Canadá

Jean Barman: a mulher que descobriu O pioneiro português, Joe Silvey

Jean Barman, atualmente aposentada e a viver em Vancouver, foi a investigadora da Faculdade de Educação da Universidade da Colúmbia Britânica, que descobriu este açoriano, e que tornou conhecida a sua aventura pioneira, não só na província da Colúmbia Britânica, como em Portugal, nomeadamente nos Açores, onde Joe Silvey nasceu.

Milénio Stadium: O seu interesse pelos açorianos na Colúmbia Britânica é sem dúvida uma referência obrigatória para a nossa história neste país. Porque se interessou por Joe Silvey?

Jean Barman: A descoberta deste pioneiro picoense acontece porque os seus descendentes partilharam comigo as suas histórias. “The Amazing Adventures of Portuguese Joe Silvey” foi possível, não só por esta partilha, mas também porque muitos dos seus descendentes permitiram que eu as divulgasse junto de outras pessoas. Esta troca permitiu que eu escrevesse tudo sobre esta família. Não teria conseguido por mim própria. Nem eu poderia ter a presunção de o conseguir sozinha.

Tudo começou há alguns anos atrás quando, numa entrevista na rádio, mencionei o nome de Joe Silvey. Após esta entrevista, recebi uma carta de dois jovens, que viviam na remota costa norte, expressando satisfação  por ouvirem alguém partilhar o seu sobrenome e, mostrando vontade de saber mais. Munida da pouca informação de que dispunha na altura, escrevi, para eles, a primeira versão “Amazing Adventures. Alguns Silveys leram o trabalho, contaram-me outras histórias e pediram-me que preparasse uma segunda versão, para ser apresentada durante uma reunião da família Silvey Mais descendentes partilharam comigo as suas narrativas e, um editor local, cuja irmã era casada com um dos Silvey, e que tinha uma importante coleção de fotografias, resolveu apostar na sua publicação. O livro tornou-se num “bestseller”.

A verdade é que quanto mais escrevo sobre a história do Canadá e da Colúmbia Britânica (C.B.) mais interessada fico nas vidas que não são contadas. Uma mão cheia de homens importantes – políticos e de negócios – parece-me menos importante que todos aqueles que trabalharam duramente e, que assim fizeram a diferença no dia a dia das comunidades, em que se inseriram. A localização privilegiada da Colúmbia Britânica no Pacífico, permitiu a chegada de muita gente por mar, atraindo pessoas de todo o mundo. Destas muito pouco sabemos ainda.

A corrida ao ouro, que se iniciou em 1858, permitiu a homens como Joe Silvey e Peter Smith – um dos seus companheiros –  a possibilidade de tentarem a sua sorte na C.B. Aqui, continuaram fiéis aos valores que herdaram dos pais nos Açores, os quais aplicavam no trabalho e nas relações interpessoais. Aqui, pescaram da mesma forma que o teriam feito na sua terra de origem; respeitaram as suas mulheres e filhos, tal como o teriam feito nas suas terras de origem e, tinham hábitos de higiene que permitiram que os seus filhos chegassem a adultos, e que tivessem famílias numerosas. Em retrospectiva, o Canadá e a Colúmbia Britânica beneficiaram muito dos Joes e dos Peters que cá chegaram de todo o mundo.

HA: Só por si, a publicação deste livro, foi uma aventura. Joe Silvey, é portanto um homem com uma história de vida muito peculiar. O que tem ele de especial para si?

JB: Não penso que Joe foi único, mas sim semelhante a muitos, muitos emigrantes dos Açores e de outras localidades, que não só deixaram uma sociedade e encontraram outra, como também trouxeram consigo os seus valores de vida. A história do Joe é a história dos Açores, tal como é a história  do Canadá e da Colúmbia Britânica. Uma das razões pelas quais gosto do Joe e da sua família deve-se ao facto dos Silvey serem pessoas honestas, que não tinham medo de trabalhar, para construirem uma vida melhor. Aqui na C.B., os descendentes do Silvey tiveram que enfrentar o racismo, não só porque eram portugueses e não britânicos, como o era na altura a sociedade dominante, mas e, sobretudo porque tiveram descendência aborígene.

Todavia, os Silvey souberam preservar o seu nome  e multiplicaram-se através das gerações. Desde que o livro foi publicado têm-me chegado nomes de novos descendentes, que desconheciam por completo a maravilhosa história dos seus antepassados.

Esta narrativa possibilitou também a descoberta de outras famílias, que haviam vivido no que hoje é o Stanley Park, uma área que haviam desenvolvido e da qual, muitos mais tarde, seriam expulsos. No que diz respeito aos Silvey, esta ligação está bem patente através de uma estátua de Joe e de sua mulher, feita pelo artista Luck Martson, descendente de várias gerações dos Silva. Esta composição artística, que contou também com o apoio da comunidade portuguesa em Toronto, é uma obra que celebra a tradição açoriana e aborígene neste parque.

HA: Conseguiu realizar um trabalho admirável ressuscitando a vida e os tempos de Joe Silvey. Como caracteriza a sua vida na perspetiva histórica luso-canadiana?

JB: Joe Silvey é um homem importante porque chegou aqui um século antes da maioria dos açorianos. Sabemos muito mais dos homens e das mulheres que vieram depois da II Guerra Mundial para áreas remotas do Ontário ou da Colúmbia Britânica, do que sabemos de homens como Joe Silvey, que escolheram o Canadá, não através de programas assistidos de imigração, mas por si próprios.  Os descendentes dos Silvey somam atualmente mais de mil.

A sua vida simboliza a foca dos imigrantes portugueses, muito particularmente dos açorianos. Ela reflete as tradições dos pescadores e aos profissionais da pesca. Esta é uma história de aventura e de indivíduos verdadeiros, fala da narrativa da província e do Canadá no seu todo, e é um belo documento fotográfico, que ajuda a compreender a vida das gentes da época.

Em resumo constitui uma forma muito direta das pessoas  de descendência portuguesa conhecerem melhor a sua história.

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