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Trudeau: Mais popular no estrangeiro ou no Canadá?

 

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A meio de uma pandemia mundial, os eleitores canadianos foram convocados para se dirigirem às urnas no dia 20 de setembro de 2021, contudo o resultado provocou poucas alterações ao panorama político. Trudeau arremessou assim a sua primeira tentativa a um governo de maioria, uma iniciativa recebida com pouco entusiasmo e com um resultado claro de que o público pretendia manter o status quo. Ainda que sem grande desejo de lhe oferecer a maioria, o eleitorado deu-lhe uma oportunidade para acabar o que começou – focando nas diretrizes de contenção da pandemia e da acessibilidade aos cuidados infantis.

Com mais um governo de minoria, os 338 assentos da Câmara dos Comuns foram distribuídos da seguinte forma: 158 assentos para o partido Liberal; 119 para os Conservadores; 34 assentos para o Bloc Quebecois; 25 assentos para o Novo Democrático e dois assentos para os Verdes. Logo, este esforço valeu a Justin Trudeau um assento a mais do que em 2019.

Portanto, o que resta? Uma coligação – que não é coligação. Na verdade, não pode ser considerada uma coligação porque os membros do NDP não vão ocupar cargos no governo federal. Esta aliança entre Trudeau e Singh garantirá aos liberais que governam com o apoio do NDP até 2025, desde que implementem uma lista de prioridades já negociadas e que mantenham a boa-fé.

Os Liberais justificam esta ação com a conjuntura interna e com as crescentes preocupações sobre o custo de vida. Apesar de considerarem não existir tensão política que os impedisse de aprovar legislação, consideram que o processo era demasiado demorado. Então, fechando os olhos aos anos de críticas que um partido exerceu sobre o outro, decidiram trabalhar em conjunto naquilo que os une – acesso à saúde, habitação acessível, questões ambientais e a problemática da reconciliação. No Canadá, formar uma coligação é pouco usual, porque tem tanto de complicado como de arriscado. Com isto, Trudeau garante apoio até ao fim do seu mandato e o NDP garante algum poder, que de outra forma não teria, e a aprovação de certas políticas que priorizam. Por outro lado, a sua credibilidade é afetada e poderá custar-lhes eleições futuras. Neste caso, a atitude tomada por Justin Trudeau parece ser um meio de autoproteção e uma forma de manter os Conservadores à margem.
Uma coligação não é algo necessariamente negativo, pelo contrário, é a democracia em funcionamento.

Diferentes partidos não servem apenas para se oporem uns aos outros, em troca de insultos gratuitos, mas sim para trabalhar em conjunto em políticas que poderão melhorar a condição de vida da população em causa. A própria existência de um governo de minoria exige uma certa colaboração e boa-vontade. Assim sendo, se trabalhar a favor do povo, valerá a pena. É mais importante a correspondência entre o voto do eleitor e a sua preferência em termos de políticas a implementar do que quem as implementa. Num governo de minoria, quem governa vê-se obrigado a procurar apoio, seja em voto por voto, através do voto de confiança ou da formação de uma coligação. É simples, é a natureza da democracia parlamentar.

Contudo, a garantia de um “apoio cego” e o acordo entre os Liberais e o NDP de procederem a consultas à porta fechada pode ir contra as normas e procedimentos parlamentares. Tal como foi anunciado, para garantir que os comités possam continuar o seu trabalho, ambas as partes concordam em comunicar quaisquer questões que possam impedir a capacidade de funcionamento do governo ou causar obstruções desnecessárias. Assim sendo, desde a legislação até aos planos de votação, o trabalho dos comités ocorrerá longe do olhar do público. Apesar de Trudeau deixar em aberto a negociação com outros partidos, a verdade é que com o apoio do NDP já não existirá um incentivo ou até uma necessidade de trabalhar nesse sentido. Poderemos vir a ter em mãos um problema de transparência e ausência de responsabilização governamental.

Depois de vários escândalos políticos que têm vindo a surgir durante os mandatos de Trudeau, tornou-se evidente que o eleitor está a perder a confiança no líder liberal – visível nos resultados eleitorais de 2015, 2019 e 2021, de um governo maioritários para um governo de minoria. Esta coligação pode até ferir ainda mais a sua credibilidade. Segundo um estudo recente do YouGov America, 39% dos entrevistados elegeram Trudeau como o líder estrangeiro da qual tinham uma visão mais positiva. Justin Trudeau corre o risco de se tornar mais popular no estrangeiro do que no Canadá.

Inês Carpinteiro/MS

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