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Férias internacionais durante a pandemia

No Natal e no Ano Novo muitos canadianos aproveitam para fugir do frio e/ou visitar familiares, mas com as restrições impostas para travar a transmissão do novo vírus o Governo federal desaconselha qualquer tipo de viagem que não seja absolutamente essencial. A medida está em vigor praticamente desde o início da pandemia e segundo Otava é fundamental para travar os casos de COVID-19 no Canadá. Mas parece que alguns políticos não entenderam a mensagem ou preferiram ignorá-la.

Quem viaja é obrigado a fazer uma quarentena de 14 dias no regresso e mais recentemente é agora também obrigado a apresentar um teste negativo à COVID-19 feito nas 72 horas anteriores ao embarque.
A oposição tem exigido um sistema de testes rápidos para que o tempo da quarentena seja reduzido e para que a indústria das viagens possa recuperar. Esta semana a associação que representa o setor lamentou que o Governo não tenha consultado o sector antes de introduzir o novo teste que entrou em vigor na quinta-feira (7 de janeiro).

O Governo, por sua vez, garante que deu às companhias aéreas tempo suficiente para se prepararem para o novo modelo e explica que o teste negativo é importante para controlar novos casos de COVID-19 no país. Quem tentar regressar ao país sem um teste negativo válido terá de cumprir quarentena num local designado pelo Governo e as companhias aéreas que não seguirem as regras incorrem numa multa que pode chegar aos $25.000.

Na terça-feira (5 de janeiro) o PM Justin Trudeau disse partilhar da “frustração e indignação” que muitos canadianos estão a sentir quando percebem que alguns políticos gozaram as suas férias fora do país em plena pandemia, incluindo dois membros da sua bancada liberal que acabaram por ser afastados das suas funções.
O PM não aconselhou os canadianos a viajarem para os EUA para obterem a vacina mais cedo e garantiu ainda que a brecha que algumas pessoas encontraram na lei para beneficiar de um apoio federal de licença médica enquanto estão em quarentena depois de regressar ao país vai ser corrigida. Trudeau recordou que o incumprimento das regras pode significar “consequências reais, incluindo multas e até prisão” e aconselhou os canadianos a não comprometerem o trabalho que foi feito nos últimos 10 meses.

Milenio Stadium - Férias internacionais - canada

 

Na quarta-feira (6 de janeiro), ficámos a saber que o CEO do St. Joseph’s Health System e Niagara Health de Ontário tirou férias nas Caraíbas no final do ano. Tom Stewart, que participou em vários conselhos consultivos de saúde, inclusive um painel do COVID-19 que presta assessoria ao Premier Ford, renunciou à sua posição no painel de saúde e pediu desculpa publicamente.

Sobre o teste negativo à COVID-19 que é agora obrigatório antes de desembarcar no Canadá, apesar das palavras tranquilizadoras do ministro dos Transportes na semana passada, as companhias aéreas foram informadas de que a nova regra não dá às transportadoras a hipótese de permitirem que os passageiros embarquem em aviões com destino ao Canadá se não conseguirem obter um teste negativo no estrangeiro.
Segundo o setor, as únicas exceções permitidas vão ser passageiros que embarcaram em países onde não estão disponíveis testes para os passageiros. Mas, até agora, os serviços consulares do Canadá que estão espalhados pelo mundo ainda estão a determinar a disponibilidade dos testes nas diferentes regiões e países.

Na terça-feira (5 de janeiro) alguns locais como Saint-Pierre e Miquelon, na costa de Newfoundland estavam isentos e não exigiam prova de um teste negativo à COVID-19. As regras não coincidem com o que o ministro dos Transportes anunciou na semana passada aos jornalistas. Marc Garneau explicou que se os passageiros não conseguirem obter um teste negativo à COVID-19 no estrangeiro, ainda assim podiam embarcar num voo para regressar a casa, desde que ficassem em quarentena num local designado pelo governo federal.
As principais companhias aéreas do Canadá enviaram esta semana uma carta ao ministro dos Transportes a alertar para um risco real de que os canadianos fiquem presos no estrangeiro, sobretudo agora que o número de voos é muito reduzido. As crianças até aos 5 anos não precisam de fazer o teste negativo, mas todas as outras pessoas são obrigadas a apresentá-lo.

Na grande maioria dos países estrangeiros os testes podem ser feitos nas 72 horas anteriores ao embarque, mas existe uma pequena lista de países onde o teste pode ser realizado 96 horas antes de embarcar. Na carta em que as companhias aéreas enviaram a Garneau todos dizem que era impossível aplicar as novas regras a partir de quinta-feira (7 de janeiro) e pedem que Otava adie para 18 de janeiro. A carta é assinada pela Air Canada, Westjet e Sunwing e ainda por duas importantes associações comerciais, a International Air Transportation Association e o National Airlines Council of Canada.

O Governo de Ontário anunciou na quarta-feira (5 janeiro) que lançou um novo projeto piloto no Aeroporto Internacional de Pearson para passageiros internacionais elegíveis para desembarcar em Ontário. O objetivo é travar a transmissão da COVID-19 e o programa é voluntário e gratuito. Todas as semanas entram neste aeroporto 60.000 passageiros e os passageiros continuam a ser obrigados a cumprir quarentena, independentemente de terem um teste negativo ou positivo.

Os testes são feitos pelo próprio passageiro, um profissional de saúde acompanha o processo e os resultados estão disponíveis em 48 horas. Segundo o Governo de Ontário o próximo passo é apresentar um projeto piloto com uma quarentena inferior a 14 dias para passageiros que testem negativo à COVID-19.

O Canadá identificou até agora nove casos da variante britânica de coronavírus. De acordo com a Agência de Saúde Pública do Canadá, menos de 2% de todos os casos de coronavírus relatados no Canadá resultam de viagens internacionais.

Ontário

Até agora a lista de políticos que viajou durante a pandemia já ultrapassa uma dúzia, o que nos permite concluir que a maioria dos políticos até cumpriu as ordens. Em Ontário, o caso mais mediático foi protagonizado pelo ministro das Finanças, Rod Phillips, que trocou Ontário pela ilha de St. Barts nas Caraíbas. Phillips disse publicamente que errou e apresentou a sua demissão do cargo quando regressou à província. Enquanto viajava a equipa de assessoria do ministro publicou fotografias e vídeos nas suas redes sociais onde fazia parecer que o ministro continuava em Ontário. No Natal um dos vídeos publicados mostrava o antigo ministro das Finanças à frente de uma lareira num sofá com uma pequena árvore de Natal no lado esquerdo e uma gingerbread e o eggnog no lado direito.

Pouco depois de aterrar no Aeroporto de Toronto Phillips admitiu que as férias nas Caraíbas tinham sido “um erro estúpido”. A opinião pública também criticou o Premier Doug Ford por não proibido o ministro de viajar durante a segunda fase da pandemia. O Premier disse que sabia que o ministro ia tirar férias, mas não sabia que Phillips tinha intenções de se ausentar do país.

Esta semana a imprensa avançou que um outro político de Ontário também fez uma viagem internacional em dezembro. David Sweet, MP Conservador eleito por Hamilton, viajou para os EUA nas suas férias e acabou por renunciar ao cargo de presidente do Comité de Ética da Câmara dos Comuns. O líder do PC reagiu e disse que tinha pedido a todos os membros do caucus para evitarem viagens internacionais durante as férias.
Ainda em Ontário, Kamal Khera, parlamentar Liberal de Brampton-West, também informou que se ia afastar das suas funções como secretária parlamentar do ministro do Desenvolvimento Internacional depois de visitar Washington em dezembro para assistir às cerimónias fúnebres do seu pai e do seu tio. Khera, que é enfermeira de profissão, disse que agora se ia focar na luta contra a COVID-19.

Alberta

Em Alberta, a lista de membros do Parlamento e funcionários políticos que passaram férias em destinos internacionais aumenta a cada dia. O Premier de Alberta, Jason Kenney, disse inicialmente que não ia punir nenhum dos políticos que tinha violado as regras, mas acabou por ser obrigado a reagir. Kenney fez uma declaração com sanções para os membros do seu Governo que fizeram viagens e disse que os habitantes de Alberta tinham motivos para estarem indignados com estes políticos porque o Governo lhes pediu sacrifícios nos últimos 10 meses para manter a população segura. A ministra de Assuntos Municipais, Tracy Allard, que passou férias no Havai, acabou por renunciar ao cargo. Nas redes sociais a antiga ministra deixou uma mensagem em frente ao Parlamento de Alberta. Mas outros membros do Parlamento também foram destituídos das suas funções por terem feito viagens internacionais nas férias. Foi o caso de Jeremy Nixon, eleito por Calgary, que também escolheu o Havai como destino de férias e que acabou por ser informado para regressar a Alberta. Nixon abandou as funções de secretário parlamentar da sociedade civil.

Mas em Alberta a lista não ficou por aqui. Jason Stephan também renunciou ao Conselho do Tesouro por ter viajado para o Arizona. Pat Rehn, que viajou para o México, também perdeu a sua posição no comité legislativo. As fotos de Rehn nas redes sociais a desejar um feliz Natal numa gruta foram muito partilhadas online, tal como os seus vídeos a pedir aos habitantes de Alberta para ficarem em casa e salvarem vidas. Tanya Fir, membro do Parlamento eleita por Calgary, viajou para os EUA para visitar a irmã e embora se tenha desculpado no regresso ao Canadá, acabou por ser afastada das suas funções. A história repetiu-se com Tany Yao, membro do Parlamento eleito por Fort McMurray-Wood Buffalo, que viajou para o México.

O Premier de Alberta também aceitou a renúncia de seu chefe de gabinete, James Huckabay, que viajou para o Reino Unido e voltou pelos EUA no Boxing Day. Dois assessores de imprensa do Ministério da Educação também publicaram fotografias nas redes sociais numa praia no Havai. As contas acabaram por ser bloqueadas e Michael Forian, assessor de imprensa do ministro da Educação de Alberta, também surgiu numa fotografia com outro funcionário no Havai durante o Natal.

O escritório do MP conservador Ron Liepert de Alberta também confirmou que o MP viajou duas vezes desde março para a Califórnia. Liepert explicou que tinha de lidar com “questões essenciais de manutenção de casas”. Em comunicado Liepert explicou que as duas viagens foram essenciais e disse ter cumprido todas as orientações de saúde pública.

Manitoba

O NDP disse a 1 de janeiro que a MP Niki Ashton tinha viajado para o estrangeiro para visitar um membro da família que estava doente na Grécia. O líder do NDP disse que não tinha conhecimento da viagem e garantiu que a MP não tinha informado o partido das suas intenções.

Jagmeet Singh mostrou-se solidária com a doença do familiar da MP, mas informou que tinha de afastar Niki Ashton das suas funções.

A 4 de janeiro o senador conservador Don Plett também fez uma viagem pessoal ao México durante as férias e agora está a cumprir quarentena na sua província natal.

Quebec

O liberal Pierre Arcand e sua esposa voltaram para casa no Quebec a 1 de janeiro depois de serem vistos nos Barbados. Arcand pediu desculpas publicamente e lamentou ter optado por viajar. Embora Arcand tenha explicado que os dois fizeram o teste à COVID-19 antes de embarcarem e antes de regressarem, o Partido Liberal decidiu afastar Arcand das suas funções.

Youri Chassin, do Coalition Avenir Québec MNA, foi apanhado a visitar o marido no Peru. O seu partido divulgou um comunicado onde explica que a viagem foi planeada para encerrar o processo de imigração do seu marido, com o qual não estava há um ano.

O MP Liberal Sameer Zuberi viajou para os EUA em dezembro para visitar o avô da esposa cuja saúde estava a piorar de dia para dia. Zuberi pediu desculpa publicamente e disse que se ia afastar das suas funções.
Outra parlamentar liberal, Alexandra Mendes, admitiu ter viajado recentemente para Portugal. Mendes explicou que a mãe do marido morreu em maio e disse que na altura acabaram por decidir que não era a melhor altura para viajar. Em julho, quando algumas das restrições foram suspensas, a parlamentar viajou para Portugal para lidar com a herança da mãe do marido. Mendes informou que o gabinete do Presidente estava ao corrente das suas intenções e garantiu que cumprido todas as medidas, inclusive a quarentena. Alexandra Mendes nasceu em Lisboa e mudou-se para o Canadá na adolescência. Antes de ser assistente parlamentar de Jacques Saada, Mendes trabalhou alguns anos numa organização que ajudava novos imigrantes. Em 2006, depois de Saada perder as eleições, o Partido Liberal abordou Mendes para concorrer. Alexandra Mendes venceu e agora é MP de Brossard-Saint Lambert. Mendes tem 57 anos, é casada e tem um filho.

Patricia Lattanzio, parlamentar liberal de St-Leonard-St-Michel, viajou em setembro para a Irlanda. Segundo a parlamentar, o objetivo da viagem foi ajudar uma das filhas na mudança para começar a estudar naquele país. A parlamentar liberal Lyne Bessette viajou sozinha no verão para o México para ajudar a família a recuperar os seus pertences. Segundo a parlamentar, os pais tinham viajado para o México, mas com a pandemia voltaram para os EUA por medo que as condições de saúde do seu pai se agravassem. Os pertences dos pais de Bessette incluíam um carro e uma caravana. No regresso ao Canadá a parlamentar fez ainda uma paragem em Massachusetts para finalizar a venda da sua casa. Bessette garante que cumpriu a quarentena e que seguiu todas as orientações de saúde durante a viagem.

Saskatchewan

Joe Hargrave, ministro das Estradas e membro do Parlamento de Saskatchewan disse que viajou recentemente para a Califórnia para finalizar a venda de uma propriedade. O ministro disse que tinha informado o Premier Scott Moe, mas acabou por renunciar ao cargo. Christine Tell, Corrections Minister, também viajou em novembro para a Califórnia e o objetivo da viagem foi visitar um familiar que estava doente.

Joana Leal/MS

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