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Pimenta de ouro

fernando pimenta- milenio stadium

 

Foco, força, determinação… e muito treino. É disto que os grandes campeões são feitos: mas se lhe juntarmos “Pimenta”, alcançamos outros voos! Ou, melhor dizendo, outras remadas! Fernando Pimenta é o exemplo perfeito de que os sonhos podem mesmo realizar-se – com a ajuda, é claro, de muito querer, esforço e trabalho. No currículo conta já com 121 medalhas alcançadas em provas internacionais – um número impressionante, mas que ainda não é suficiente: o ouro olímpico, assume, é um dos próximos sonhos a ser “carimbado”.

O canoísta português, que integra o restrito grupo de atletas que possuem duas medalhas olímpicas, venceu recentemente a medalha de ouro em K1 5.000 metros nos Europeus, que aconteceram em Munique. Na mesma competição já havia conseguido o bronze em K1 500 metros e a prata em K1 1.000 metros. No início do mês, apesar de ter falhado a revalidação do título mundial, conquistou a medalha de prata em K1 1.000 metros no Canadá, depois de ter sido bronze nos não olímpicos K1 500 metros. Por trás de todas estas conquistas estão, obviamente, muitas horas e dias de sacrifício: aos treinos exigentes – que por vezes chegam a ser quatro por dia – junta-se também a necessidade de, muitas vezes, abdicar de tempo em família.
Mas nada que assuste Fernando Pimenta: afinal, quem “rema” por gosto, não cansa!

fernando pimenta- milenio stadiumMilénio Stadium: O Fernando Pimenta venceu a medalha de ouro em K1 5.000 metros nos Europeus, já depois de ter alcançado o bronze em K1 500 metros e a prata em K1 1.000 metros. O balanço desta competição foi, apesar de ter ido ao seu limite, com certeza positivo…
Fernando Pimenta: Sim, sem dúvida que foi bastante positivo, consegui voltar a fazer um dos meus melhores resultados em Campeonatos da Europa. Em 2002 tinha conseguido o mesmo tipo de classificações – tinha conseguido uma medalha de ouro, uma de prata e uma de bronze – e desta vez também consegui e, como é óbvio, fiquei bastante contente com o meu desempenho, apesar de saber que estive um pouco limitado por causa do número de competições em que participei. Mas basicamente só tenho que estar bastante feliz com o percurso e com o trabalho que foi feito.

MS: Nestes últimos tempos a “agenda”, por assim dizer, do Fernando esteve bastante preenchida. Foram provas atrás de provas… Não houve algum receio que isso pudesse condicionar o seu desempenho nestes Europeus?
FP: Sim, como é óbvio nós sabíamos que isso poderia condicionar o nosso desempenho e os nossos resultados, estávamos conscientes disso. Mas o objetivo desta época também era um pouco isso: tentar sair da zona de conforto e procurar fazer aquilo que nós normalmente não fazíamos. Portanto acho que sim, acho que correu bastante bem.

MS: São já 121 medalhas em provas internacionais… ainda há espaço para mais?
FP: Sim, claro que sim! Há sempre mais espaço e as medalhas internacionais são aquelas medalhas para as quais nós realmente neste momento trabalhamos e que nos focamos. Como é óbvio também gostamos de vencer os campeonatos nacionais e as Taças de Portugal, mas obviamente os campeonatos internacionais são as provas das provas e é aí que nós queremos atingir a melhor performance e muitas das vezes até pomos em causa o nosso sucesso em provas nacionais em prol de conseguirmos ter uma melhor performance em provas internacionais.

MS: Alguma delas o marcou de uma forma mais especial?
FP: As medalhas nos Jogos Olímpicos são medalhas bastante especiais, depois os títulos europeus e mundiais são sempre medalhas que nos deixam mais confiantes e motivados.

MS: Por outro lado, sabemos que existem também pontos menos bons em todas as carreiras. O seu terá sido aquela grande infelicidade que teve no Rio de Janeiro, depois de já ter batido um recorde olímpico?
FP: Sim, no Rio de Janeiro infelizmente tivemos aquele problema das folhas… Depois tivemos que voltar ao trabalho, voltar a pensar e reprogramar tudo. E voltámos da mesma forma como sempre trabalhamos: tentamos sempre trabalhar da forma mais humilde possível. E os resultados estão aí!

MS: Numa publicação na sua conta de Instagram mostrou-se de volta ao trabalho menos de 24 horas depois do título europeu. Determinação é, sem dúvida, o seu nome do meio…
FP: Sim, são objetivos que nós temos e por isso mesmo temos que trabalhar para os alcançar. São objetivos diferentes daquilo a que nós estamos habituados, mas temos que continuar focados e só mesmo com trabalho é que nós conseguimos atingir o sucesso.

MS: O Fernando faz com que pareça fácil ser campeão… mas é claro que todo o sucesso tem muito trabalho por trás. Como é que é, tipicamente, o seu dia a dia enquanto está em competição?
FP: Em competição é a coisa mais simples que existe. É acordar, tomar o pequeno-almoço, preparar as coisas para a prova se não tiver preparado no dia anterior e depois ir para as provas. Basicamente é isso. É estar concentrado, fazer um bom aquecimento, tentar aquilo que se quer fazer em competição. Basicamente é isso.

MS: E em período de preparação?
FP: Depende: temos treinos bi-diários, tri-diários e quadri-diários. Há alturas em que temos três ou quatro treinos por dia. Por isso é que nos dedicamos única e exclusivamente a isto, porque exige-nos muito tempo.

MS: Entre treinos e a competição a sua vida deve ser claramente muito atarefada… Como fica a vida familiar no meio de tudo?
FP: A vida familiar fica sempre um pouco para trás, porque lá está, exige muito tempo, precisamos de estar muito focados e passamos muito tempo também em estágios. Por isso mesmo é que acabamos por ter a nossa vida familiar, às vezes um pouco mais… não é esquecida, mas fica um bocadinho para trás.

MS: O seu maior troféu chama-se Margarida?
FP: Sim, sem dúvida. Sem dúvida que a Margarida é a medalha da minha vida, a medalha da nossa vida, minha e da minha mulher. Sem dúvida que neste momento podemos sentir-nos realizados porque temos uma flor na nossa vida e acho que isso é, sem dúvida, uma das coisas mais importantes.

MS: Gostaria de a ver, um dia, seguir os seus passos e tornar-se também ela uma campeã no desporto? Será que “filha de canoísta sabe remar”?
FP: Sinceramente não sei. No desporto sim, se calhar na canoagem não, porque sei as dificuldades que a canoagem acarreta, sei que não é tão reconhecida como outras modalidades. Por isso, se ela quiser experimentar outras modalidades ou se quiser mesmo seguir canoagem, será uma opção dela, mas, de preferência, se calhar, uma modalidade que tenha outro tipo de retorno e de visibilidade que a canoagem não consegue ter, infelizmente.

MS: Será mais fácil alcançar o ouro do que a canoagem conseguir apoios do Estado, também eles de “alto nível”?
FP: Sem dúvida, sem dúvida. Mas é que não haja dúvidas que é mais fácil atingir uma medalha de ouro num Campeonato do Mundo ou num Campeonato da Europa do que obter o reconhecimento por parte do Governo e por parte dos sucessivos governos – a canoagem e o desporto em geral. Basta ver o investimento financeiro que é feito noutros países na parte do desporto – em Portugal, no ranking europeu estamos nos últimos países com menor financiamento para o desporto, e claro que depois isso vê-se também nos resultados e vê-se também em tudo aquilo que está à volta do desporto, mesmo a cultura desportiva e tudo.

MS: Que apoios tem da Federação?
FP: Da Federação não existe qualquer tipo de apoio, porque a Federação não tem a possibilidade de nos poder dar, por exemplo, um ordenado. Muita gente pensa que nós, atletas da seleção, recebemos – por parte da seleção não, recebemos se estivermos enquadrados com os resultados no projeto olímpico e isso é uma bolsa do Comitê Olímpico, mas da Federação a única coisa que temos é o apoio para as competições, que também é um apoio que vem do Comité Olímpico para a Federação, para a nossa preparação anual. Mas, de resto, não temos mais qualquer tipo de apoio.

MS: Por fim… o que é que ainda há para conquistar? Até onde sonha chegar? Um dos próximos grandes objetivos será o ouro olímpico em Paris?
FP: Sim, sem dúvida que esse é um dos grandes objetivos que temos pela frente e queremos tentar lutar por esse objetivo. Sabemos do nível de dificuldade que é, sabemos que vai ser bastante duro, mas é para isso que estamos cá: é para tentar conseguir atingir esse feito e ter mais um objetivo e um sonho carimbado.

Inês Barbosa/MS

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