas – basta notar que Portugal foi campeão europeu ganhando apenas um jogo no tempo regulamentar, por exemplo.
Se é justo culpar uma única pessoa num desafio que é coletivo? Muito provavelmente – para não dizer de certeza – não. Mas como em tantos outros casos e cargos, há sempre alguém que tem que dar o corpo ao manifesto e levar “porrada” quando a coisa não corre como esperado. Apesar disso, comentários como “ganhar 5-0 ou empatar era a mesma coisa” não abonam muito a seu favor, é claro…
É que em termos matemáticos Fernando Santos até podia ter a sua razão (já que em ambos os casos bastaria o empate frente à Sérvia para Portugal se apurar automaticamente), o problema é que nem todos são bons a fazer contas de cabeça… e muitas vezes essas contas saem “furadas” – e este foi um dos casos.
Para começar, perante a seleção da República da Irlanda, que ia a jogo com Portugal com apenas uma vitória nesta fase da qualificação, esperava-se francamente mais da seleção lusa. Quando se ouviu o apito final no Aviva Stadium muitos ficaram com a pulga atrás da orelha – que seleção e que futebol eram estes? É inquestionável que é um grupo com muito talento, mas que tem mostrado pouca qualidade.
Neste jogo assistimos a 12 remates, três deles enquadrados. Mas é preciso ver além dos números! O primeiro desses três aconteceu aos 14’, depois de André Silva, de um ângulo difícil, obrigar o guardião sérvio a desviar para canto. Já o segundo saiu dos pés de João Moutinho, aos 59’, batendo num adversário e permitindo uma defesa fácil a Bazunu, e o terceiro e último foi da autoria de Cristiano Ronaldo, que no último minuto rematou à malha lateral. A juntar a isto tivemos ainda uma grande oportunidade, aos 70’, após um centro largo de André Silva, mas Cristiano Ronaldo desperdiçou-a.
E, resumidamente, foi isto. “Pouquechinho”! O que, sejamos sinceros, tem vindo a ser uma constante no futebol da seleção das quinas. Poucas ideias, pouco futebol, muita apatia, demasiados erros… e um jogo jogado pelos mesmos de sempre. Uma péssima exibição em Dublin que acabou por tornar merecido o empate frente a uma Irlanda que não consegue fazer melhor.
Seguiu-se então a decisiva partida, frente à Sérvia. No Estádio da Luz, o clima não podia ser melhor: os adeptos pintaram as bancadas com as cores de Portugal, estavam felizes e com bastante confiança… mas não em quantidade suficiente para contagiarem os jogadores. O golo madrugador de Renato Sanches, logo aos 2’, não fazia prever o desfecho deste embate. Deste momento em diante a seleção portuguesa foi (novamente) decaindo em termos de qualidade de exibicional.
Rapidamente aquilo que era alegria, esperança e motivação se transformou em nervosismo, desencanto e revolta entre os mais de 58 mil adeptos portugueses.
Foram bem notórias as debilidades portuguesas frente a uma forte e dominadora seleção sérvia: menor posse de bola (42 contra 57), menos remates e também menos cantos. E isto são apenas alguns exemplos do que falhou em campo. Uma seleção encostada ao meio-campo e a apostar em contra-ataques, não tendo sido, portanto, de todo surpreendente o golo de Tadic, aos 33’ (com Rui Patrício a ficar mal na fotografia), nem o de Mitrovic, aos 90”. Os sérvios tiveram a garra e o querer que faltou aos portugueses.
Por ter terminado no segundo lugar do grupo, Portugal disputará o play-off como cabeça de série, tendo pela frente duas partidas com duas seleções distintas. Os seus oponentes – que poderão ser Turquia, Polónia, Macedónia do Norte, Ucrânia, Áustria ou República Checa – serão conhecidos no próximo dia 26 de novembro.
As meias-finais serão jogadas no próximo ano, entre 24 e 29 de março, e apenas três das 12 seleções poderão carimbar o passaporte para o Mundial.
Se se conseguir apurar, a seleção das quinas marcará presença pela oitava vez numa fase final de um Mundial, sexta consecutiva (1966, 1986, 2002, 2006, 2010, 2014 e 2018). No final do encontro frente à Sérvia, Fernando Santos deixou a certeza que Portugal marcará presença no Qatar, admitindo demitir-se caso tal não aconteça. Resta-nos esperar para ver!
Inês Barbosa/MS
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