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Chico Buarque dedica Prémio Camões a “tantos autores humilhados e ofendidos”

Camoes Award ceremony
epa10589453 Brazilian singer, songwriter, playwright, writer and actor, Chico Buarque, during the Camoes Award ceremony at National Palace of Queluz, in Sintra, Portugal, 24 April 2023. Brazilian President Lula is on an official visit to Portugal until 25 April. EPA/ANTONIO COTRIM

 

O autor brasileiro Chico Buarque dedicou o Prémio Camões a “tantos autores humilhados e ofendidos” nos “anos de estupidez e obscurantismo”, lembrando que “a ameaça fascista persiste no Brasil e um pouco por toda a parte”.

Chico Buarque recebeu esta segunda-feira, no Palácio Nacional de Queluz, no concelho de Sintra, o diploma do Prémio Camões 2019, na presença dos chefes de Estado de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, e do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, de vários membros do governo e da diplomacia dos dois países, de dezenas de convidados, numa sessão acompanhada por uma extensa cobertura mediática de jornalistas portugueses e brasileiros.

No discurso de agradecimento, emocionado, Chico Buarque lembrou o pai, o historiador Sérgio Buarque de Holanda, de quem disse ter herdado “alguns livros e o amor pela língua portuguesa”, e que contribuiu para a sua formação política, de esquerda.

Recuando ainda mais na árvore genealógica, o músico e escritor disse que tem nas veias “sangue do açoitado e do açoitador” e antepassados judeus sefarditas, pelos quais disse que “um dia talvez alcance o direito à cidadania portuguesa“.

“Já morei fora do Brasil e não pretendo repetir a experiência”, disse, mas reconheceu que “tem uma porta entreaberta” em Portugal.

Sobre o Prémio Camões, que lhe foi atribuído em 2019, mas só recebeu quatro anos depois, passada a administração do ex-presidente de extrema-direita Jair Bolsonaro e uma pandemia, Chico Buarque dedicou o galardão “a tantos autores humilhados e ofendidos, nestes anos de estupidez e obscurantismo”.

Sobre a presidência de Jair Bolsonaro, Chico Buarque falou em “quatro anos de governo funesto que duraram uma eternidade, porque foi um tempo em que o tempo parecia andar para trás”.

E lembrou que “a ameaça fascista persiste no Brasil e um pouco por toda a parte”.

Na cerimónia, o presidente do júri do Prémio Camões, o académico Manuel Frias Martins, afirmou que o universo criativo de Chico Buarque “tem sempre uma espécie de reserva de energia para recordar mágoas e equívocos das relações humanas e contrariar a violência, a injustiça e o medo”.

“Que a nossa decisão [do Prémio Camões] sirva para reforçar a união de todas as nações que se entendem em língua portuguesa”, disse, agradecendo ao autor de “Estorvo”, “Essa gente” e “Benjamim”, “toda a arte e beleza que trouxe ao longo de seis décadas” de carreira.

A cerimónia chegou a estar marcada para abril de 2020, mas a pandemia da covid-19 obrigou a um adiamento de entrega do prémio, remarcada para hoje, coincidindo com as celebrações do 25 de Abril e com a visita de Estado, de cinco dias, do presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, a Portugal.

Na entrega do prémio estiveram os escritores Mia Couto e Manuel Alegre – ambos Prémio Camões -, a presidente da Fundação José Saramago, Pilar del Rio, a cantora Carminho, a realizadora Teresa Villaverde, o coronel Vasco Lourenço, e o ex-ministro da Cultura, José António Pinto Ribeiro, entre dezenas de convidados da área da cultura.

Depois de Chico Buarque, já foram distinguidos com o Prémio Camões o professor e ensaísta português Vítor Manuel Aguiar e Silva (2020), a escritora moçambicana Paulina Chiziane (2021) e o escritor brasileiro Silviano Santiago (2022).

O Prémio Camões foi criado pelos dois países para reconhecer “um autor de língua portuguesa que tenha contribuído para o enriquecimento do património literário e cultural da língua comum”.

Chico Buarque tem este ano quatro concertos marcados em Portugal: nos dias 26 e 27 de maio, na Super Bock Arena – Pavilhão Rosa Mota, no Porto, e nos dias 1 e 2 de junho, no Campo Pequeno, em Lisboa.

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