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George Pimentel

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George Pimentel. Créditos: GP

Entramos num pequeno estúdio de fotografia em plena Dundas Street e imediatamente percebemos que estamos num lugar especial. As paredes brancas enchem-se do glamour de Hollywood. Robert de Niro, Sofia Loren, Leonardo di Caprio, Angelina Jolie e tantos outros, brilham em imagens a preto e branco. Cheias de beleza as fotografias emolduradas contam várias histórias de uma história de vida – a de George Pimentel. Nascido no Canadá, filho de emigrantes portugueses, naturais da ilha de S. Miguel. George Pimentel é hoje um dos fotógrafos mais bem considerados no mundo dos famosos. E o seu caminho foi sendo desbravado bem cedo, afinal podemos dizer que a fotografia lhe corre nas veias.

George Pimentel abre o sorriso quando falamos do fator família na sua história de vida – “O meu avô chamava-se Sr. Laranja, nascido em Rabo do Peixe, era um fotógrafo. Em 1940, não tinha máquinas, não tinha telemóveis, só tinha vidro, chapa de vidro e ele tirava fotografias com chapas de vidro, em 1940. Mas isto é uma herança familiar. Os meus tios, os meus primos, todos eram fotógrafos. Por isso, quando emigraram para o Canadá, na minha família eram todos fotógrafos e abriram o primeiro estúdio português, na College e Augusta. O meu pai acabou por comprar este prédio. Quando eu era mais novo, nós tínhamos que o ajudar com as comunhões, era um trabalho comunitário, mesmo do outro lado da rua fazíamos os casamentos portugueses e eu fui aprendendo à medida que ia praticando.” 

Os casamentos, as comunhões e todas as atividades ligadas à comunidade portuguesa construíram-lhe o destino. Desde muito pequeno George ajudava o negócio da família, mas cedo percebeu que queria mais. Sentiu que precisava de alargar os horizontes captados pela sua câmara e foi à procura do seu sonho. “Quando eu tinha 16/17 anos comecei a perceber o que realmente queria fazer na minha vida. Tinha muita pressão para continuar com o negócio da família, mas eu sabia que adorava tirar fotografias a pessoas. E sabia que havia mais vida fora do estúdio. Eu queria ver o mundo através da minha câmera. Então fui para a Ryerson estudar fotografia artística. Nunca tinha pensado que precisava da escola, mas acabou por ser a coisa mais importante da minha carreira. Aprendi mais sobre fotografia e aprendi a sonhar em grande. Fui influenciado pelos meus pares e colegas na escola e pensei “se eles conseguem, eu também consigo”. Os meus amigos/colegas da escola já fotografavam para a Vogue Magazine, National Geographic e pensava “então eu vou voltar para o estúdio do meu pai?”. Não, eu queria fazer outro tipo de trabalho. Esse era o meu sonho”.

 

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Um dia surgiu a oportunidade. E o George soube agarrá-la. Afinal Robert de Niro um dos seus ídolos estava ali, bem perto… “Eu amo filmes. Eu cresci a ver filmes, era um grande fã do Robert De Niro, e descobri, através da minha irmã que ele estava na cidade. Eu não sabia nada sobre paparazzi, não sabia nada sobre celebridades, eu era apenas um grande fã e aquele era o momento em que eu podia, finalmente, vê-lo. Levei a minha câmera antiga, a preto e branco, fui para o teatro. Eu tinha medo! Eu tinha vergonha, também. Mas depois vi uma limousine a chegar e Robert De Niro sai de lá de dentro. E eu tirei esta fotografia. E disse a mim próprio: isto é o que eu quero fazer. Mas eu nunca quis ser paparazzi, eu não queria fazer dinheiro, não os queria mostrar. Eu amava o glamour. Eu amava todas as fotografias a preto e branco, tal como o meu avô tirava. Eu acabava por saber onde as celebridades estariam, ficava na porta do palco e esperava, e com prazer fotografava-os, mas sempre com permissão.” 

Estávamos na época em que as celebridades fugiam de fotógrafos. Os paparazzi tornavam-se verdadeiros símbolos de terror para os que precisavam de proteger a sua privacidade. Ganhar dinheiro com fotografias indiscretas e não autorizadas era prática comum. Por isso, ser um fotógrafo aceite e reconhecido pelos famosos, nessa altura, não era vulgar. George Pimentel revela-nos o segredo que até hoje lhe garantiu a credibilidade que tem na sua área de trabalho. “Respeito. Respeito. Eu tive sempre respeito por eles. Eu não estava escondido nos arbustos. Os paparazzi estavam lá, eles estavam lá fora à espera quando as celebridades saiam para dar autógrafos aos fãs, mas eu disse sempre a mim próprio “eu fui criado para respeitar o próximo”, queria algo diferente, por isso sempre lhes perguntei se podia tirar a fotografia, e eles sempre me disseram que sim. Pousavam por dois segundos. E foi assim que eu fiz e consegui todas as fotografias.”

E foi esse respeito que acabou por lhe abrir portas e sorrisos que garantiam conteúdo de excelência e único. “Este negócio tem tudo a ver com relações que se estabelecem – com os managers dos artistas, com os seus agentes e promotores. Eles conhecem-me. Com a Megan Markle, por exemplo, ela viveu aqui durante 7 anos quando apenas uma artista que se queria mostrar. Ela aparecia em todos os eventos e passou a conhecer-me e sabia que podia dar-lhe visibilidade nas revistas. Ela estava a tentar incrementar a sua carreira. Isto antes de ela começar a namorar com o Príncipe Harry. Quando ela ficou noiva eu pensei logo – “eu vou ter que estar nesse casamento”. Viajei para Londres e fiquei na parte de fora do Castelo de Windsor. Quando os noivos saíram do portão ela viu-me. Eu percebi que ela estava surpreendida por eu estar ali. Eu gritei o nome dela e ambos viraram o olhar para mim e deram-me um excelente sorriso. Foram literalmente 2 segundos, mas foi o suficiente para conseguir a fotografia”.

Mas a vida do mundo glamoroso dos famosos tal como a de todos nós entrou também em modo de suspensão quando a pandemia surgiu. George Pimentel voltou à sua cidade, à sua Dundas da infância e saiu para a rua. Sentiu a urgência de registar para a posteridade a angústia, o medo e a incerteza. “Eu comunico através da minha câmera e das minhas fotografias. E agora, com a pandemia, não há celebridades, não há cerimónias de prémios. Eu voltei às minhas origens e voltei a fazer fotografia de rua. Mas em vez de fotografar celebridades, fotografei Covid. Foi importante mostrar ao mundo, o quão importante é aquilo por que estamos a passar enquanto fator histórico.”

Em março de 2019 George Pimentel viu o seu percurso profissional reconhecido pela comunidade portuguesa residente em Toronto. Recebeu o Professional Excellence Award atribuído pela Federação de Empresários e Profissionais Luso–canadianos e George reconhece que foi um momento muito especial – “não importa o que se faça, se é grandioso ou não, não nos podemos esquecer de onde viemos. O meu pai sempre me disse “nunca te esqueças das tuas origens”. E isso é quem eu sou. Sinto-me muito confortável nesta comunidade. Gosto de me sentir integrado na comunidade. Quando aqui estou convivo com velhos clientes, com o padre, vou à padaria… e sinto-me muito bem nesta comunidade. É por isso que nunca sairei deste lugar. Isto é quem eu sou, onde o meu coração está. Enquanto estiver vivo, virei para o 1661 da Dundas Street, entro e faço o meu trabalho.” 

Madalena Balça/MS

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