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Presos por lutarem pela liberdade, lutam hoje pela memória coletiva

milenio stadium - 25 de abril

 

Antigos presos políticos alertam para o branqueamento do fascismo e recordam a ditadura do Estado Novo. “Acreditem, foi realmente muito duro.”

Maria José Ribeiro e José Pedro Soares, presos políticos durante o Estado Novo, pagaram com o corpo por lutarem pela liberdade. Contra a censura, contra a guerra colonial, pelos direitos dos jovens e das mulheres. Hoje, lutam para que a memória não se perca e garantem que o fascismo existiu, apesar de haver quem tente “branqueá-lo”. Para eles, o 25 de Abril não foi só a queda de um regime, foi o reconciliar de todo o país. Denunciado por Augusto Lindolfo, membro do Comité Central do PCP, José Pedro Soares foi detido em 1971 e esteve três anos nas “cadeias do fascismo”, recorda ao JN. Esteve em Caxias e depois em Peniche, e foi libertado a 27 de Abril de 1974. Por ser visto como um líder nas ruas, foi muito torturado. Mas nunca denunciou ninguém, garante.

“Eu já devia estar praticamente a morrer quando eles desistiram. Portanto, viram que eu não falava”, conta, incapaz de conter as lágrimas ao recordar esse tempo não tão distante assim. Foi interrogado durante 21 dias seguidos na sede da PIDE, em Lisboa, e só dormiu uma noite. Foram mais de 500 horas de tortura, que deixaram marcas no corpo e na memória. Um dia, recebeu duas visitas inesperadas. Pinto Balsemão e Sá Carneiro, que tinham ouvido os relatos da sua tortura. Aos deputados da Ala Liberal, as manchas que tinha no corpo e o inchaço generalizado falaram por si. “A primeira coisa que fiz foi despir a camisa”, conta.

José foi preso com colegas com quem se reunia em encontros clandestinos. O medo reinava, mas não os travou. No movimento dos jovens trabalhadores, distribuía folhetos, fazia circular o “Avante!”, clandestinamente, e cantava músicas da resistência. Desde cedo que ganhou consciência da falta de liberdade e da opressão do regime. “De quase nada políticos, começámos a politizar-nos”, recorda.

Maria José Ribeiro cresceu sem o pai. Foi com o seu tio, ainda muito pequenina, que deu os primeiros passos na resistência antifascista, Fazendo jus à idade dos porquês, questionava: “O que é o fascismo? O que é ser fascista? É mau?”.

Maria nasceu em janeiro de 1936 e, nove meses depois, o seu pai foi enviado para o Tarrafal por ter participado na Revolta dos Marinheiros. “O meu percurso começou aí. Com o ter de crescer sem pai presente”. Apesar das dificuldades, Maria guarda boas memórias da infância. “Faltava-me tudo, menos amor”. Só conheceu o pai aos 17 anos, e chegaram a ser presos juntos.

Em 1958, integrou uma comissão de apoio à candidatura de Humberto Delgado, distribuiu manifestos, fez pichagens, entre outras formas de apoio. Uns meses depois, tinha uma brigada da PIDE para a ir buscar. “Foi a minha [primeira] prisão e foi o meu crescimento político”. A sua intervenção continuou em movimentos estudantis, nos quais se dedicou às questões de género e direitos das mulheres. À semelhança da alcunha do General, Maria era também uma rapariga “sem medo”.

Foi presa em 1959, 1962 e 1964, na Rua do Heroísmo, sede da delegação da PIDE no Porto. “Foram as minhas três prisões, cada uma de sua cor”. Em 1962, esteve presa durante um mês e foi brutalmente torturada. Foi detida juntamente com o seu pai, por estarem envolvidos numa manifestação ilegal no´Dia da Mulher. “Sadismo, maldade total”, é como descreve a forma como foi tratada na prisão.

CONTRA O ESQUECIMENTO

Atualmente, Maria José Ribeiro e José Pedro Soares lutam pela preservação da memória coletiva e participam em atividades onde contam o seu passado. Recordam Abril com emoção, e nunca se furtam a partilhar as suas histórias.”Acreditem, foi realmente muito duro”, conta Maria José.

CELEBRAÇÕES DO 25 DE ABRIL NA RUA

Lisboa

A habitual descida da Avenida da Liberdade tem início às 15 horas e contará com os líderes de PCP e BE, bem como com a participação de inúmeras associações. A IL agendou o seu próprio evento, que terá a presença da Associação dos Ucranianos em Portugal.

Porto

O Desfile pela Liberdade fará o percurso entre o Museu Militar e os Aliados e começa às 15 horas. O Desobedoc – Mostra de Cinema Insubmisso, que decorre no cinema Trindade e foi dedicado à Revolução, termina esta segunda-feira.

Vila Nova de Gaia

As comemorações municipais começam às 10 horas, com o hastear da bandeira nacional no edifício dos Paços do Concelho. Às 10.30 horas, há um concerto da Sociedade Filarmónica de Crestuma.

Braga

A CGTP promove o evento Abril para as Crianças, entre as 10 e as 12 horas, com iniciativas que incluem a pintura de um mural e pinturas faciais. Às 15 horas, tem início um desfile com concentração na Arcada.

Coimbra

O desfile, entre a Praça da República e o Pátio da Inquisição, arranca às 15 horas. Durante o dia, haverá estátuas humanas alusivas ao 25 de Abril espalhadas pela Baixa.

Setúbal

A União de Resistentes Antifascistas Portugueses deposita uma coroa de flores no Monumento à Resistência, na Avenida Luísa Todi. Em Azeitão, haverá um concerto da banda HMB.

JN/MS

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