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Julie Dzerowicz acredita que pode vencer Davenport pela terceira vez

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Manuel DaCosta e Julie Dzerowicz em entrevista para Camões TV. Créditos: Luciano Paparella Jr.

 

Julie Dzerowicz é a candidata do Partido Liberal no riding de Davenport. Esta é a sua terceira eleição e o seu árduo trabalho e experiência estão a mostrar resultados nesta campanha.

Na sua entrevista ao Milénio Stadium, conduzida por Manuel DaCosta, ela mostrou conhecimento das questões que afetam tanto Davenport como o Canadá. Com base nas suas respostas, o Milénio Stadium ficou com a convicção de que Davenport e, em particular, a comunidade portuguesa continuará a ser bem representada por Julie Dzerowicz.

MDC: Estamos agora no meio de uma campanha federal. O que é que mudou na estratégia numa campanha tão curta como esta?

Julie Dzerowicz: O que mudou? Para ser honesta apesar da Covid-19, neste verão eu ando na rua e é muito fácil falar com as pessoas na rua. A diferença é que não quero ninguém perto das portas, ponho informação de campanha na caixa do correio, bato à porta e afasto-me logo e falo com as pessoas com uma distância de, pelo menos seis/oito pés. Tem funcionado muito, muito bem. Tenho notado que as pessoas estão mais por casa. Talvez a parte russa da minha área tenha menos gente, porque muitos foram para as cottages, mas eu diria que a vasta maioria, que é gente de trabalho, famílias de trabalhadores empenhados, muitos deles portugueses, outros não, estão a trabalhar e a preparar o regresso à escola dos mais novos.

MDC: Nas últimas eleições a diferença entre os partidos mais votados foi muito pequena. Desta vez a sua maior adversária política é do NDP. Ela é uma política bastante experiente, como sabe. Qual é sua expetativa de resultado depois desta primeira fase da campanha?

JD: Ela é experiente, mas não acho que seja mais do que eu. Mas repare, há coisas importantes que nos distinguem. Quando se é um membro eleito por um partido governamental, pode-se conseguir muito mais do governo, pode-se conseguir muito dinheiro para beneficiar a comunidade. Se se é eleito, mas por um partido, como o NDP, que não faça parte do governo, pode-se falar alto, mas não se consegue ser efetivo nos resultados e conseguir que as coisas sejam feitas.

MDC: No entanto, e com todo o respeito, o NDP tem sido um apoiante deste governo minoritário nestes dois últimos anos.

JD: Às vezes… outras vezes não. Quando ganhámos com minoria em 2019, fiquei entusiasmada porque na história do Canadá coisas extraordinárias aconteceram nos períodos em que tivemos governos minoritários. Desde que surgiu a pandemia de Covid-19, tem sido muito difícil trabalhar no Parlamento. Nós não conseguíamos agir rápido nas coisas que realmente importavam – no apoio necessário para enfrentar a Covid-19, nas alterações climáticas, na necessária reconciliação, na reforma da justiça… houve vários assuntos que tivemos que deixar em cima da mesa porque não conseguíamos avançar.

MDC: O que foi deixado em cima da mesa foram inúmeras promessas de 2019 que não foram cumpridas. O programa eleitoral dos Liberais apresentado nesta campanha faz uma espécie de reciclagem das promessas anteriores. Muita gente tem criticado o facto de esta campanha surgir em plena pandemia, mas quais são as diferenças que existem entre o que se propunha no programa eleitoral de 2019 e naquele que agora é proposto? Porque eu não vejo muitas.

JD: A principal razão pela qual estamos a convocar eleições agora é porque estamos a gastar mais de $100 mil milhões de dólares, isto é mais dinheiro do que gastámos depois da Segunda Guerra Mundial. O nosso projeto para o Canadá é completamente diferente do que os Conservadores querem fazer. É necessário um mandato da população canadiana para que gastemos tanto dinheiro. Queremos pôr em prática um plano nacional de cuidados infantis, isso não é o que os Conservadores vão fazer. Queremos avançar mais rapidamente nos objetivos para combater as alterações climáticas, temos um plano muito ambicioso, mas queremos colocá-lo em vigor mais depressa. A nível de habitação temos um plano muito específico, temos um plano muito grande em imigração, como você sabe, em 2019 os nossos imigrantes podiam candidatar-se gratuitamente à Residência Permanente (PR).

MDC: Por falar em gastos superiores a $100 mil milhões com os programas sociais que os Liberais criaram e que tiveram um impacto muito positivo na nossa sociedade, nos últimos seis anos o nosso déficit aumentou dois níveis e excedeu todos os gastos dos primeiros-ministros canadianos juntos até hoje na história do país. Acha que com este nível de endividamento que os nossos netos vão ter de pagar, os juros podem aumentar para níveis que vai ser impossível colocar este tipo de programas em vigor?

JD: É uma pergunta excelente e uma das coisas que tenho de referir é que nesta campanha não estamos a falar o suficiente sobre emprego, economia e como vamos assegurar uma economia próspera que vai tornar possível que comecemos a pagar a nossa dívida. Eu faço parte do Comité de Finanças que reúne as mentes mais brilhantes nesta área, como sabe, e ouvimos deles a toda a hora. Antes da pandemia tínhamos os melhores Financial Books dos países do G7, tínhamos as melhores taxas de endividamento do PIB, que continuamos a ter, o que significa que à medida que estamos a crescer os nossos níveis de endividamento são mantidos baixos. Mesmo depois do nosso orçamento ser apresentado, no final de abril duas agências internacionais de crédito continuaram a manter o nosso rating AAA. A explicação para isto é porque as agências viram no orçamento crescimento suficiente para reduzir o déficit e diminuir o endividamento. Mas deixe-me acrescentar mais uma coisa: o montante que pagamos pelo dinheiro que pedimos emprestado é às taxas de juro mais baixas de sempre.

MDC: A poucos dias das eleições, as sondagens sugerem que Justin Trudeau está em segundo lugar. A plataforma liberal está a concentrar-se na questão das armas e da vacinação e está a ignorar outros assuntos, tal como todos os outros partidos. Porque é que agora estamos em “modo de ataque” uns contra os outros em vez de debater ideias construtivas e soluções para o país?

JD: Não sei se lhe chamaria “modo de ataque”, para mim acho que é mais uma questão de apresentar visões contrastantes. Veja, o NDP não vai vencer as eleições, vai ser entre os Liberais ou os Conservadores. O que estamos a tentar fazer é apresentar a nossa visão. Há alguns dias fui para as ruas com a ministra das Finanças, Chrystia Freeland, e ela estava a dizer às pessoas junto às suas portas que o Premier Doug Ford lhe disse que ia assinar o plano nacional de cuidados infantis se ganhássemos as eleições. Mas se não ganharmos ele não assina porque os Conservadores vão eliminá-lo. Sobre os seniores, dissemos que os idosos com 75 anos ou mais iam ter um aumento de 10% no OAS (Old Age Security).

MDC: Mas quando as eleições foram convocadas foi claramente para que os Liberais tivessem a maioria absoluta. Se elegermos de novo um governo minoritário acha que Trudeau deve continuar ou deve afastar-se?

JD: Agora ele é o primeiro-ministro e estou 100% comprometida com o nosso partido e com o seu líder. Acho que [Trudeau] tem sido um excelente líder, acho que não temos sido um governo perfeito. Fizemos muitos erros, mas nos assuntos importantes, apoio COVID-19, vacinação, cuidados infantis, seniores, alterações climáticas, estamos a fazer as coisas certas. Fizemos alguns erros mas sou uma grande apoiante do nosso primeiro-ministro.

MDC: Tem pressionado o governo para aumentar a imigração, mas não sei qual o tipo de imigrantes que tem defendido e alguns julgo que são o que chama de refugiados ambientais.  Quem são estes refugiados e já considerou aumentar a imigração para “trade workers” dos quais precisamos desesperadamente neste país?

JD: Quando fui eleita em 2015 estávamos a aceitar mais de 285 mil novos canadianos todos os anos e para 2021 estamos a aumentar para 400 e 11 mil novos canadianos. Não lhes chamaria refugiados ambientais, mas como temos uma taxa de natalidade baixa precisamos de mais imigrantes para pagarem impostos e para que possamos continuar a ter os serviços que temos. Tivemos um projeto piloto na área da construção para encontrar um caminho para a cidadania para estes trabalhadores sem status e sabemos que muitos deles pertencem à comunidade portuguesa e vivem em Davenport. As áreas chave deste piloto que foi aprovado em julho é que não precisas de preencher o requisito da língua, não precisas de ter pagado nenhum dos impostos canadianos. No início tínhamos definido este número, 500 pessoas e cerca de 100 deles podiam ter entrado no país como visitante ou como estudante, mas, entretanto, eliminamos este número e agora qualquer um deles pode ter entrado através destas duas formas.

MDC: Mas a maioria destas pessoas está atualmente a trabalhar e continuamos com falta de mão de obra. Só em Ontário, nos próximos 10 anos, vamos precisar de 275 mil novos trabalhadores na área da construção. Que tipo de ação é que vai desenvolver para permitir que estes trabalhadores venham para cá?

JD: Se vir a nossa plataforma vai perceber que estamos a oferecer várias alternativas para ajudar empregadores e sindicatos que precisam de contratar mais gente e não é apenas na construção. Na hospitalidade, na saúde e na manufatura também há falta de mão de obra. Claro que agora com a pandemia a hospitalidade sofreu, mas esperamos que nos próximos anos recupere.

MDC: Mas sabe que muitas dessas pessoas não vão regressar ao trabalho por causa dos subsídios sociais. Os Liberais estão a considerar cortar estes subsídios quando a economia melhorar?

JD: Sem dúvida, todos os subsídios vão ser faseados. Vamos continuar com qualquer tipo de versão do Canada Wage Subsidy para permitir que os empregadores recontratem, mas em termos de CRB (Canada Recovery Benefit) vai terminar a partir de outubro. Já recuperamos 92% dos trabalhos que perdemos durante a pandemia quando comparado com os 76% dos EUA, significa que estamos quase lá.

MDC: Qual foi o objetivo quando introduziu o projeto de lei C-273 para assegurar rendimento básico?

JD: Temos um sistema de assistência social que garante ao trabalhador o direito ao subsídio de desemprego caso perca o seu trabalho. Este sistema foi criado nos anos 40 e foi atualizado em 1997, mas só apenas 40% dos trabalhadores canadianos tem na realidade acesso. E o que acontece é que com a robotização muitas pessoas perderam o seu trabalho. O que digo é porque é que não propomos um novo modelo? O objetivo seria assegurar um rendimento básico por mês quando alguém não está empregado e encorajá-lo a investir em formação, a criar a sua própria atividade, procurar trabalho, mas basicamente não tens de te preocupar com colocar comida na mesa ou em pagar algumas das contas básicas. O conceito é modernizar o nosso sistema de assistência social e fazer face às necessidades das pessoas no século XXI.

MDC: Como disse a plataforma Liberal inclui habitação, long-term care, saúde e reconciliação indígena. A nível de habitação e de long-term, que são assuntos sob jurisdição provincial, acredito que o objetivo é trabalhar em parceria com as províncias. Mas sobre a reconciliação indígena sobre a qual tanto se tem falado e se tem feito pouco, será que vão mesmo fazer alguma coisa? Depois de tantas promessas, a água continua tóxica e os indígenas ainda vivem em condições horríveis.

JD: Vou respeitosamente discordar e dizer que muitos governos anteriores fizeram muito pouco pelos indígenas, mas nós estivemos no governo por menos de seis anos e já fizemos mais do que qualquer um dos outros governos juntos. Gastámos $443 mil milhões para tentar igualar per capita o valor que uma família indígena recebe por criança para educação àquilo que um canadiano recebe a nível de saúde pública. Acho que fizemos progressos tremendos e movemo-nos em 83% das recomendações para a Truth and Reconciliation Comission of Canada.  Temos de fazer mais? De certeza, mas não conseguíamos ir mais além porque a oposição não nos permitia ir mais rápido.

MDC: A nossa casa é sempre o nosso castelo, porque é que na vossa plataforma têm um imposto de 15% em homesales?

JD: Acho que não temos um imposto de 15% em homesales, acho que temos algumas medidas que vão evitar o flipping, que é quando um investidor compra uma casa não para viver lá mas para vender o imóvel e lucrar. Temos coisas do género que o investidor tem de ficar com a casa pelo menos durante 12 meses. Sabemos que agora é extremamente difícil para um canadiano comprar uma casa, a não ser que já seja proprietário de uma casa.

MDC: Quais são os seus projetos para Davenport se for reeleita a 20 de setembro? Em que áreas é que vai trabalhar arduamente nos próximos quatro anos?

JD: São sobretudo quatro áreas. Cuidados infantis, na campanha porta a porta vemos muitas famílias jovens e até os avós se preocupam com esta questão porque sabem o quão caros são os cuidados infantis e o quão difícil é conseguir esticar o orçamento. Seniores, ter a certeza que são tratados com dignidade e respeito e que a tragédia dos lares não se repete. Queremos contratar mais apoio pessoal para ter a certeza de que eles são bem tratados. Alterações climáticas que ainda não abordámos nesta entrevista. Vemos o quão rápido as alterações climáticas estão a afetar o nosso mundo e mexermo-nos rapidamente nesta área é crucial. Imigração: tenho sido uma campeã em imigração e tenho prometido à comunidade que vou encontrar uma solução para todos os indocumentados que trabalham e contribuem para a nossa economia e que já socialmente já estão integrados na nossa sociedade.

Assista nesta sexta-feira, setembro 10, às 19h30.

Transcrição de Joana Leal

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