
Assunção Fernandes viu um cancro roubar-lhe o filho mais velho, em 2019. Mas, quase três anos depois, e graças a um automatismo, mantém a rotina de responder rigorosamente a todas as mensagens por ele partilhadas todos os dias no Twitter.
“Meu Filho, meu Amor, em vida foste tão discreto no bem que praticavas. O destino, quase três anos depois de partires, fez com que o teu Amor, o nosso Amor fosse conhecido por tanta a gente. Só desejo o que tu desejavas. Que as fronteiras não impeçam o Amor. Amo-vos tanto meus Filhos”. Esta mensagem foi escrita por Assunção Fernandes na segunda-feira, 14 de fevereiro, como resposta a uma publicação automática postada no Twitter do filho, que morreu em 2019, vítima de um cancro no intestino que lhe havia sido diagnosticado um ano antes.
Volvidos quase três anos, Assunção – que o JN tentou contactar, sem sucesso – não deixa passar um dia sem escrever a Pedro. Foi no Twitter que o funcionário público de 43 anos, a viver em Braga, viu a oportunidade de continuar a deixar uma marca diária mesmo depois de morrer. Fê-lo recorrendo a um “bot” (robô), para programar diariamente a publicação de emojis de teleféricos. “Acredito que ele fez isso sabendo que continuaria a postar coisas mesmo após isso (a morte)”, disse o irmão mais novo de Pedro, citado pela BBC News Brasil.
A história de mãe e filho – com a partilha de novidades sobre o dia-a-dia da família e constantes manifestações de amor – ganhou repercussão na semana passada, quando uma das publicações disparou em “gostos” e partilhas, emocionando internautas de todo o país e além-fronteiras.
A escolha das figuras de teleféricos para as publicações automáticas pode ser explicada por uma partilha feita por Pedro em novembro de 2018, também no Twitter. Na altura, lamentou que esses emojis fossem os menos usados na rede social. “Os emojis menos utilizados não podem ser meios de transporte! Luta pelo que é certo”, escreveu.
Solidariedade e sede de conhecer mundo
O retrato que a mãe e o irmão fazem de Pedro Gama é a de um homem solidário e alegre, com vontade de viajar pelo mundo e conhecer culturas diferentes. “Ele sonhava com um mundo sem barreiras. Nunca, desde bem pequeno, admitia as palavras normal ou anormal para classificar as pessoas. Ele dizia que cada indivíduo era diferente e era assim que devíamos aceitar e respeitar”, contou Assunção, que costumava ser ajudada pelo filho na utilização das novas tecnologias que agora usa como meio de partilha.
JN/MS
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